Os resultados de uma pesquisa que ouviu 90 frequentadores ou moradores da ‘Cracolândia’ serão apresentados e discutidos em seminário que será realizado no dia 21 de novembro, às 18h30, no Teatro de Contêiner, localizado no bairro da Luz, Centro de São Paulo. O relatório “A ‘Cracolândia’ pelos usuários: como as pessoas que vivem nas ruas do território percebem as políticas públicas” detalha a pesquisa e foi publicado pelo Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getulio Vargas (NEB-FGV), pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM), sediado na Universidade de São Paulo (USP), e pelo Grupo de Estudos (in)disciplinares do corpo e do território (Cóccix).
O relatório é fruto de uma pesquisa qualitativa, cuja coleta de dados foi realizada por Giordano Magri, pesquisador júnior do CEM e do NEB-FGV e Amanda Gabriela Amparo, pesquisadora do Cóccix. Ambos já realizavam pesquisas etnográficas na Cracolândia, o que garantiu a inserção no território necessária para a realização das entrevistas com pessoas em situação de rua da região. Também participaram do estudo Flávio Eiró, professor de antropologia da Vrije Universiteit Amsterdam, e Gabriela Lotta, pesquisadora do CEM e coordenadora do NEB-FGV.
Participam do evento Luana Alves, vereadora do PSOL em São Paulo; Taniele Rui, professora do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Renato Oliveira, que frequenta regularmente o fluxo. A entrada no seminário é gratuita, aberta a todos os interessados e não há necessidade de inscrição prévia.
Situação dos entrevistados evidencia as falhas das políticas públicas
As entrevistas foram realizadas entre 15 de julho e 15 de agosto de 2022 em pelo menos oito pontos distintos do território onde se observa as atividades do chamado fluxo da ‘Cracolândia’, em horários também diferentes, de forma a alcançar um perfil diverso de pessoas que circulam pela região. Algumas entrevistas, inclusive, foram feitas em movimento e em outras houve até mesmo a interferência da violência policial.
O período de realização das entrevistas coincide com o início da política de ‘espalhamento’ do fluxo, com intervenções semanais das forças de segurança, o que criou, na época, pelo menos 16 cenas de uso de drogas. Desde então, a repressão policial e a circulação de pessoas pela região seguem existindo, e soluções violentas são mantidas na agenda política da cidade.
Dos 90 indivíduos entrevistados, mais de 80% são pessoas negras, com a maioria tendo entre 30 e 49 anos. Grande parte (69%) dorme nas ruas, quase 40% estão na região por vontade própria e metade mantém contato com a família. A pesquisa identificou um esforço dos indivíduos para gerar renda: mais de dois terços dos entrevistados realizam atividades produtivas regularmente, como reciclagem e venda de objetos.
Mais de 90% dos respondentes relataram fazer uso de crack. Sete em cada 10 entrevistados já foram internados pelo menos uma vez – há casos de usuários de crack que chegaram a se internar mais de 30 vezes. As principais razões para o abandono das internações incluem o fim do prazo sem suporte pós-tratamento, abstinência forçada e más condições nas instituições, realidade que evidencia a necessidade de repensar as abordagens de tratamento, considerando as perspectivas e necessidades dos próprios usuários.
A violência policial é apontada como um fator agravante das condições de vida dos moradores e frequentadores dos territórios da ‘Cracolândia’. A Inspetoria de Operações Especiais (IOPE) da Guarda Civil Metropolitana foi mencionada pelos entrevistados como a força mais agressiva. O aumento da presença policial, combinado com o fechamento de serviços de cuidado, têm intensificado as tensões na região. A política de dispersão adotada a partir de 2022 resultou no espalhamento das cenas de uso de drogas pela cidade, amplificando os problemas e gerando impactos negativos para os usuários e para a comunidade local.
O relatório está disponível na íntegra no site do CEM. Clique aqui para acessá-lo.
Serviço:
Seminário de Apresentação e Discussão do Relatório
“A ‘Cracolândia’ pelos usuários: como as pessoas que vivem nas ruas do território percebem as políticas públicas”
Onde: Teatro de Contêiner Mungunzá
Endereço: Rua dos Gusmões, 43, Santa Ifigênia, São Paulo
Quando: Quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Horário: 18h30