Importância das vacinas é ressaltada em segundo encontro do Ciclo de Jornadas sobre saúde mental

As três mesas que foram realizadas no dia 14 de setembro contaram com a participação de convidados da área médica e de farmacologia

Por
Eliete Viana
Data de Publicação

 

diretor Paulo Martins - 14.09
Durante o evento, o diretor da FFLCH, Paulo Martins, destacou que a realização do Ciclo de Jornadas tem o intuito de discutir sobre saúde mental neste atual momento de pandemia, mas também construir diretrizes para lidar melhor com a questão da saúde mental dentro da Faculdade. Pois o Ciclo faz parte do FFLCH PELA VIDA, que é um conjunto de ações relativas à saúde mental voltadas ao acolhimento da comunidade de estudantes, docentes e servidores técnico-administrativos da FFLCH – Foto: Reprodução

​​​​​​​​​​​​
A importância das vacinas, que não vai ser possível retomar a vida como era antes da pandemia, a previsão de que ainda teremos de conviver com ela por um tempo e a necessidade de ter estratégias para dialogar com a sociedade e fazer a divulgação científica foram foram alguns pontos abordados durante as três mesas que foram realizadas no segundo encontro do Ciclo de Jornadas Saúde Mental, Saúde Física e Educação em Tempos de Pandemia, em 14 de setembro, cujo tema foi saúde física e pandemia e contou com a participação de convidados da área médica e de farmacologia.

O Ciclo de Jornadas está sendo organizado pela Direção da FFLCH e tem apoio da Faculdade de Educação (FE), Faculdade de Medicina (FM), Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU); e Instituto de Psicologia (IP); além de contar com a participação de convidados de instituições externas.

Manhã

As apresentações e debates do dia começaram com a mesa 1, às 10h30, com o tema Ações na Saúde, formada por Ester Cerdeira Sabino e Anna Sara Shafferman Levin, duas professoras da Faculdade de Medicina (FM) da USP, e com coordenação da professora Lorena Barberia, do Departamento de Ciência Política da FFLCH. As três estão envolvidas desde o início na questão da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no Brasil. 

Para contextualizar, Anna lembrou que se tornou coordenadora do Grupo de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital das Clínicas da FMUSP um pouco antes do início da pandemia de Covid-19 no Brasil. 

Em sua apresentação os tratamentos da Covid-19 e os aprendizados, falou das várias fases de um estudo clínico de um medicamento do teste com voluntários saudáveis, depois com a população alvo; estudos randomizados, multicêntricos (em que um grupo recebe o medicamento e outro não), que são avaliados pelos órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil; até a fase quatro que é na comercialização. 

Ela contou sobre o padrão de tratamento, que atualmente é feito com dexametasona – um tipo de corticoide –, e apresentou pesquisas recentes na área e estratégias de tratamento, na qual a budesonida – um corticoide inalatório usado para asma – poderia evitar o risco de infecção. Mas, alertou que "seguimos [os pesquisadores] procurando um tratamento precoce” e que no momento as vacinas são o que se tem de mais eficaz no impacto em hospitalização e transmissibilidade.

Segundo Anna, o fato da maioria das pessoas serem assintomáticas ou terem sintomas leves faz com que nem sempre a contaminação por Covid-19 seja identificada logo no início e por consequência as pessoas continuam realizando suas atividades e o vírus acaba circulando mais. 

Sequenciamento 

Antes de começar sua exposição, Ester Sabino apontou que uma questão positiva sobre a Covid-19 foi aproximar as áreas da USP em relação às pesquisas sobre o assunto, unindo esforços multidisciplinares a respeito.  

Na exposição esforços de vigilância e vigilância genômica, Ester mostrou como surgem as variantes do coronavírus, para que serve o sequenciamento, como o vírus foi introduzido no Brasil.

A docente, que liderou o sequenciamento do genoma do coronavírus, lembrou que a equipe que o realizou está atuando desde 2016 com o sequenciamento da Zika, para dar exemplo de que os resultados são fruto de muita pesquisa, investimento e infraestrutura. Clique aqui para ver a compilação dos dados apresentados pela professora. ​​​

Em uma pergunta do público, feita pelo chat do canal da FFLCH no YouTube, Ester respondeu ao questionamento se "o mapeamento da transmissão das várias cepas da Covid-19 poderia ter evitado que o país tivesse chegado a esse quadro [com muitas mortes] explicando que "o sequenciamento ajuda a entender o que está acontecendo e pensar políticas, mas dificilmente vai conseguir bloquear a infecção".

Sobre o futuro, Ester acha que será preciso manter a vacinação ao longo do ano, porque tudo indica que a resposta imunológica vai caindo depois de um tempo após tomar a vacina. Para a professora Lorena – que é pesquisadora do Observatório Covid-19 BR e coordenadora da Rede de Pesquisa Solidária –,também não vai ser possível pensar em voltar para a vida que tínhamos antes de 2019, com o surgimento da doença. E Anna complementa que os protocolos de prevenção devem continuar, pois não devemos confiar somente na vacina para nos proteger, já que "risco zero não haverá".

Assista, abaixo, a mesa 1: Ações na Saúde.
​​​​​​​



Tarde 

Às 14h, com o tema específico vacinas e o contexto do novo normal, a mesa 2 foi composta por pesquisadores que estão à frente das discussões sobre vacina em âmbito nacional: Esper Georges Kallás (FM-USP), Soraya Soubhi Smaili, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); e Margareth Maria Pretti Dalcolmo, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com a coordenação do diretor da FFLCH, Paulo Martins. Dimas Tadeu Covas, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e diretor do Instituto Butantan, estava entre os convidados confirmados mas não pode participar. 

A mesa contou com uma fala de apresentação do reitor da USP, Vahan Agopyan, o qual deu as boas-vindas aos convidados e parabenizou a Faculdade pela iniciativa de realizar o evento e reforçou a importância da vacina. "Que este evento nos ajude a conscientizar os pouco colegas que ainda se recusam a se vacinar”.

A pesquisadora Margareth fez um breve histórico sobre as vacinas no país. Ela lembrou que o brasileiro em geral tem boa adesão à vacinação, pois o Brasil aprendeu a respeitar o Programa Nacional de Imunização (PNI), que nasceu na década de 70. 

Margareth lamentou o fato de não ter vacinas para toda a população mundial e que por isso mesmo o objetivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) é vacinar 10% da humanidade até o final de 2021. E acredita que não se deva ficar na dicotomia de continuar a se vacinar todo mundo ou começar a terceira dose, pois o importante é vacinar já que “virose respiratória não se resolve com remédio, mas com vacina”. 

Ela ressaltou ser um desafio a situação vivenciada pela pandemia, na qual os pesquisadores precisam comunicar melhor e falar a respeito, e que por isso é importante "esta interlocução que estamos fazendo neste momento" [com a realização do evento]. 

Em sua exposição, a ex-reitora da Unifesp Soraya falou sobre a divulgação da ciência e das vacinas, o trabalho das universidades frente à pandemia e a importância disso. E aproveitou para contar algumas iniciativas para a divulgação científica, como o Portal Sou Ciência – um Centro de Estudos e Think Tank sobre Sociedade, Universidade e Ciência e um Grupo de Pesquisa multidisciplinar sediado na Unifesp – e a criação do Centro de Saúde Global - Global Health Center (GHC), formado por diferentes grupos de pesquisas, internos e externos à Unifesp.

A professora frisou que todas estas iniciativas são cada vez mais necessárias porque a saúde tem de ser pensada não somente focada nos humanos, mas em todo o meio ambiente também e, além do mais, ela acredita que “a pandemia não vai parar por aqui”.

Imagem das universidades 

“Quem toma vacina se protege, quem não toma pode morrer. É impressionante o impacto que as vacinas causam!”, destacou o terceiro convidado da mesa, Esper Georges Kallás. Ele comentou que, apesar das pessoas contrárias à vacina, a adesão do brasileiro à vacinação é a melhor do mundo, talvez pelo histórico e iniciativas anteriores.

Em relação à divulgação, Kallás disse que é preciso mudar a imagem negativa que é associada às universidades brasileiras, principalmente às públicas. E que falar em investimento somente na educação básica é um erro, porque se o Brasil não investir na ciência vai ficar dependente dos outros países.

Para exemplificar a importância das pesquisas, o professor citou que as quatro vacinas que estão sendo utilizadas no Brasil tiveram participação de pesquisadores brasileiros também. Ele também acredita que outras pandemias vão surgir e que por isso mesmo os investimentos não devem parar.

Sobre o que Soraya apresentou, o diretor da FFLCH, Paulo Martins, fez questão de comentar o quanto é “importante agora criar estes grupos interdisciplinares para interagir e transmitir conhecimento”. Martins indagou os convidados sobre a partir de qual porcentagem da população vacinada poderá se diminuir as restrições e as pessoas ficarem sem máscaras em ambientes abertos, como foi implantado em alguns lugares no mundo.

Para Margareth, só devemos "ter um pouco de tranquilidade quando tiver 80% de pessoas vacinadas” aqui no Brasil e que atingir esta marca é uma questão de convencimento mesmo. Ela disse que concorda com medidas tomadas na França, por exemplo, as quais exigem vacina para as pessoas frequentarem certos lugares e para o retorno dos funcionários públicos ao trabalho. 

Kallás disse que, para ele, deveria se priorizar a vacinação para a população adulta totalmente vacinada antes de pensar em terceira dose ou expandir os públicos; além disso, fez questão de frisar que as pessoas tem de entender que as vacinas não são 100% eficazes, por isso as pessoas mais idosas e/ou mais vulneráveis, mesmo após tomarem a vacina, só vão estar mais seguras para sair sem tanto risco quando as pessoas pararem de ser internadas e morrerem tanto.

Confira, a seguir, a mesa 2: vacinas e o contexto do novo normal.

​​​​​​​


Noite

A terceira e última mesa do dia teve a participação de mais dois professores da FM: Paulo Hilario Nascimento Saldiva e Paulo Rossi Menezes, que falaram sobre o lugar da saúde, com a coordenação da professora Ligia Vizeu Barrozo, do Departamento de Geografia da FFLCH. 

Saldiva disse que como médico se sente lisonjeado em participar de um evento sobre saúde mental na FFLCH. Pois, para ele, cada vez mais os médicos terão que se importar com as questões humanas em sua atuação.

O docente deu um panorama sobre as estatísticas do suicídio no Brasil entre a população em geral, em idosos e crianças. Segundo ele, o suicídio é um fenômeno urbano porque a taxa de suicídio aumenta conforme maior o tamanho da cidade, o que tem relação também com a questão da solidão nas grandes cidades. E, com o aumento da expectativa de vida, as pessoas precisam se reinventar para buscar sentido pra vida após os 65 anos (idade em média da aposentadoria) e viver até os 80 anos, por exemplo. 

Ele pontuou que o maior índice de suicídio não é nas regiões mais pobres, pelo contrário; "que a falta de sentido nos tempos atuais é que causa a desesperança". E lembrou de que o tema suicídio não é novo entre os alunos de Medicina, pois em sua época de estudante na FMUSP casos também já aconteciam durante a graduação e na residência médica.

Uma solução encontrada na FMUSP para dar um melhor suporte aos alunos foi a criação de dois programas de tutoria. Em um deles, os alunos eram ajudados a recuperar a capacidade de autoaprendizagem. No segundo, eram atendidos aqueles que estavam em sofrimento. Pois, a Faculdade se preparou para detectar os problemas e tem um serviço de apoio psiquiátrico. 

Mas, o professor ressaltou que o atendimento psiquiátrico "falta como um todo na nossa cidade [de São Paulo]", já que "a estrutura de suporte à saúde psiquiátrica no Brasil colabou [causar ou sofrer colapso]". Por isso, ele sugeriu um desafio no qual "a universidade poderia tentar funcionar, fazer um mutirão para dar suporte aos nossos alunos, [pois] a responsabilidade que temos perante a eles não é pequena".

Novas perspectivas
​​​​​​​

O segundo convidado, Paulo Rossi Menezes, começou falando da sua área de atuação. Menezes se formou e se especializou como psiquiatra, atuando na área por cerca de um pouco mais de 10 anos até a realização do seu doutorado, a partir do qual ele passou a trabalhar com epidemiologia e hoje se considera um epidemiologista trabalhando a questão de transtornos mentais.

Menezes, que integra o grupo do Centro de Contingência do Coronavírus do Governo do Estado de São Paulo e desde dezembro é o coordenador, mostrou uma linha do tempo da pandemia e seu enfrentamento, destacando que no momento atual está se enfrentando a ameaça da variante Delta; comentou sobre os desafios iniciais: vigilância epidemiológica, organização da atenção em saúde, comunicação com a sociedade. 

Ele afirmou que a vacinação trouxe novas perspectivas e desafios: vacinas, disponibilidade muito limitada e estratégia principal de proteção dos grupos mais vulneráveis – idosos e pessoas com comorbidades. Menezes acredita que vamos ter de conviver e lidar com o vírus por uns anos ainda e está convencido "de que não podemos lidar com a saúde mental da forma que fazíamos e conhecíamos”.

Após as falas iniciais dos dois professores, o debate foi aberto ao público em geral. E, depois de ouvir de Saldiva que os docentes da USP precisam estar atentos aos problemas dos alunos que estão em sofrimento mental, mas que nenhuma universidade está totalmente preparada para lidar com saúde mental, a professora Ligia, coordenadora da mesa, indagou se não seria importante ter uma educação emocional. 

​​​​​​​A funcionária Marie Márcia Pedroso, que atualmente exerce o cargo de assistente acadêmica da Unidade, também comentou e propôs que a FMUSP e a FFLCH realizassem em conjunto alguma ação na área de saúde mental. Em resposta, Saldiva disse que poderiam organizar ciclo de debates sobre como a USP pode ajudar no pós-pandemia e propor sua realização e prática aos candidatos que vão disputar a Reitoria neste ano, em novembro.

Para finalizar, Ligia destacou que as redes que se formaram para estudar a pandemia foi um fator positivo a respeito neste momento. E que "saímos daqui hoje com novas propostas e ideias para acolhermos os alunos [professores e funcionários] no retorno presencial".

Veja, abaixo, a ​​​​mesa 3: o lugar da saúde.

​​​​
Próximo encontro 
​​​​​​​
O Ciclo de Jornadas Saúde Mental, Saúde Física e Educação em Tempos de Pandemia termina no dia 29 de setembro, no qual também serão realizadas três mesas de debate. O tema específico deste 3º encontro é educação e pandemia. 

Na mesa 1, dirigentes de Unidades de Ensino e Pesquisa da USP vão falar sobre a USP na pandemia: Ana Maria Loffredo, do a diretora do IP, Marcos Garcia Neira, da FE; e Miguel Antônio Buzzar, do IAU. A mesa 2 reúne presidentes e membros de Comissões de Graduação de Unidades da USP para abordar a graduação e a pandemia: Rosângela Gavioli Prieto, da FE, Verónica Marcela Guridi, da EACH; e Paula Debert, do IP. E, a mesa 3 tratará das políticas públicas para educação na pandemia, com três docentes da FFLCH, da área de Sociologia, Filosofia e Ciência Política: Ana Paula Hey, Vladimir Pinheiro Safatle e Fernando Haddad.

O evento tem transmissão ao vivo pelo canal da FFLCH no YouTube. A participação é gratuita e aberta ao público em geral, sem necessidade de inscrição prévia. E haverá emissão de certificado para as pessoas que registrarem presença no dia.