FFLCH outorga título de Professora Emérita a Maria Hermínia Tavares de Almeida

Maria Hermínia é docente aposentada da FFLCH e do IRI, pesquisadora sênior do Cebrap, além de autora de livros, colunista e pesquisadora nas áreas de políticas públicas, opinião pública e política externa

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Astral Souto
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Nesta tarde, 22 de março, ocorreu a cerimônia de entrega do título de Professora Emérita a Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora aposentada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP. 

A professora entrou sob aplausos na Sala do Conselho Universitário junto com seus padrinhos, os eméritos Gabriel Cohn e Sergio Miceli. E foi recebida pela mesa composta pelo professores Paulo Martins, diretor da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP, Rafael Antonio Duarte Villa, chefe do Departamento de Ciência Política, Fernando de Magalhães Papaterra Limongi, do Departamento de Ciência Política, e Marie Márcia Pedroso, assistente acadêmica da FFLCH. 

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Foto: Lívia Lemos

Paulo Martins iniciou apontando como Maria Hermínia foi essencial na criação do Departamento de Ciência Política da FFLCH e explicou a importância do título de Professor Emérito e das dificuldades que cada professor tem para chegar até essa designação. 

Na sequência, Fernando Limongi contou sobre a jornada de Maria Hermínia como aluna, professora e pesquisadora. Ele comentou a história da professora que, por razão do regime militar, não conseguiu seguir sua carreira acadêmica na USP, apesar de ter se formado em Ciências Sociais na FFLCH em 1969. Somente em 1974 a professora conseguiu iniciar sua carreira docente, na Unicamp, onde liderou a implantação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Ainda na Unicamp, Maria Hermínia criou o programa de Ciências Políticas. Em 1996, já na USP, assumiu a chefia do Departamento de Ciências Políticas da FFLCH, após ter feito parte de sua formação. Limongi também frisou que ciência política brasileira não seria o que é hoje sem sua atuação: “Maria sempre lidera, sempre cria, sempre inova”. 

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Foto: Lívia Lemos

Maria Arminda também enalteceu a professora homenageada: “A relevância de seu trabalho e a qualidade da sua atuação, nos mais diversos campos, é absolutamente impressionante”. A vice-reitora falou sobre sua amizade com a Professora Emérita e ainda brincou com o fato das duas sempre serem confundidas: “É uma amiga leal, solidária e afetuosa. Sempre éramos confundidas e eu ficava muito honrada com isso”. 

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Foto: Lívia Lemos

Quem é Maria Hermínia Tavares de Almeida?

Maria Hermínia é professora aposentada do Departamento de Ciência Política da FFLCH e do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, pesquisadora sênior do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), além de autora de livros e pesquisas na área de políticas públicas, instituições políticas, opinião pública e política externa.

Confira abaixo texto do professor Fernando Limongi:

"A Professora Maria Hermínia Brandão Tavares de Almeida desempenhou papel central na formatação e desenvolvimento da Ciência Política no Brasil. Sua contribuição para a implantação do Departamento de Ciência Política é incomensurável. Assim, a concessão do título de Professora Emérita a Maria Hermínia é um reconhecimento natural de sua liderança e papel dentro da Universidade de São Paulo e no mundo acadêmico nacional e internacional.

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Foto: Lívia Lemos

Em sua carreira, a Professora Maria Hermínia se destacou pela sua contribuição acadêmica e pelo desempenho de várias posições institucionais. Graduada em Ciências Sociais pela USP nos fins dos anos sessenta, Maria Hermínia completou sua formação no Chile, na Facultad Latino Americana de Ciências Sociales – FLACSO. Retornou ao Brasil e ao DCP para obter o título de doutora em 1979. O seu trabalho de doutorado se insere em uma profícua e original linha de investigações sobre as especificidades da formação e da atuação política da classe trabalhadora no Brasil moderno.

Sua tese, intitulada Estado e Classes Trabalhadoras no Brasil (1930-1945), orientada por Francisco Weffort, dialoga e complementa a agenda de pesquisa de seu orientador e de alguns de seus mestres mais ilustres, como Leôncio Martins Rodrigues, Azis Simão, Juarez Lopes Brandão, para citar apenas os mais diretamente relacionados à temática tratada. Se alargarmos o foco, o trabalho pode ser situado dentro da agenda de trabalhos da primeira geração de pesquisadores formados dentro da tradição das cadeiras de Sociologia II e de Política, a saber, a de identificar as peculiaridades da formação histórica do Brasil e, mais especificamente, do processo de formação das classes socais e da ordem industrial no país. Maria Hermínia contribuiu decisivamente para esse debate por meio de uma leitura mais atenta e historicamente situada da interação entre as estruturas estatais e o movimento sindical, abrindo as portas para o abandono de visões reducionistas do papel do Estado. 

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Foto: Lívia Lemos

As restrições políticas vigentes impediram que Maria Hermínia iniciasse sua carreira acadêmica na USP, forçando-a a buscar abrigo na recém-criada Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde permaneceu entre 1974 e 1987. Nesta instituição, foi responsável direta pela montagem do curso de graduação e, mais importante, pela estruturação da pós-graduação. Esse trabalho pioneiro e verdadeiramente inovador se provou fundamental para a incorporação da ciência política à UNICAMP e à USP. Do ponto de vista institucional, Hermínia contribuiu ainda naquele momento para a criação e consolidação da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais – ANPOCS.

No plano acadêmico, em sua passagem pela UNICAMP, Hermínia se destacou pela introdução e disseminação dos estudos de políticas públicas. Sua contribuição para a implantação desse campo de estudos no Brasil foi e continua a ser enorme. No interior do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas – NEPP, por ela criado e dirigido, formou-se uma geração de pesquisadores que contribuiu decisivamente para a definição da agenda de pesquisas que marcou esse campo. 

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Foto: Lívia Lemos

Em 1988, com a criação do Departamento de Ciência Polícia, transferiu-se para a USP, onde deu continuidade às suas atividades acadêmicas, além de manter sua inesgotável e notável capacidade de construção institucional. Basta dizer que Maria Hermínia foi responsável direta pela bem-sucedida estratégia de renovação geracional do departamento e, ao mesmo tempo, pela ampliação dos enfoques e perspectivas contempladas pelo Departamento. Seu investimento institucional também pode ser reconhecido na liderança na sua participação na criação, no início da década de 1990, Programa de Política Internacional e Comparada. 

Dentre seus trabalhos acadêmicos, destaca-se sua contribuição decisiva para integrar os estudos sobre políticas públicas, federalismo e reformas do Estado pós-redemocratização. Basta dizer que seu artigo seminal sobre o tema, “Federalismo e Políticas Sociais” publicado em 1995 na Revista Brasileira de Ciências Sociais é o artigo nacional de ciência política com o maior número de citações acadêmicas. Seu livro, Crise Econômica e Interesses Organizados, publicado em 1997 pela EDUSP, resultado da tese de Livre Docência defendida na USP dois anos antes, discute de forma aprofundada os dilemas enfrentados pela nascente ordem democrática brasileira.

Em resumo, por sua inestimável contribuição à Ciência Política brasileira, Maria Hermínia Brandão Tavares de Almeida faz jus ao reconhecimento de seus pares com a concessão do título de Professora Emérita."

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Fotos: Lívia Lemos

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O evento completo está disponível no canal da FFLCH no Youtube: