Nascimento de Manuel Bandeira

Famoso pela linguagem direta, Manuel Bandeira começou no parnasianismo, mas se consolidou como um dos mais importantes poetas modernistas

Por
Renan Braz
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Manuel Bandeira
"Existe mesmo um ponto fundamental de concordância entre os críticos de Bandeira: o da simplicidade de sua linguagem poética. Isto é, sua lírica, sendo profunda e complexa, seria também misteriosamente acessível" analisa o professor Murilo Marcondes de Moura. (Arte: Renan Braz)

Manuel Bandeira é um dos poetas mais conhecidos da literatura brasileira. Com escrita simples e acessível, seus poemas são diretos e refletem alguns de seus medos pessoais, como o da morte, motivado pelo longo convívio com a tuberculose.

Nascido em 19 de abril de 1886, o escritor foi professor de literatura, crítico literário e tradutor e embora não tenha participado da Semana de Arte Moderna de 1922, teve seu poema “Os Sapos” lido no evento pelo também poeta e político Ronald de Carvalho.

Em entrevista, o professor Murilo Marcondes de Moura, docente do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH USP, comenta a importância do escritor para a literatura nacional.

Serviço de Comunicação Social: Em sua opinião, qual a principal característica do trabalho de Manuel Bandeira?

Murilo Marcondes de Moura: Creio que Manuel Bandeira talvez seja o poeta brasileiro de fortuna crítica mais homogênea. Quero dizer com isso que as leituras de sua obra divergem pouco entre si, certamente muito menos do que as leituras críticas sobre Drummond, Cabral ou Murilo Mendes, por exemplo. Existe mesmo um ponto fundamental de concordância entre os críticos de Bandeira (e isso desde as primeiras resenhas sobre Cinza das horas, o livro de estreia do poeta, em 1917): o da simplicidade de sua linguagem poética. Isto é, sua lírica, sendo profunda e complexa,  seria também misteriosamente acessível. Essa naturalidade de tom talvez seja, portanto, sua principal característica.

Serviço de Comunicação Social: O que diferencia suas obras de outras da mesma época?

Murilo Marcondes de Moura: Drummond denominou certa vez o lirismo de Bandeira de "lirismo confidencial". Acho que ele quis dizer com isso que se trata de uma poesia de interiores, de recolhimento íntimo, mas convidativa e próxima, onde o leitor, cada um de nós, se sente em casa, sempre disposto a refletir, a partir dela, sua própria condição humana. Acho que isso singulariza muito sua lírica.

Serviço de Comunicação Social: Existe algum fato ou curiosidade na vida pessoal de Manuel Bandeira que influenciou seus poemas?

Murilo Marcondes de Moura: A obra de Bandeira sempre foi porosa como poucas à experiência biográfica. Assim, vários dos acontecimentos de sua vida são constantemente sublinhados (pelos estudiosos e por ele mesmo), em especial a tuberculose, contraída quando ele tinha apenas 18 anos e que marcaria para sempre sua prolongada existência e também seu imaginário de poeta.

Serviço de Comunicação Social:  Este ano sua morte completa 50 anos. Em sua opinião, qual a influência de Manuel Bandeira na poesia contemporânea?

Murilo Marcondes de Moura: Acho que Manuel Bandeira é um dos poetas mais influentes de toda nossa tradição, e isso desde pelo menos os anos de 1930. Acho que a sensação de autenticidade, de coisa genuína, atravessa fundamente seu trabalho e por isso nos toca a todos em diferentes épocas.