Na atualidade, especialmente, o fenômeno religioso e o político se expandem e potenciam em diferentes práticas e formas de mediatização, com novos modos de ser que afetam as práticas sociais. Neste cenário, venho a compartilhar algumas reflexões a partir de uma pesquisa em andamento, intitulada “Mediatización, Religión y Política en Argentina, Brasil y Uruguay. Semiosis de transfiguraciones y substitución sígnica de lo político por lo religioso”. Esta reflexão, a partir da perspectiva semiótica, visa a avançar na compreensão das transfigurações e substituição sígnica da semiosfera política pela semiosfera religiosa, articulada, normalizada pelos sistemas narrativos postos em circulação pelos processos de mediatização. Não me refiro a que representantes políticos tenham uma ou outra afiliação a uma determinada religião, senão, à entrada de outro plano, o divino, como espaço de política. Nesse sentido, vou transitar pelos contextos eleitorais imediatos (pré-eleitoral e pós-eleitoral) na Argentina, Brasil e Uruguai. É o encontro da política com a religião e da religião com a política, ressignificando a Política, Estado, Governo, governança, a laicidade, o eclesiástico, etc.
Entendo a necessidade de analisar essas dinâmicas no entretecido de signos, a partir da semiótica, que permite avançar nos enquadramentos de sentido, para compreender como o transcendental-divindade toma conta do lugar da política. Há signos indiciais discursivos onde o religioso e o político se expressam, prolongam e entretecem midiaticamente, e os operadores de sentidos acionam a transfiguração da esfera política pela religiosa. São disponibilizados, nessas circulações de sentidos, sistemas de linguagens que potenciam a substituição-ressignificação. A tensão entre ambas as esferas se dá pelas interpenetrações (microfísicas) que potenciam uma em detrimento da outra, há uma exclusão. Poderíamos inferir de que se está desenhando uma outra política, outro sentido de polis, em intensa aceleração. Caminhar nestas reflexões possibilita ressignificar as ações cotidianas nas conexões geopolíticas das plataformas discursivas envolvidas no risco da democracia pela transmutação religiosa-política nas sociabilidades contemporâneas.
