Início do New Deal

Em 5 de março foi implantado o conjunto de medidas econômicas que visava enfrentar a grande crise de 1929. Como os EUA superaram a crise e que paralelos podemos fazer com a atual crise brasileira?

Por
Lara Tannus
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New Deal
“Milhões de trabalhadores desempregados e milhares de indústrias falidas colocaram os EUA frente a uma insurreição popular incontrolável” diz o professor Everaldo Andrade sobre a Crise de 29. (Arte: Renan Braz)

Crises econômicas frequentemente acontecem e afetam muitos setores da economia de um país. Muitas vezes, tomam grandes dimensões comprometendo outras nações. Esse foi o caso da famosa “Crise de 29”, a que se deu pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque e que demandou caminhos diferentes para a economia liberal norte-americana.

O New Deal, conjunto de medidas econômicas idealizadas pelo economista britânico John Keynes, foi implantado pelo governo Roosevelt para enfrentar a crise.

O professor Everaldo Andrade, docente do departamento de história da USP e coordenador do programa de pós-graduação em História Econômica explicou quais foram essas medidas e como foram articuladas. E comentou possíveis comparações com a crise vigente do nosso país.

Serviço de Comunicação Social: Qual foi a estratégia adotada na época para implantar um projeto tão amplo e que envolvia tantos setores da economia? 

Everaldo Andrade: A principal estratégia foi impedir que a economia fosse paralisada pela crise econômica profunda do capitalismo nos EUA. Isso implicava em medidas que contrariavam a ortodoxia liberal. Ou seja, o estado teria agora que explicitamente intervir na economia para salvar o capitalismo. 

Milhões de trabalhadores desempregados e milhares de indústrias falidas colocaram os EUA frente a uma insurreição popular incontrolável. O Estado decidiu investir a fundo perdido na construção de obras públicas e emprego de milhares de trabalhadores em frentes de trabalho, decidiu salvar o patronado capitalista.

Ao mesmo tempo buscou envolver e controlar os sindicatos de trabalhadores para impedir que fosse possível uma saída política independente gerada pelo movimento operários estadunidense. Nesse mesmo período os planos quinquenais na União Soviética demonstravam que uma economia socialista e planificada, ainda que partindo de patamares muito inferiores de desenvolvimento tecnológico e de meios de produção, poderia dar saltos econômicos gigantescos. De fato, sem a intervenção explícita do estado o capitalismo não teria sobrevivido nos EUA.

Serviço de Comunicação Social: O que seria possível adaptar no plano de 1929 que pudesse ser implantado para o Brasil sair dessa crise, além da solução política tão necessária?

Everaldo Andrade: A crise de 1929 e suas terríveis consequências econômicas, sociais e políticas foram uma demonstração de que as teses liberais de que o estado mínimo seria o melhor caminho para o crescimento econômico nunca passaram de uma fraude, de uma ideologia para encobrir a recorrente irresponsabilidade e descompromisso social dos empresários e banqueiros. 

Em nome de negócios fraudulentos, fraudes e sonegações foram erguidas fortunas nos EUA e outros países de então que não correspondiam a desenvolvimento social, empregos e ampliação de direitos para a população. O paliativo para garantir a sobrevivência do capitalismo na época envolvia não só a intervenção do estado para salvar empresas, mas o aumento da disputa por mercados e o crescimento da indústria armamentista que levaria à segunda guerra mundial.

Essas saídas arriscadas estão hoje presentes com o acirramento das guerras armadas, mas também das disputas comerciais que partem diretamente dos EUA. 

O Brasil tem como caminho principal no momento defender a sua soberania nacional, garantir e ampliar direitos para sua população trabalhadora cada vez mais desprotegida pela crise econômica, fortalecer os serviços, as instituições e empresas públicas, combater as imensas fraudes, sonegações e desvios patrocinados por grandes empresários e banqueiros (quase metade do orçamento nacional se destina ao pagamento de juros e amortizações de empréstimos), estes sim os verdadeiros responsáveis por saquear o patrimônio público, são os que buscam reduzir os direitos sociais e econômicos da maioria da população. 

Sem políticas de estado que caminhem no sentido da defesa dos direitos sociais e econômicos da maioria, sequer as empresas brasileiras sobreviverão e retornaremos rapidamente a condição de semi-colônia.