Collor confisca cadernetas de poupanças

A hiperinflação tornou o Plano Collor um dos maiores desastres econômicos da História Brasileira

Por
Lara Tannus
Data de Publicação

Collor confisca as cadernetas de poupança
Fernando Collor sofreria impeachment após denúncias de corrupção feitas por seu irmão Pedro Collor de Mello. (Arte: Davi Morais)

Você já imaginou se da noite para o dia não pudesse movimentar seu dinheiro sem ao menos saber o que está acontecendo?

Essa foi uma das medidas do Plano Collor em combate à inflação no Brasil que se iniciou em 16 de março de 1990. O confisco das cadernetas de poupança causou grande impacto em muitas camadas da sociedade brasileira. Após 3 dias de feriado bancário, filas imensas se formavam nas agências bancárias, que não tinham como cobrir os saques dos clientes.

O professor da FFLCH Brasilio Sallum Junior, aposentado do Departamento de Sociologia da USP, nos explica abaixo o significado do Plano Collor e quais foram as consequências dessas medidas para a sociedade brasileira:

“Fernando Collor de Mello foi empossado no dia 15 de março de 1990. Contudo, só na sexta-feira, dia 16, o Presidente lançou diante do seu ministério -- e da população que o acompanhava pelo rádio e pela televisão --  o Plano Brasil Novo com quase duas dezenas de medidas provisórias que pretendiam erradicar a inflação e mudar completamente a vida econômica do País.

O núcleo do Plano Collor, nome pelo qual ficou conhecido, era a medida provisória 168.

Para estabilizar a moeda, que vinha se desvalorizando de forma muito acelerada, chegando a inflação prevista para março a mais de 80%, ela suprimia o poder de compra da moeda de então, o Cruzado Novo, e o transferia para uma nova moeda, o Cruzeiro.

Ao mesmo tempo, pela MP 168 o governo se apropriou de 80% dos ativos financeiros e da moeda em circulação e os depositou no Banco Central, prometendo devolver os depósitos aos seus donos, com juros e correção monetária, em 12 parcelas iguais de cruzeiros que começariam a ser pagas depois de 18 meses.

A apropriação atingiu a quase totalidade das aplicações financeiras - inclusive cadernetas de poupança -- e todos os depósitos em contas correntes que excedessem 50 mil cruzados novos (o que equivalia a 625 dólares no câmbio não oficial. Os 20% que restaram da apropriação foram convertidos em cruzeiros, e podiam ser usados.

Esta reforma monetária - que reduzia brutalmente o dinheiro que circulava na economia - atingiu principalmente as classes proprietárias e empresariais, a classe médias e até as camadas superiores dos assalariados urbanos que tinham depósitos bancários e depósitos em cadernetas de poupança. Mas a grande massa dos assalariados, autônomos, trabalhadores precários e sem emprego -- que sequer tinham contas bancárias ou depósitos significativos -- não foram atingidos.

Esta reforma monetária foi acompanhada de congelamento de preços e de muitas outras medidas. O Plano foi, de imediato, bem recebido população. O Datafolha mostrou que, no dia seguinte, cerca de 60% da população das maiores capitais de estado acreditavam que as medidas eram boas e que a inflação ia baixar. A inflação, infelizmente, voltou a subir a partir de maio de 1990, mantendo-se em nível alto até o final do governo Collor.  

O Plano Collor foi um entre outros planos anti-inflacionários que tentaram, sem sucesso, eliminar a altíssima inflação que caracterizou a economia brasileira desde os anos 1980.

O Plano Collor e os demais projetos mal sucedidos de combate à inflação deixaram lições importantes, assimiladas pela equipe que formulou e implantou com sucesso o Plano Real a partir de 1994, nos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

Do conjunto de reformas do Plano Collor, as mais duradouras foram as de liberalização do comércio exterior e o programa de privatização.”