As iniciativas englobam diversas áreas, como antropologia, música, estudos africanos, cinema, geopolítica, relações internacionais e linguística
Três projetos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP foram selecionados no 5º Edital Santander / USP / FUSP de Fomento às Iniciativas de Cultura e Extensão, que selecionou 41 projetos que apresentam vínculo com a extensão universitária por meio de ações voltadas para a sociedade para apoiar parcial ou integralmente. O edital é uma realização da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU), em parceria com a Fundação de Apoio a Universidade de São Paulo (FUSP) e com o Banco Santander.
Os projetos da FFLCH são Afro-Sampas: difusão da pesquisa com músicos africanos residentes em São Paulo, Cinema e Comunidade, e Semântica para o Ensino Fundamental: material digital, que englobam diversas áreas, como antropologia, música, estudos africanos, cinema, geopolítica, relações internacionais, linguística. Os projetos receberão até R$ 10 mil para sua produção, com execução de 1º de julho deste ano a 7 de dezembro de 2020, com prestação de contas até 21 de janeiro de 2021.
Conheça um pouco mais sobre essas iniciativas da Faculdade.
O Afro-Sampas: difusão da pesquisa com músicos africanos residentes em São Paulo é coordenado pela professora Rose Satiko Gitirana Hikiji, do Departamento de Antropologia. Ele surgiu a partir da iniciativa intitulada Ser/tornar-se africano no Brasil: Fazer musical e patrimônio cultural africano em São Paulo, desenvolvido desde 2016 no interior do projeto temático O Musicar Local: Novas Trilhas para a Etnomusicologia, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Neste projeto, é pesquisada a imigração africana recente para o Brasil, com foco nas atividades de músicos e artistas africanos residentes em São Paulo. O trabalho é realizado com músicos provenientes de países como República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Togo, Senegal, Angola. São acompanhadas as atividades destes músicos na cidade de São Paulo, como a participação em festivais de música, shows, aulas, além de sua batalha cotidiana para sobreviver no país.
Desde 2016, três filmes já foram finalizados. Tabuluja (Acordem!), no qual Shambuyi Wetu, artista da República Democrática do Congo e refugiado em São Paulo, constrói com suas performances narrativas sobre a experiência da diáspora e a situação do homme noir no mundo.
O segundo filme é Woya Hayi Mawe - Para onde vais, no qual é visto como a moçambicana Lenna Bahule enfrenta as dificuldades de ser música, mulher e negra no Brasil e em Moçambique. E o terceiro filme Afro-Sampas é inédito e por enquanto não está disponível ao público. Mas, os dois primeiros filmes estão disponíveis no site do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA), vinculado ao Departamento de Antropologia.
Além destes filmes, são produzidos artigos, ensaios fotográficos e audiovisuais, que serão apresentados no site do projeto, que será construído com o apoio deste edital da PRCEU e estará finalizado ainda neste ano, mas que continuará sendo atualizado constantemente.
“O projeto dialoga com as áreas da etnomusicologia, da antropologia visual, dos estudos afro-diaspóricos. A divulgação ampla dos resultados da pesquisa será relevante não apenas do ponto de vista científico, mas também como forma de extensão cultural, de ampliação do conhecimento sobre a atuação dos músicos africanos no país, e de divulgação de seu trabalho”, ressalta Rose.
O projeto Cinema e Comunidade é coordenado pelo professor Rafael Antonio Duarte Villa, do Departamento de Ciência Política, e faz parte de um projeto de cultura e extensão já existente chamado Cinema, Geopolítica e Relações Internacionais (CineGRI).
Segundo Villa e a equipe do Cinegri, a iniciativa surgiu da necessidade de promover alguns debates que são muito comuns nos espaços universitários e acadêmicos, mas que muitas vezes ficam limitados a esses espaços e públicos.
“Por outro lado, as consequências das relações internacionais e geopolítica são sentidas cotidianamente pela sociedade e população em geral, por isso a importância de se apropriarem desses debates. O cinema é uma ferramenta acessível ao público para atingirmos esse objetivo, e por isso elegemos essa linguagem em especial”, destacam.
As diversas atividades e eventos são voltadas ao público externo à universidade, jovens, com maior preocupação/enfoque para aqueles que não tenham acesso usualmente aos debates acadêmicos e universitários relacionados à geopolítica e às relações internacionais.
O projeto aborda temas de relações internacionais a partir de uma perspectiva crítica e não tradicional das questões geopolíticas, indo além das pesquisas do seu coordenador, o professor Villa. Pois, de acordo com ele, apesar de temas como América Latina e Segurança Internacional serem importantes para as atividades do CineGRI, o projeto ultrapassa a sua própria agenda de pesquisa.
Concebido há mais de cinco anos, o projeto está evoluindo para ocupar as redes sociais. “Especialmente no período de pandemia, a comunicação virtual é essencial para difusão do projeto”, frisa a equipe do Cinegri.
O terceiro projeto contemplado é Semântica para o Ensino Fundamental: material digital, coordenado pela professora Ana Lucia de Paula Muller, do Departamento de Linguística.
Com este projeto espera-se incentivar as pesquisas aplicadas ao ensino na área de linguística, em particular de semântica nas universidades, contribuir para o ensino-aprendizagem de língua portuguesa na escola e divulgar as pesquisas científicas em semântica gramatical
Ancorado em material resultante do curso de extensão Ensino de Gramática: reflexões semânticas, organizado na FFLCH em 2019, este projeto tem como objetivo a transposição didática de uma seleção de trabalhos acadêmicos sobre a semântica do português para o ensino dessa língua no nível do Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano para um e-book.
O material terá conteúdos e atividades de análise linguística voltado para docentes (e, consequentemente, para seus alunos) do Ensino Fundamental, mas também pretende-se atingir os órgãos oficiais (Secretarias Estaduais e Municipais da Educação), os sindicatos e associações de professores e as escolas públicas e privadas em geral.
O e-book será disponibilizado gratuitamente através do site do Departamento de Linguística da Faculdade e tratará dos temas gramaticais exigidos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC): frase, oração e período; adjetivos; advérbios; o sintagma nominal; o verbo; conjunções; entre outros. O enfoque adotado é o da semântica gramatical – o estudo do significado das categorias morfossintáticas.
Para a edição do material, será realizada uma revisão e ampliação do material já produzido para o curso de extensão citado, que contém 12 aulas, além de uma análise das três coleções de livros didáticos de língua portuguesa mais bem avaliadas na última avaliação do Plano Nacional do Livro Didático para diagnosticar os conteúdos gramaticais ausentes ou tratados de maneira incompleta ou desatualizada. Para cada um dos itens a serem tratados, serão selecionados trabalhos existentes sobre a semântica gramatical da língua portuguesa cuja contribuição será incorporada de maneira didática ao e-book.
Além da elaboração e divulgação do e-book, serão promovidas palestras voltadas para a formações de professores de língua portuguesa do Ensino Fundamental nas escolas que adotarem o material, em eventos de formação de professores custeadas pelas escolas.
Na descrição do projeto enviado à PRCEU é apontada a importância do tema abordado no projeto:
“A análise linguística é a área do ensino de português cuja realização é mais precária, tanto por parte dos professores, como por parte dos livros didáticos. Por um lado, os professores priorizam o ensino das regras da gramática através da memorização e não através de sua compreensão. Por outro, os livros didáticos apresentam conceitos cristalizados e muitas vezes contraditórios. O projeto pretende contribuir com a área de análise linguística”.
Com este trabalho espera-se incentivar as pesquisas aplicadas ao ensino na área de linguística, em particular de semântica nas universidades, contribuir para o ensino-aprendizagem de língua portuguesa na escola e divulgar as pesquisas científicas em semântica gramatical.
