Nem socialismo, nem capitalismo: como Cuba pode superar sua crise econômica?

Pesquisadora analisou o colapso do sistema socialista na realidade cubana e sugere pensar novas alternativas para a economia e a política

Por
Gabriela Ferrari Toquetti
Data de Publicação

Foto: JF Martin/Unsplash

Nos últimos anos, Cuba vem sofrendo com uma grave crise econômica, atrelada à crise mundial. O preço do combustível, por exemplo, sofreu um aumento de mais de 500% neste mês, de acordo com a mídia estatal Cubadebate. Diante das transformações políticas e econômicas no país, a professora Ana Sylvia Maris Ribeiro avalia que o socialismo não é mais uma possibilidade para a realidade cubana. É necessário um novo caminho para a economia que supere tanto os problemas do capitalismo quanto os do socialismo.

Em sua tese de doutorado, Ana Sylvia analisou a história e o cenário econômico de Cuba, passando pela Revolução Cubana e pela aproximação das relações com os Estados Unidos durante o governo de Barack Obama. Com a entrada do presidente norte americano, o fluxo de turismo para Cuba aumentou, sinalizando uma abertura em relação ao mercado mundial.

Porém, com a eleição de Donald Trump e a pandemia de Covid-19, as aparentes transformações econômicas e políticas em Cuba revelaram um cenário de crise. Muitos associaram essa crise ao socialismo, mas, segundo Ana Sylvia, o fenômeno tem origem principalmente nas relações capitalistas de mercadoria e trabalho. Assim, por meio da realidade cubana, a pesquisadora investigou a crise do capitalismo em sua totalidade.

Em 2021, o Estado cubano implementou uma reforma de preços, chamada de Tarea Ordenamiento, que retirou o subsídio dos serviços públicos de primeira necessidade. Antes, esses itens básicos eram fornecidos pelo governo de forma gratuita como política social.

Prateleiras de congelados vazias em supermercado localizado em Miramar, bairro nobre de Havana – Foto: Ana Sylvia Maris Ribeiro/Tese de Doutorado

Hoje, com a crise, a maioria dos cubanos depende de atividades relacionadas à migração e ao turismo. “O sistema não consegue mais se reproduzir sem auxílio externo”, afirma Ana Sylvia. “Infelizmente, o socialismo, da forma como foi historicamente pensado, não é mais uma alternativa ao capitalismo. Precisamos pensar outras formas de sociabilidade que superem as relações de mercadoria e exploração do trabalho”.

A pesquisadora diz que, atualmente, o cenário político e econômico de Cuba não é capaz de comportar nem o modelo socialista, nem o capitalista: “Vivemos em um sistema baseado em relações de trabalho, mas que tem cada vez menos postos de trabalho a serem explorados para gerar uma riqueza capaz de alimentar um país. A conclusão é que precisamos criticar mais o capitalismo e pensar novas formas de superá-lo. O socialismo, hoje, é impossível, pelo menos em Cuba. Mas isso não significa que não devemos apoiar pautas igualitárias e progressistas”.

A tese de doutorado O colapso da Revolução: crítica categorial e catástrofe capitalista em Cuba, escrita por Ana Sylvia Maris Ribeiro e orientada pelo professor Anselmo Alfredo, foi defendida em dezembro de 2023 no âmbito do programa de Pós-Graduação em Geografia Humana na FFLCH.