A conferência apresenta o conceito de “necroheritage” (necropatrimônio) para pensar restos humanos, artefatos, valas comuns, cemitérios clandestinos e locais de extermínio como uma forma específica de patrimônio cultural-natural. A partir de casos de massacres e genocídios, a professora Domańska propõe a noção de “necrocausto”/“necrocide” para descrever a destruição mecânica e química de corpos e túmulos, voltada a apagar crimes e impedir a identificação das vítimas. Discute-se, ainda, os “exhumates” – artefatos e ecofatos recuperados em exumações – como evidências centrais que revelam tanto vidas passadas quanto transformações ambientais produzidas pela ação humana. Dialogando com éticas pós-antropocêntricas, a conferência mostra como entidades humanas e não humanas participam dos processos de destruição, decomposição e memória, articulando estudos de patrimônio, forense e perspectivas ecológicas para repensar a pesquisa, a gestão e a forma de lembrar lugares de violência em massa.
Ewa Domańska é professora titular na Faculdade de História da Universidade Adam Mickiewicz, em Poznań, e membro da Academia Polonesa de Ciências. Desde 2002, é professora associada ao Departamento de Antropologia na Stanford University. Sua pesquisa se concentra em teoria e história da historiografia, teoria comparada das humanidades e ciências sociais, humanidades ambientais e estudos sobre ecocídio e genocídio. Entre suas publicações recentes estão Knowledge in the Shadow of Catastrophe (org., Brill, 2024), A História para além do humano (Editora FGV, 2024) e o número especial “The Environmental History of the Holocaust”, na Journal of Genocide Research (2020).
