Assassinato de Martin Luther King

Há 50 anos, Martin Luther King era assassinado nos Estados Unidos e entrava para a história como um dos mais importantes ativistas políticos na luta por igualdade racial do mundo

Por
Paulo Andrade
Data de Publicação

 

Assassinato de Martin Luther King (Arte: Davi Morais e Renan Braz)
"Ele foi assassinado, como Marielle Franco, porque frontalmente desafiou essas estruturas do poder", diz o professor Sean Purdy. (Arte: Davi Morais e Renan Braz)


Em 4 de abril de 1968, Martin Luther King Jr. era assassinado nos Estados Unidos e entrava para a história como um dos mais importantes ativistas políticos na luta por igualdade racial do mundo.

As estratégias de desobediência civil do movimento liderado por Luther King nos anos 1960 e seu legado para os direitos civis da população negra dos Estados Unidos foram analisados em entrevista com o professor Robert Sean Purdy, do Departamento de História da FFLCH e pesquisador de História dos Estados Unidos. Confiram:

Serviço de Comunicação Social: As lutas do movimento por direitos civis dos negros nos anos 1960 eram marcadas por ideias de desobediência civil e manifestações pacíficas visando influenciar a opinião pública. Poderia falar um pouco sobre como essa estratégia funcionava? E quais foram as principais conquistas e dificuldades do movimento?

Sean Purdy: Desobediência civil e manifestações pacíficas sob a liderança de Martin Luther King Jr. com a participação em massa da sua base, na sua maioria mulheres negras, dominaram o movimento por direitos civis até meados dos anos 1960.

Desobediência civil foi desenvolvida por King através da influência das ideias do nacionalista e anti-imperialista Mahatma Gandhi, na Índia, e de pensadores norte-americanos do século XIX. Significa o ativo, consciente e público rompimento com a lei para efetuar mudanças na própria lei e em politicas públicas.

King e outras lideranças usaram essa tática contra discriminação e segregação racial através de ocupações de lugares públicos, a violação de leis e ordens da justiça proibindo marchas e boicotes e aceitando serem presos para destacar injustiça racial.

A construção de um movimento de massas conseguiu forçar o governo norte-americano a legislar os direitos civis formais para negros e outras minorias, incluindo principalmente o fim de discriminação e segregação racial e o pleno direito de voto.

Serviço de Comunicação Social: Desde o início de seu ativismo político, Martin Luther King sofreu ameaças de seus opositores, inclusive sendo espionado e ameaçado pelo FBI. Como seu assassinato influenciou os rumos das suas demandas por direitos civis nos EUA? E como isso se refletiu internacionalmente?

Sean Purdy: Apesar do falso retrato de King como altamente moderado e respeitável, sua luta para igualdade negra era radical e enfrentava a feroz oposição de governos, polícia, mídia e estruturas de poder branco.

Ele foi assassinado, como Marielle Franco, porque frontalmente desafiou essas estruturas do poder. Seu assassinato também significou que a luta para justiça racial exigiria mais do que direitos formais apenas, evidenciando que o racismo nos Estados Unidos era estrutural e enraizado na sociedade e na economia.

Nos últimos anos da sua vida, ele mesmo reconheceu isso e tentou ampliar o movimento para focar em direitos econômicos e sociais – para o fim da discriminação e segregação informal e práticas racistas da polícia, para a democracia plena no mercado de trabalho e a construção de um estado de bem-estar. Ele também corajosamente falou contra o militarismo do país e era opositor da guerra do Vietnã.

Internacionalmente, o assassinato de King confirmou que os Estados Unidos era um país extremamente violento e que a justiça social e racial requeria o que ele chamou de uma “reconstrução radical da sociedade”. Não é por acaso que nos últimos anos da sua vida ele se aproximou com outros lideres negros na época, tal como Malcolm X.

Serviço de Comunicação Social: Podemos apontar qual o legado de King na luta contra o racismo no mundo de hoje? Podemos apontar algumas das suas lutas que hoje avançaram e é vista como uma vitória do movimento?

Sean Purdy: O legado de King no mundo de hoje é que somente um movimento radical em massa dos oprimidos e seus aliados que enfrenta, nas suas raízes, racismo e todos os outros males da sociedade pode alcançar vitória. Isto significa a construção de movimentos sociais amplos para pressionar governos para avanços em direitos e igualdade.

A continuidade do racismo nos Estados Unidos mostra que o sonho que King teve de justiça social e econômica para todos os povos está longe de ser alcançado. Por causa disso, novos movimentos como Black Lives Matter são absolutamente necessários para continuar as lutas contra racismo e para plena cidadania especialmente no contexto político atual de retrocessos e um racista aberto na Casa Branca.