Júlio César é assassinado

Júlio César foi assassinado por um grupo de senadores sob o pretexto de resgatar a república romana de sua tirania

Por
Renan Braz
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Júlio César
Arte: Renan Braz

Júlio César foi um dos generais mais famosos da história, além de membro da elite romana e político. Durante seu governo (49 a.C. a 44 a.C.) realizou algumas reformas que beneficiaram as classes mais baixas e contribuíram para o aumento de sua popularidade entre a plebe.

Tais medidas incomodaram setores conservadores do senado e motivaram o seu assassinato em 44 a.C., período em que já gozava da condição de ditador.

Seu governo serviu de transição entre o fim da república e o início do império romano, cujo legado cultural permanece até hoje.

Conversamos com Marcelo Rede, docente do Departamento de História da FFLCH, que nos explicou sobre a importância desse momento histórico.

Serviço de Comunicação Social: Em que contexto Júlio César assumiu o poder de Roma?

Marcelo Rede: Durante muito tempo, até fins do século II a.C., o sistema conseguiu absorver as tensões. Embora tenha havido crises profundas e mesmo questionamentos revoltosos, nenhum modelo consistente de novo ordenamento político foi proposto. A aristocracia senatorial conseguiu manter as rédeas do poder e as lideranças da plebe foram incorporadas ao sistema. No entanto, durante o século I a.C. os conflitos políticos no interior desse sistema ganharam uma dimensão mais aguda. Nesse quadro, várias lideranças fortes surgiram. Uma tentativa de acomodar as tensões foi, justamente, partilhar o poder entre essas lideranças e os vários grupos em disputa. Foi assim com o chamado primeiro triunvirato, composto por Júlio César, Pompeu e Crasso, entre 60 e 53 a.C. Mas havia um outro problema: o forte e longo processo de expansão de Roma, dominando praticamente todo o mundo Mediterrâneo e até parcelas do Oriente-Próximo, levou ao acúmulo de poder excessivo nas mãos dos grandes generais. Júlio César é um exemplo maior. Mas esses líderes tenderam a cobrar a fatura de seu prestígio e poder no interior da política romana. De certo modo, há um descompasso entre uma Roma que continuava a ser governada praticamente com as mesmas instituições políticas, incluindo o Senado e os crescentes poderes da Plebe, e, de outro lado, a nova realidade de um vasto império. O fim da República foi muito menos uma “revolução”, como a consideram vários historiadores, do que uma crise para a qual o sistema não conseguiu gerar uma alternativa viável dentro dos quadros tradicionais. É nesse quadro que emerge a figura de Júlio César. Sem ter sido imperador, sua ascensão preconiza a nova ordem monárquica que substituirá a República alguns anos mais tarde.

Serviço de Comunicação Social: O que motivou seu assassinato e quais consequências isso trouxe para a república romana?

Marcelo Rede: Desde o momento em que Júlio César prevalece na Guerra Civil que assolou Roma, ele se torna um líder cada vez mais dotado de poderes excepcionais. Muitos desses poderes eram previstos pelas próprias normas da República, como o imperium e a função de ditador. Em 44 a.C. ele é eleito ditador perpétuo, o que mostra como que vários poderes vão se acumulando em sua pessoa. Além disso, há vários sinais de que alguns grupos e aliados gostariam de ver Júlio César se transformar em monarca. Uma parte da elite senatorial sempre temeu que isso ocorresse, diminuindo sua própria influência. Por outro lado, muitos políticos mais conservadores eram contrários a algumas reformas de Júlio César que beneficiariam a Plebe. O assassinato de Júlio César em março de 44 a.C. foi, em grande parte, uma reação dessas camadas senatoriais mais conservadoras. O resultado, durante mais de uma década, foi uma guerra entre os partidários de César e os responsáveis pelo complô. A seguir, ocorre uma disputa entre os grandes generais e líderes políticos que reivindicavam ser o sucessor de César. Novamente, em 43 a.C., o poder foi partilhado entre três triúnviros: Marco Antônio, Lépido e Otávio. Este último (mais tarde chamado Augusto) levará vantagem, aprofundará a personalização do poder com o Principado e, depois, será o primeiro imperador romano.