Nascimento de Ernest Hemingway

Autor de obras como "O sol também se levanta" e "O velho e o mar", Hemingway é um dos maiores escritores em língua inglesa do século XX

Por
Alice Elias
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Nascimento de Ernest Hemingway
Segundo o professor Daniel Puglia, uma das marcas registradas de Hemingway "foi a capacidade de criar, de modo sucinto, todo um universo que pode ser desvendado pelos leitores." (Arte: Alice Elias)

 

Ernest Hemingway nasceu em 21 de julho de 1899 e foi um dos mais importantes escritores em língua inglesa no século XX. Famoso por suas obras como romancista e contista, “seu nome é associado a outros escritores da chamada Geração Perdida, comunidade de escritores e escritoras expatriados em Paris durante os anos 20", afirma Barbara Wagner Mastrobuono, mestre em Teoria Literária pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Antes de se tornar conhecido como escritor, Hemingway trabalhou como repórter e jornalista, inclusive serviu como correspondente na Guerra Civil Espanhola. Segundo Daniel Puglia, professor do Departamento de Letras Modernas da FFLCH USP, “muitos estudiosos fazem uma ligação entre o estilo que aprendeu nas redações dos jornais e aquele que acabou elaborando na obra ficcional.”

Sobre algumas das principais obras do escritor, o professor Puglia aponta: “In our time (1925), coletânea de contos em que temos as primeiras narrativas e fragmentos ficcionais; O sol também se levanta (1926), um romance sobre a vida de expatriados que sofrem as consequências da Primeira Guerra Mundial; Adeus às armas (1929), uma história de amor mesclada a reflexões também sobre a Primeira Guerra Mundial; Por quem os sinos dobram (1940), um romance que celebra a solidariedade e o esforço coletivo em meio à Guerra Civil Espanhola; e, finalmente, O velho e o mar (1952), uma novela que condensa várias das preocupações, tanto estéticas quanto políticas, de Hemingway.”

Dentre os elementos que caracterizam a escrita do autor, destaca-se o emprego de uma linguagem objetiva, clara e direta. “Sem espaços para floreios desnecessários, suas frases são límpidas. Seus parágrafos são construídos de maneira econômica. Os recursos literários que utiliza parecem estar a serviço da perfeita junção entre enredo, personagens e foco narrativo. Tudo isso acaba criando um ritmo de leitura notável: uma prosa aparentemente simples, em alguns momentos até mesmo árida, mas que pode envolver os leitores numa musicalidade surpreendente”, continua o professor Puglia.

Segundo Barbara Mastrobuono, Hemingway criou construções teóricas para a arte da escrita do conto, o short story, e denominou essa técnica de “teoria do iceberg”, na qual “quanto mais você conseguir cortar da história, mais forte ela será”. A escrita objetiva e direta do autor não resulta em perda de significado, pelo contrário: “uma de suas marcas registradas foi a capacidade de criar, de modo sucinto, todo um universo que pode ser desvendado pelos leitores. Em poucas sentenças são sugeridos contextos variados e múltiplos. Com poucos detalhes, são insinuados desdobramentos e possibilidades para a trama e para os personagens. Descobrir essas várias camadas de significação é um dos prazeres que sua obra nos oferece”, esclarece o professor Puglia.

Quanto às principais contribuições de Hemingway para a Literatura, apesar de inúmeras, o professor Puglia elenca duas relacionadas a repercussões atuais. “A primeira é positiva: seu estilo de escrita ainda apaixona uma legião de leitores. Acredito que nunca é demais enfatizar a importância de uma prosa e uma técnica soberbas, que são um convite à leitura e à reflexão. Ler e reler Hemingway pode ser um excelente contato com a experiência estética que contribui para o aprendizado e a fruição em vários níveis. Seus livros podem ser um bom indicativo do quanto a arte não precisa ser pedante para ser profunda. É uma obra que ainda tem muito a dizer, com um legado ainda a ser explorado, pois evita maneirismos e pode ser um antídoto contra modismos tolos.

Já a segunda contribuição, se quisermos chamar assim, é bem mais complicada e, em minha visão, bastante negativa. Hemingway infelizmente virou uma marca literária. Na verdade, muitas pessoas admiram sobretudo a fama e a celebridade que ele conseguiu ainda em vida. E isso tem consequências. No ramo literário foi gerada uma legião de imitadores que parecem não ter lido uma única linha de Hemingway, mas que estão ávidos pelas luzes do sucesso e do reconhecimento. Muitos não sabem, mas já imitam os imitadores de Hemingway. O resultado é uma avalanche de livros em prosa simplória, canhestra e, o que é pior, cheia de pose. Mas isso é um dos sinais do nosso tempo. Nesse sentido, redescobrir e verdadeiramente ler as obras de Hemingway pode ser até um caminho de resistência. Cultuar artistas, esquecendo ou ignorando aquilo que produziram, não é algo saudável.”


Confira abaixo as duas entrevistas completas:

Entrevista com Daniel Puglia
Entrevista com Barbara Mastrobuono

 

Barbara Wagner Mastrobuono é mestre em Teoria Literária pela FFLCH USP, e sua dissertação está disponível em A narrativa por meio da ausência: análise de três contos de Ernest Hemingway.

Daniel Puglia é graduado em Administração de Empresas (FEA USP) e em  Letras (FFLCH USP), com mestrado em Psicologia Social (IP USP) e  doutorado em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês (FFLCH-USP). Atualmente, é professor do Departamento de Letras Modernas da FFLCH USP, e pesquisa as interconexões entre literatura, cultura, história e filosofia.