Monteiro Lobato escreveu uma obra de importância inestimável para a cultura brasileira. Não somente foi o precursor da literatura para crianças no país, como também foi responsável pela criação de nossa primeira editora e pelo crescimento do mercado editorial no Brasil. Analisou, de maneira arguta e perspicaz, o ethos brasileiro do início do século XX, que, infelizmente, em suas idiossincrasias precárias, não mudou muito pelo que podemos perceber nestes primeiros decênios do século XXI. Polêmico, Lobato teve e ainda tem sua obra questionada a partir de leituras deletérias que apontam em seus livros preconceitos e discursos contemporaneamente ditos politicamente incorretos, desconsiderando o seu projeto literário, o contexto sócio-histórico de produção e, principalmente, desconhecendo a faceta mais louvável em um ser humano que se dedique a construir e divulgar conhecimento: a capacidade de rever, de corrigir e, por conseguinte, de aprimorar suas ideias e as obras delas resultantes.
O livro Monteiro Lobato: Arte e Pensamento (2021) constitui-se como a culminância de um processo de pesquisa vinculado ao Grupo de Estudos Literários Comparados (GELC), o qual se desenvolveu por quase seis anos dentro do Departamento de Letras da UFRPE. Nesse período, foram trabalhados dois projetos, motivados pela inquietação de leitura das duas autoras em relação à obra de Lobato: “Monteiro Lobato: literatura e fantasia ilustram e formam novos leitores” e “A literatura infantojuvenil no Brasil: ecos do imaginário lobatiano”, com os quais se envolveram dez alunos pesquisadores, alguns vinculados ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), outros, ao Programa de Iniciação Científica (PIC) e, ainda, alguns vinculados ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), todos orientados a serem pesquisadores críticos e autônomos.
Nossa fala se propõe a compartilhar a nossa metodologia de pesquisa, a qual acreditamos ser a mais coerente possível com os métodos de estudo e pesquisa que o próprio Monteiro Lobato demonstrava cultivar, valorizando a profundidade, a liberdade e a criticidade nas leituras e colocando a literatura como principal norteador dos caminhos da pesquisa – antes de qualquer texto teórico ou crítico. Além disso, comentaremos sobre os temas dos capítulos, que estão divididos em duas partes. A primeira parte, “Lobato escritor e formador de leitores”, traz dez capítulos que se voltam a especular as ideias de Monteiro Lobato sobre formação de leitor e sua importância como precursor da literatura infantil e voz de influência para a construção do imaginário de outros autores que escreveram para o público infantil, além das percepções de uma possível pedagogia em Lobato, bem como para as estratégias estéticas de que se valia para cativar e ensinar as crianças em seus livros. A segunda, “Lobato crítico de arte e pensador político-cultural”, apresenta seis capítulos que ensejam reflexões sobre sua faceta de crítico literário e crítico de arte, analisam a obra Histórias de Tia Nastácia (1937), debatendo sobre cultura popular, matriarcado, folclore e sobre o protagonismo da personagem negra Tia Nastácia, além de discutir visões políticas e culturais de Lobato tanto na sua obra literária adulta quanto na que se volta para o público infantil.
Nesta edição dos Encontros do Lobato, teremos extraordinariamente a apresentação e debate protagonizados pelas professoras Dra. Patrícia Aparecida Beraldo Romano (UNIFESSPA) e Dra. Raquel Endalécio Martins (UFRR), ambas integrantes do Observatório Lobato.