A desigualdade educacional e o acesso ao conhecimento da norma padrão linguística, utilizada pelo Estado, é uma realidade em muitos países. No Brasil, a linguagem dita difícil representa um símbolo de prestígio e, ainda hoje, a maneira como o Estado se comunica continua determinando quem participa e quem fica de fora do debate público.
Para Luiza Bedê, doutora em linguística e língua portuguesa pela Unesp de Araraquara, “o domínio da norma padrão utilizado nessas instâncias — frequentemente apresentada como ‘correta’ e ‘neutra’ — torna-se um capital simbólico que define quem é ouvido, compreendido e reconhecido como legítimo interlocutor”. A pesquisadora, que atualmente é pós-doutoranda em filologia e língua portuguesa na USP, lembra que essa hierarquização linguística tem raízes coloniais e que associar prestígio ao padrão europeu de fala e escrita é um traço persistente da cultura brasileira.