Perseguição política ao Movimento Negro Unificado na ditadura é tema de aula inaugural na Sociologia

Aula inaugural da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP contará com a presença de lideranças do MNU

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Redação*
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Aula inaugural homenageia o sociólogo e fundador do MNU Eduardo de Oliveira e Oliveira – Foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo

O Programa de Pós-Graduação em Sociologia, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP realizará no próximo dia 21 de março, às 19 horas, uma aula inaugural com o tema Ditadura militar e perseguição ao movimento negro na FFLCH-USP. O evento será ministrado por Paulo Henrique Fernandes Silveira, docente da Faculdade de Educação (FEUSP) e pesquisador do grupo Direitos Humanos, Democracia e Memória do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP). ​​A aula dará destaque à figura do sociólogo Eduardo de Oliveira e Oliveira, um dos fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU), em homenagem aos seus cem anos. O evento é gratuito e aberto ao público e terá lugar na Casa de Cultura Japonesa, localizada na Av. Prof. Lineu Prestes, 159, Cidade Universitária, Campus Butantã.

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Paulo Henrique Fernandes Silveira – Foto: Gabriela

A aula irá tratar da formação do Movimento Negro Unificado (MNU) e a perseguição política de seus militantes durante a ditadura militar nos anos 1970. A pesquisa foi feita nos arquivos do Departamento de Ordem

Política e Social (DEOPS) com base nos documentos da Assessoria de Segurança e Informação (ASI), órgão de vigilância vinculado à reitoria da USP. O estudo teve início com a análise de um livro de Abdias do Nascimento intitulado O genocídio do negro brasileiro. A palestra contará com a presença de representantes do movimento, sendo eles Dona Regina, Milton Barbosa e Rafael Pinto.  

O relatório analisado, Painel do Negro, revela o papel de Fernando Mourão, na época docente da FFLCH e diretor do Centro de Estudos Africanos, como informante do governo militar. Ele elaborou um documento sugerindo que lideranças do movimento negro fossem investigadas, como Abdias do Nascimento, Clóvis Moura e Eduardo de Oliveira e Oliveira.

O encontro abordará as consequências desse documento para a carreira de Oliveira, que fazia doutorado na FFLCH. Por conta da perseguição, ele não concluiu seu doutorado, mas teve papel fundamental no meio acadêmico, atuando como coordenador da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Como militante, coordenou a Associação Cultural do Negro (ACN) e o Centro de Cultura e Arte Negra (CECAN). “O Eduardo de Oliveira e Oliveira consegue articular as reivindicações do movimento negro, especificamente norte-americano, à universidade, ao meio acadêmico intelectual e às associações comunitárias”, conta o professor Paulo Henrique Fernandes Silveira.

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Foto: Divulgação

Dentre os objetivos da perseguição interna feita na universidade, Paulo Henrique explica que “havia a preocupação do crescimento de um movimento negro com uma perspectiva socialista. Então, a intenção era coibir toda relação entre movimento negro e as reivindicações socialistas. E evitar qualquer aproximação com o movimento negro dos panteras negras e com o movimento da África do Sul, liderado por Steve Biko, Movimento da Consciência Negra.”

Mais informações: https://ppgsociologia.fflch.usp.br/node/625 

*Texto de Gabriela Varão, da editoria de Diversidade do Jornal da USP