Dia Internacional da Mulher

Entrevistamos a professora Heloísa Buarque de Almeida para a data que simboliza a luta dos movimentos feministas

Por
Astral Souto
Data de Publicação

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Arte por Astral Souto / Está presente na imagem Lélia Gonzalez, Simone de Beauvoir, Malala Yousafzai, Silvia Federici, Patricia Hill Collins e Chimamanda Ngozi Adichie.

No dia 8 de março de 2018, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP publicou uma edição do Hoje na História sobre o Dia Internacional da Mulher, em que entrevistou a professora Heloísa Buarque de Almeida, do Departamento de Antropologia da FFLCH. Na ocasião, a professora apresentou um panorama histórico sobre a luta feminista naquele momento. Agora em 2025, conversamos novamente com ela sobre como a sociedade e as pautas feministas avançaram desde então.

De 2018 até hoje

O pensamento geral sobre a origem do feminismo, e consequentemente o Dia Internacional da Mulher, é sempre tomando a perspectiva das mulheres brancas de classe média. A pauta pelo direito de trabalhar e formar uma carreira de sucesso longe da sombra do marido é sempre destacada como uma das grandes vitórias dessa luta social. De fato, essa conquista foi um grande passo e de grande importância para esse recorte de mulheres. Entretanto, o trabalho braçal, sem boa remuneração e que, na maioria das vezes, não atendia as necessidades básicas de sobrevivência, já era uma realidade na vida de mulheres negras e pobres. Esse pensamento está em declínio dentro do movimento, que está aos poucos mais plural e abrangente. Segundo Heloísa, não existe apenas um movimento feminista unificado, mas vários movimentos feministas. Hoje em dia, a luta feminista está cada vez mais atrelada ao agrupamento de diversas pautas como a luta antirracista, contra a homofobia, anti capacistista, antitransfóbica etc. A diversidade é essencial para o feminismo atual, mesmo que alguns grupos feministas rejeitem ou tenham um pensamento contrário a outros. 

Direitos das mulheres na USP 

Em 2018, Heloísa apresentou a “Rede Não Cala”, um projeto autônomo de mulheres que foi criado para acolher tanto alunas quanto professoras vítimas de violência de gênero. Atualmente, a rede continua ativa, atende diversas mulheres e, aos poucos, a USP tem produzido propostas de inclusão para amenizar as desigualdades de gênero. A professora explica que a universidade está criando medidas para lidar com a desproporção entre professores e professoras. Também foi implementada uma nova forma de avaliação de progressão horizontal de professores que não prejudique docentes grávidas, além da inclusão de licença a maternidade nas bolsas Fapesp e CNPq. Segundo Heloísa, a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) está montando um projeto, que ainda não foi divulgado, para cuidar de casos de assédio moral, sexual e outras formas de violência nas relações entre pessoas na Universidade.

Violência contra a mulher

No Dia Internacional da Mulher, a luta contra a violência de gênero é um tema clássico. Para a docente, a conscientização sobre assédio tem avançado muito: “Quando eu comecei a pesquisar sobre assédio sexual, ainda era tudo muito vago. O que significa exatamente assédio? Agora, a gente tá falando cada vez mais nesse tema. No carnaval, por exemplo, a campanha ‘não é não’ acontece todos os anos. Você vê alguns blocos de carnaval com equipes de guardas municipais para o enfrentamento do assédio”. O que antes era nomeado como uma cantada ou paquera mais agressiva, hoje, em termos legais, é conhecido como importunação sexual por meio da lei implementada em 2018.

Então, como hoje se conhece e é possível punir violências mais agressivas como violência doméstica e o próprio assédio, nos últimos anos tem-se notado a existência de violências silenciosas e que são mais difíceis de serem identificadas. A violência psicológica, patrimonial, moral, ou o assédio online - como o vazamento de nudes - são exemplos dessas agressões que exploram, oprimem e humilham as mulheres. Apenas a partir do avanço dos movimentos feministas elas puderam ser detectadas e os autores punidos. 

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Heloísa Buarque de Almeida é doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (2001). Atualmente é professora associada (Livre Docente) da Universidade de São Paulo, docente permanente no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, presidente da Comissão de Defesa de Direitos Humanos da FFLCH, e membro do NUMAS Núcleo de Estudos dos Marcadores Sociais da Diferença. Foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do qual atualmente é vice-coordenadora, foi editora chefe da Revista de Antropologia, foi vice-chefe do Departamento de Antropologia, e coordenou o programa USP Diversidade.