Conferência e Workshop com Tiago dos Reis Miranda, Universidade de Évora

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E-mail
cjc@usp.br
Telefone
(11) 3091-2101
Docente responsável pelo evento
Ana Paula Torres Megiani
Auditório / Sala / Outro local
Prédio de Geografia e História (Auditório Nicolau Sevcenko e Sala de Vídeo do Departamento de História). Av. Prof. Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária, São Paulo
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Evento gratuito
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Sem inscrição prévia
Haverá emissão de certificado?
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Haverá participação de docente(s) estrangeiro(s)?
Sim
Descrição

Conferência e Workshop, com Tiago C.P. dos Reis Miranda, professor da Universidade de Évora.
A Cátedra Jaime Cortesão da FFLCH USP/Camões – Instituto da Cooperação e da Língua receberá o Prof. Dr. Tiago C.P. dos Reis Miranda, do Centro Interdisciplinar de História, Cultura e Sociedades (CIDEHUS), da Universidade de Évora, para Conferência e Workshop a serem realizados no início do mês de maio.

Programação:

02/05/2018 (quarta-feira)
14:30 – Conferência
Título: “As livrarias de D. João V: indícios de um projeto comum”
Local: Auditório Nicolau Sevcenko – Departamento de História FFLCH-USP

Resumo:

Em meados da década de 1780, António Pereira de Figueiredo representou D. João V como um vitorioso guerreiro, hábil político, legislador consciente, ardoroso devoto, instituidor de templos e casas professas, impulsionador de grandes obras de engenharia, indústrias e manufaturas, mecenas das artes e das ciências – com um tamanho registo de iniciativas marcantes, quanto impressivo e opulento fora afinal todo o seu longo reinado. Especificamente no domínio das letras, sobressaíam a novidade da Academia da História e quatro livrarias “riquíssimas”, nomeadas em série: a do Paço, a de Coimbra, a de Mafra e a das Necessidades. As orações panegíricas que se seguiram à morte do rei Magnânimo (1750) também já haviam juntado num mesmo topos os investimentos feitos nesses acervos. E uma curta passagem de um testemunho coevo, reproduzida vezes sem conta desde a segunda metade do século XIX, diria depois que, na Ribeira, o monarca empregara imensos recursos em aquisições bibliográficas, acabando, contudo, por “reparti-las” com os palácios-convento dos frades arrábidos e do Oratório. Disseminou-se assim a impressão de que, para além das conveniências retóricas, existiram de facto intersecções importantes entre os processos de fundação ou acelerado melhoramento desses quatro fundos de livros. O extravio dos assentos que mais facilmente permitiriam esclarecer as feições de um projeto eventualmente comum, tem-se vindo a ultrapassar pelo contacto com peças de correspondência de embaixadores e registos de compras sobretudo realizadas no exterior. Acrescem, agora, novos indícios documentais, onde se incluem listas de obras em duplicado, que se deslocam por doação; aquisições recorrentes a grandes livreiros da corte ou de Coimbra; marcas de posse com as mesmas origens, em diferentes moradas do reino, e um pequeno conjunto de personagens da confiança ou valimento do soberano. Cada vez mais se fortalece, portanto, a hipótese de que no alvorecer das “Luzes” em Portugal as bibliotecas usualmente enumeradas para ilustrar o apoio de D. João V ao mundo das artes e das ciências resultaram, em boa medida, de um mesmo esforço palaciano, não apenas para colmatar a relativa falta de livros que se notava em Portugal (motivo de queixa de vários autores prestigiados), mas, principalmente, para garantir ao monarca o que noutro contexto de afirmação de poder absoluto se designou por “estímulo heurístico”, “operador de segurança” ou instrumento “de conjuração do perigo” (Robert Damian, 1995).

03/05/2018 (quinta-feira)
14:00 – Workshop para estudantes e pesquisadores
Tema: “Documentos para a história do Brasil na Era Digital: um olhar prospectivo sobre as fontes do Projeto Resgate”
Local: Sala de Vídeo – Departamento de História FFLCH-USP

Resumo:

Praticamente desde o início do século XIX houve quem se empenhasse em recolher no exterior o maior número possível de originais, cópias ou traslados de documentos, para reforçar aspectos de identidade e legitimar pretensões políticas e territoriais do Brasil. Fizeram parte desse continuado esforço conjunto diplomatas e homens de letras como Antônio Luís de Meneses Vasconcellos de Drumond, Francisco Adolfo de Varnhagen, Antônio Gonçalves Dias, João Francisco Lisboa, José Maria da Silva Paranhos Jr., Guilherme Studart, Alberto Lamego, Manuel Cícero Peregrino da Silva, Luiz Camillo de Oliveira Neto, Gilberto Freyre, José Honório Rodrigues e José Antônio Gonsalves de Mello, entre outros. A partir de finais dos anos ’80 do século XX, lançou-se em Minas Gerais um plano para a microfilmagem sistemática dos manuscritos com interesse para a história do estado, sob a guarda do Arquivo Histórico Ultramarino. Anos mais tarde, essa iniciativa alargou-se a todos os documentos do mesmo acervo relativos à história do Brasil-Colónia, sob o título de “Projeto Resgate Barão do Rio Branco”. A coordenação executiva coube a Esther Caldas Guimarães Bertoletti; a coordenação académica, a Caio César Boschi. Decisivo foi igualmente o apoio metodológico de Heloísa Liberalli Bellotto. Com o tempo, os trabalhos de microfilmagem estenderam-se a mais oito países: Áustria, Espanha, Holanda, França, Bélgica, Itália, Inglaterra e Estados Unidos da América. A maior parte dos produtos dessas “recolhas” está disponível on line, dividida entre dois sites: o primeiro, do Centro de Memória Digital da Universidade de Brasília; o segundo, da Biblioteca Nacional Digital do Brasil. Comumente, porém, o acesso ao “Resgate” realiza-se através da consulta de coleções de CD-Roms existentes em universidades ou centros de pesquisa de referência. E, de um modo geral, pouca atenção se tem dado às condições de constituição desse volumosíssimo banco de imagens e aos tipos de escrita da história que ele legitima. Num momento em que, cada vez mais, as fronteiras se esbatem e o “digital” toma conta do cotidiano, parece haver interesse em relançar o Projeto Resgate, com recursos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Importa, por isso, fazer um balanço do caminho percorrido, sobrepesar o significado de prosseguir o investimento na reprodução de “documentos para a história do Brasil”, e acordar as estratégias de atuação mais adequadas a assegurar a utilidade de todos os materiais reunidos, segundos os melhores princípios da Hermenêutica.

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