Luta pela subsistência deixou o ódio aos imigrantes e aos negros em segundo plano
Como compreender o comportamento político dos trabalhadores racializados nos Estados Unidos? E dos trabalhadores brancos que vivem em pequenas cidades rurais? A eleição de Donald Trump, em 2016, pode ser interpretada apenas como resultado de uma classe trabalhadora branca ressentida e empobrecida?
A angústia do precariado: trabalho e solidariedade no capitalismo racial (Boitempo Editorial, 288 páginas), nova obra do sociólogo Ruy Braga, docente do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, é fruto de uma pesquisa de campo em pequenas cidades rurais nos Montes Apalaches, região que concentra historicamente a pobreza branca nos Estados Unidos. O estudo coloca à prova a hipótese da eleição de Trump partindo de uma problematização teórica inspirada nos marxismos negro e latino-americano.
Durante sua pesquisa, em vez de comunidades mobilizadas pelo ódio aos imigrantes e aos negros, o autor encontrou grupos de trabalhadores vivendo em constante agonia, em profunda crise sociorreprodutiva, o que os aproximou das condições de subsistência das comunidades negras. Essa confluência indesejada ajudou a criar as condições sociais necessárias para a eclosão de protestos de trabalhadores brancos... Em favor das vidas negras! O livro se dedica a interpretar essa anomalia sociológica por meio da análise do longo processo de reconstrução das identidades coletivas dos trabalhadores precários americanos, desde a crise do fordismo até o advento da pandemia do novo coronavírus.
A angústia do precariado é o último volume de uma trilogia consagrada à formação do precariado global, ou seja, aquele vasto contingente de trabalhadores em situação de insegurança e sub-remunerados. O primeiro trabalho da série foi publicado em 2012, com o título A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista, seguido por A rebeldia do precariado: trabalho e neoliberalismo no Sul global (2017). Sean Purdy, que assina o prefácio de A angústia do precariado, afirma que a conclusão da trilogia representa um recomeço para o autor: “Ruy Braga encarou o espinhoso desafio de interpretar o comportamento político do precariado racializado vivendo no ventre da fera capitalista, isto é, os Estados Unidos. Dois anos como pesquisador visitante na Universidade Estadual da Pensilvânia asseguraram a ele a oportunidade de diversificar seu arcabouço teórico e empírico, ampliando-o a fim de abarcar o capitalismo avançado”.
Ruy Gomes Braga Neto é docente do Departamento de sociologia da FFLCH, graduado em Ciências Sociais (1993), mestre em Sociologia (1996), doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (2002), da Unicamp. Também realizou pesquisas de pós-doutorado na Universidade da Califórnia em Berkeley (2010-2011 e 2015-2016).
O livro pode ser adquirido no site da Boitempo Editorial.
Com informações da Boitempo Editorial.