Reescrituras Literatura Infantojuvenil (LIJ)J - Pinóquio e Sherlock Holmes
Simone Lopes de Almeida Nunes
Profa. da Casa de Cultura Italiana da Universidade Federal do Ceará (UFC), com formação em Letras (Português/Italiano) (UFC). Especialista e mestre em Estudos da Tradução (UFC) e doutora em Letras/Literatura Comparada (UFC). Atua na pesquisa e na extensão com os seguintes temas: tradução e ensino, literatura infantil italiana, Pinocchio, literatura italiana, atividades de gamificação, lúdicas e jogos educativos, ensino de língua e cultura italianas.
PINÓQUIO NO BRASIL: TRADUÇÕES, ADAPTAÇÕES E OS SEUS ASPECTOS CULTURAIS.
A obra Le avventure di Pinocchio, de Carlo Collodi, publicada em 1883, é um marco da literatura universal. Reconhecida por sua relevância no cânone da literatura infantil e por suas inúmeras traduções para mais de duzentas línguas, a obra transcende o aspecto fantástico, servindo também como um importante documento histórico-cultural da Itália pós-unificação, com um foco particular na Florença da época. A recepção do romance no Brasil é notável: desde 1911, com a primeira tradução registrada no periódico carioca Pinocchio illustrado, passando por versões influentes como a tradução revista por Monteiro Lobato e a tradução de Marina Colassanti, o livro já conta com 39 traduções catalogadas. Além
da prolífica história de traduções, é fundamental reconhecer a influência da obra nas releituras de proeminentes autores/ilustradores da literatura infantil brasileira, como Alexandre Rampazo. Nosso foco, contudo, recai sobre a análise das escolhas tradutórias. Propomos examinar como elementos culturais específicos – como apelidos, referências culinárias e termos históricos – foram mantidos, adaptados ou suprimidos no processo de transposição da língua-cultura italiana para a brasileira. A hipótese central é que essas escolhas tradutórias contribuíram para um apagamento do traço identitário italiano da obra, culminando na adoção de Pinóquio como uma figura culturalmente universal, desvinculada de suas
origens italianas.
REFERÊNCIAS:
BERMAN, Antoine. A tradução e a Letra ou o albergue do longínquo. Tradução de Marie-Hélène C.
Torres, Mauri Furlan, Andreia Guerini. Rio de Janeiro: Copiart, 2013.
CAPECCHI, Giovanni (Org.). Atlante Pinocchio: la diffusione del romanzo di Carlo Collodi nel
mondo. Roma: Treccani, 2024.
INÁCIO, Juliana Venera. Pinóquio No Brasil: Estudo dos Paratextos das Traduções do Século XXI.
Dissertação – Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2018.
NORD, Christiane. Análise textual em tradução: bases teóricas, métodos e aplicação didática.
Tradução e adaptação coordenadas por Meta Elisabeth Zipser. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2016.
TEMPESTI, Fernando. Introduzione e commento critico. In: COLLODI, Carlo. Pinocchio. Milano:
Feltrinelli, 2010.
Leandro Almeida
Doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), professor de Ensino de História e Estágio Supervisionado na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). É vice-coordenador do grupo de pesquisa Humor e História (USP, site https://humorhistoria.wordpress.com/) e coordenador do grupo de pesquisa e extensão Roda de Histórias (UFRB, site https://www.rodahistorias.pro.br/). Desde agosto de 2025 realiza estágio pós-doutoral no programa de História Social da USP, sob supervisão de Elias Thomé
Saliba, estudando o humor no cordel soteropolitano de Cuíca de Santo Amaro.
O feitiço de Conan Doyle: leituras de Sherlock Holmes por crianças e jovens brasileiros nas primeiras décadas do século XX (1905-1930) Sua intervenção tratará da recepção, entre crianças e adolescentes, da ficção policial no Brasil, especialmente da famosa personagem Sherlock Holmes, de Conan Doyle, no período entre 1905 e 1930.
Falará primeiramente dos suportes de difusão e das publicações brasileiras voltadas a crianças inspiradas no detetive, e como essa difusão se relacionava a processos mais amplos de urbanização e expansão das mídias de massa. Em seguida, a comunicação abordará a circulação dos impressos entre crianças e jovens para, daí, partindo de memórias e crônicas da época, tratar das diversas apropriações e sentidos das narrativas de Sherlock Holmes no país. Enfatizará como a leitura das aventuras de Sherlock Holmes levou à compreensão, por crianças e adolescentes, de processos de modernização em curso no mundo e no país, e criou em alguns intelectuais um senso de identidade geracional.
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, L. A.. O feitiço de Conan Doyle: circulação dos impressos sobre Sherlock Holmes e suas
leituras por crianças e jovens nas primeiras décadas do século XX. In: SOARES, Gabriela Pellegrino ;
RAFFAINI, Patricia Tavares. Livros Infantis Velhos e Esquecidos. (Publicações BBM). Universidade de
São Paulo. Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, 2022, p. 163-190. DOI:
https://doi.org/10.11606/9786587936185 Disponível em:
www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/1452 . Acesso em 28 setembro. 2025.
ALMEIDA, Leandro Antonio de. Sherlockismos de “O Mistério”. Ficção policial e humor na Primeira
República (1907-1928). Revista de História, São Paulo, n. 179, p. 01–36, 2020. DOI: 10.11606/issn.2316-
9141.rh.2020.147450. Disponível em: https://revistas.usp.br/revhistoria/article/view/147450. Acesso em:
28 set. 2025.
ALMEIDA, Leandro Antonio de. Sentidos da Modernidade na Divulgação Inicial de Sherlock Holmes no
Brasil (1907-1909). In: Daniel Lago Monteiro; John Milton; Júlia Braga Neves; Marcelo Pen Parreira;
Nilce M. Pereira; Thiago Rhys Bezerra Cass. (Org.). Vitorianos: contradições e desdobramentos. 1ed.São
Paulo: LiberArs, 2022, p. 277-292.
ALMEIDA, Leandro Antonio de. O mistério dos Sherlocks risíveis. In: SALIBA, Elias Thomé; VIEIRA,
Thaís Leão; ALMEIDA, Leandro Antonio. (Org.). Além do riso: reflexões sobre o humor em toda parte.
1ed.São Paulo: LiberArs, 2021, v. 1, p. 109-130