"Poderíamos pensar que a relação de Cecília Meireles com a matéria dos grandes jornais cotidianos caberia numa pergunta, que é um de seus versos: 'Coisa que passas, como é teu nome?' Mas não cabe: ela própria estava cotidianamente presente nas páginas da imprensa, passando por aí como editora, colunista, cronista, entrevistadora e até repórter, desde os anos 1920 até sua morte, em 1964. O contraponto prosaico foi determinante para a modelagem e a consolidação de sua imagem pública de poeta, sobretudo na década de 1940. Detalhes desse processo podem ser observados através de seu envolvimento com o diário carioca A Manhã, órgão oficial do Estado Novo, entre 1941 e 1945. Além de uma crônica semanal, de teor literário, a autora mantinha nesse jornal uma coluna quase diária, chamada 'Professores e Estudantes', com a qual retomava sua militância da década anterior por uma educação pública, laica e emancipatória. Datam do mesmo período dois dos livros mais importantes de sua obra poética: Vaga música, de 1942, e Mar absoluto, de 1945. A leitura cruzada de poemas e crônicas relativiza a imagem de absenteísmo que ficou associada à autora e ilumina aspectos da relação entre a poesia moderna e a esfera do público.”
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