Massacre em Columbine

Há 19 anos, Dylan Klebold e Eric Harris realizaram um dos massacres estudantis mais conhecidos da atualidade, vitimando 13 pessoas e ferindo outras 24

Por
Renan Braz
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Columbine
"O cerne da questão então é menos sobre a regulamentação do armamento e mais sobre relações sociais de raça, classe e gênero desiguais, hierárquicas e violentas" analisa o professor Sean Purdy. (Arte: Renan Braz)

No dia 20 de abril de 1999, Dylan Klebold e Eric Harris cometeram um dos crimes mais conhecidos da história contemporânea dos Estados Unidos, o massacre de Columbine.

Alunos da Columbine High School, onde a tragédia aconteceu, os adolescentes mataram 12 estudantes e um professor, feriram outras 24 pessoas e se suicidaram.

Após o episódio, a questão armamentista voltou a ser debatida nos Estados Unidos.  Em entrevista, o professor Robert Sean Purdy, do Departamento de História da FFLCH e pesquisador de História dos Estados Unidos, analisou o tema.

Serviço de Comunicação Social: Columbine é um dos massacres mais famosos da história contemporânea. Em sua opinião, houve algum avanço na questão armamentista norte-americana após esse episódio?

Sean Purdy: Depois de cada massacre como Columbine, há questionamentos de políticos e muitos cidadãos sobre a política de armas nos Estados Unidos. Vários estados têm endurecido as leis em relação ao uso de armas, mas os massacres continuam.

O problema é que o debate fica parado somente na questão da regulamentação de armas e não enfrenta outras coisas que contribuem à violência nos Estados Unidos, a mais óbvia sendo que o país vive um estado permanente de guerra no mundo e uma geração inteira de jovens homens têm sido bombardeado por propaganda, filmes etc. que celebram o uso violento de armas.

Na verdade, hoje um terço de todas as casas no país tem armas pessoais comparado a metade de casas em 1979. E mais da metade de todas as armas em circulação pertencem a  somente 3% dos que possuem armas, que têm em média 17 armas cada. Em 2016, houve 11,8 mortes por 100.000 pessoas por causa de armas nos Estados Unidos, número seis vezes maior que no Canadá e 50 vezes maior que no Reino Unido. Porém, temos menos mortes por armas hoje do que em 1968, quando houve 13,5 mortes por 100.000 pessoas, ou em 1993, quando houve 15,2 mortes por 100.000 pessoas. E não devemos esquecer que as maiores vítimas de violência de armas nos Estados Unidos são afro-americanos, tal como no Brasil, mostrando que racismo e relações raciais mais amplamente são questões a serem enfrentadas.

Em suma, o país é extremamente violento e a relação disso com armas é muito mais complexa que somente as leis que as regulamentam.  

Serviço de Comunicação Social: Existe algum fator cultural e/ou constitucional sobre o armamento nos Estados Unidos que dificulte uma resolução para esse debate?

Sean Purdy: Há muitos mitos sobre o papel da cultura e da constituição sobre o armamento. O direito de ter armas, consagrado na Segunda Emenda, em 1791, estava relacionado à questão da necessidade de ter milícias armadas para defesa contra futuros governos tiranos. Não era sobre o direito de ter armas em casa para uso pessoal.

Uma perspectiva histórica sobre essa questão também mostra que são as próprias relações sociais de classe, raça e gênero que explicam porque norte-americanos têm mais armas que todos os outros países do mundo: por centenas de anos, armas nas mãos de brancos foram usadas para reprimir pessoas indígenas e negras durante a escravidão e depois, sem mencionar o uso de armas contra grevistas e movimentos sociais diversos. Aliás, regulamentações de armas no passado foram estabelecidas em grande parte para prevenir que afro-americanos tivessem acesso às armas.

O cerne da questão então é menos sobre a regulamentação do armamento e mais sobre relações sociais de raça, classe e gênero desiguais, hierárquicas e violentas.