Tiradentes é executado

Tiradentes é o nome mais lembrado quando falamos em Inconfidência Mineira e o único inconfidente condenado à morte

Por
Renan Braz
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Tiradentes
"Denunciados por Joaquim Silvério dos Reis, muitos envolvidos foram presos e condenados, mas apenas Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi executado, tendo seu corpo esquartejado para exemplo dos demais moradores" explica o professor Rodrigo Monteferrante Ricupero. (Arte: Davi Morais)

Enforcado em 21 de abril de 1792, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi o único inconfidente executado pelo governo. A associação de Tiradentes como símbolo de heroísmo e mártir da Inconfidência Mineira foi discutida em entrevista com Rodrigo Monteferrante Ricupero, docente do Departamento de História da FFLCH USP, que ajudou a desmistificar um pouco o tema.

Serviço de Comunicação Social: Por que Tiradentes é o nome de que nos lembramos quando falamos em Inconfidência Mineira?

Rodrigo Ricupero: A chamada Inconfidência Mineira foi o primeiro movimento que tinha como objetivo a independência frente a Portugal. Do movimento, que não chegou a ser colocado em prática, participaram personalidades importantes da capitania de Minas Gerais como os poetas Cláudio Manuel da Costa, Antonio Tomas Gonzaga e Inácio José de Alvarenga Peixoto, além de outras pessoas de maior ou menor relevo. Denunciados por Joaquim Silvério dos Reis, muitos envolvidos foram presos e condenados, mas apenas Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi executado, tendo seu corpo esquartejado para exemplo dos demais moradores.

Por ter sido o único dos participantes que foi executado, Tiradentes acabou, com o tempo, tornando-se símbolo do movimento e transformado em mártir da luta pela independência do Brasil. Após a proclamação da República, a figura de Tiradentes foi resgatada como herói nacional e em 1965, em plena Ditadura Militar, o dia da execução se tornou feriado oficial.

O fato de ter se tornado um herói oficial fez com que certa historiografia mais crítica tenha criado uma espécie de contra narrativa que visava diminuir a importância do personagem. Após o fim da Ditadura, a exaltação oficial de Tiradentes também diminuiu, salvo em Minas Gerais.
De toda forma, nos parece ser preciso matizar o balanço histórico, fugindo dos extremos, resgatando uma figura das mais interessantes desse momento simbólico de tomada de consciência da situação colonial.

Serviço de Comunicação Social: Mesmo após sua execução, os movimentos de independência no Brasil continuaram. Por que isso aconteceu? Tiradentes teve influência nisso?

Rodrigo Ricupero: A insatisfação com a situação colonial e as tensões decorrentes da rivalidade entre portugueses do Brasil e de Portugal continuou crescendo na virada do século XVIII para o XIX, tanto por influência direta da independência dos EUA e da Revolução Francesa, como por influências das ideias liberais que chegavam ao Brasil.

A vinda da família real para o Brasil em 1808, com a instalação de D. João VI no Rio de Janeiro, provocou uma certa acomodação, ainda que não tivesse impedido a eclosão da Revolução Pernambucana de 1817. De toda forma, a Revolução do Porto de 1820 e a volta de D. João VI para Portugal acabaram por escancarar as tensões que, por fim, levariam à proclamação da independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, num processo atípico se comparado às demais colônias americanas, particularmente pelo protagonismo de D. Pedro, filho e herdeiro do rei de Portugal.

Neste processo, tanto a Inconfidência Mineira, como Tiradentes, não tiveram nenhum papel em especial, pois como foi dito anteriormente, tanto o movimento, como seu personagem emblemático, só foram resgatados após a proclamação da República.