Pesquisadores da área de Geografia participam de sessão paralela da Convenção da Água 

O tema da sessão foi sobre a participação da sociedade civil e comunidades locais na cooperação transfronteiriça de água, focando no papel dos jovens  

Por
Eliete Viana
Data de Publicação
Editoria

 *Matéria atualizada em 22/10/2021, às 22h47

Convenção da Água
Cartaz do painel - Foto: Divulgação

 

Dois estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH): Isabela Battistelo Espíndola, recém doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana, e Henrique Castro Barbosa, graduando de Geografia, participaram, no dia 28 de outubro, de um evento paralelo da 9ª Sessão da Reunião de Partes da Convenção da Água (Ninth session of the Meeting of the Parties to the Water Convention), que foi organizada pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (UNECE, na sigla em inglês) em cooperação com o Governo da Estônia.

A sessão da qual os estudantes da FFLCH fizeram parte foi sobre a participação da sociedade civil e comunidades locais na cooperação transfronteiriça de água, focando no papel dos jovens.  

Isabela estava presencialmente no local do evento, em Genebra, na Suíça, porque participou como observadora externa também, enquanto que Henrique estava on-line. Além dos dois, haviam quatro participantes na sessão: Alice Temta, de Camarões; Alyssa Offutt, dos Estados Unidos; Tim Nolden, da Alemanha; e Viviana Franco, da Colômbia. 

Confira abaixo a participação dos estudantes na sessão.



Convenção da Água 

A pesquisadora explica que a Convenção da Água é uma das únicas legislações internacionais que há sobre a gestão de recursos hídricos nas regiões transfronteiriças, que estabelece parâmetros para ter uma cooperação entre os países e coloca princípios de equidade, igualdade, uso compartilhado, entre outros. 

Inicialmente, era uma Convenção restrita para os países da região da UNECE, mas desde a década passada foi aberta para outros países aderirem, porém o Brasil ainda não faz parte.

A Convenção deu a oportunidade da Water Youth Network uma rede internacional de jovens que trabalham e pesquisam sobre recursos hídricos –  de organizar esse evento, fazendo essa sessão paralela. Isabela é membro desta rede e se dispôs a participar da organização. Quando surgiu uma vaga para apresentação do painel, ela convidou o Henrique para expor, por acreditar que a pesquisa de iniciação científica dele realizada no Laboratório de Geografia Política (GeoPo), do qual ambos são integrantes se encaixava com o tema do painel.

Aprendizado 

Desde o começo do doutorado de Isabela, em 2017, a pesquisadora tem trabalhado com o envolvimento da comunidade científica em processo de cooperação, e até tem trabalhado com diplomacia científica, e tudo isso voltado para a gestão de recursos hídricos.

"Foi muito interessante participar deste evento. Por mais que como observadora externa, eu estava lidando com o papel de participação popular, de engajamento de partes interessadas em processo de decisão a nível internacional. Então, eu pude observar os reports [relatórios] que os países fizeram, os avanços e retrocessos desta aplicação da Convenção da Água. Mas, ao mesmo tempo, [pude acompanhar] a assinatura de tratados de cooperação ao vivo, desenvolvimento de propostas pros próximos anos, e de até mesmo estratégias de alcançarem novos membros, pois eles têm interesse na adesão de países latino-americanos na Convenção da Água", ressalta Isabela.

Ela aponta ainda para a necessidade da participação da universidade em eventos como esse não só na área de recursos hídricos, mas em diversas questões como armas nucleares, biodiversidade, mudanças climáticas.

"A gente tem de difundir cada vez mais o que está sendo produzido na USP. E a participação nestes eventos, nestas cúpulas é extremamente importante para a universidade", frisa.

Se para quem terminou o doutorado a experiência foi importante, não seria diferente para quem está fazendo iniciação científica no momento. 

"Da minha parte, foi minha primeira vez apresentando minha pesquisa em um evento internacional, foi muito legal para aprender como outros pesquisadores da mesma área que a minha pensam o tema da água e onde eles trabalham dentro desse universo, o que ajudou a ter uma nova perspectiva sobre minha própria pesquisa", destaca Henrique sobre a experiência.
  
Tanto Isabela quanto Henrique são orientandos do professor Wagner Costa Ribeiro, do Departamento de Geografia da FFLCH, que é referência nos estudos em Geografia Política e meio ambiente, sendo os principais temas de pesquisa: políticas públicas ambientais, relações internacionais e meio ambiente, gestão de recursos hídricos e ordem ambiental internacional. O docente comentou sobre a participação deles. 

"A participação da, então na época, doutoranda Isabela Espíndola e do aluno de iniciação científica Henrique Castro na Conferência das Partes da Convenção da Água indica que as pesquisas que nós desenvolvemos no Laboratório de Geografia Política, envolvendo o tema das águas transfronteiriças, está absolutamente em dia com o debate contemporâneo internacional. A presença deles indica, além de uma capacidade pessoal para inserção em fóruns multilaterais, uma capacidade reflexiva e de interlocução a partir de um caso específico que é a Bacia do Prata, que nós analisamos já há algum tempo. Eu diria que este conjunto de fatores mostra que a pesquisa desenvolvida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas está em consonância com os principais feitos internacionais, a ponto inclusive de ganhar destaque por meio da participação de um evento internacional como esse".

Isabela Battistello Espindola
Foto: Arquivo Pessoal

Isabela

Dias depois de participar do evento, Isabela fez a defesa de sua tese de doutorado, em 1º de outubro, intitulada Hidropolítica e governança hídrica transfronteiriça: uma análise do papel do Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata (CIC), pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana, com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que proporcionou o desenvolvimento de sua pesquisa. 

Essa participação não é o primeiro evento internacional de Isabela. Podemos destacar que, em 2020, entre os dias 12 e 18 de outubro, com transmissão on-line a partir de Riad, capital da Arábia Saudita, ela foi uma das três representantes do Brasil no Youth 20 (Y20), a plataforma oficial dos jovens no G20 abreviatura para Grupo dos 20, que é formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais da União Europeia e dos 19 países com as maiores economias do mundo.

Possui graduação em Relações Internacionais e Economia pela Faculdade de Campinas (FACAMP), mestrado em Ciências Ambientais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e agora o doutorado pela USP. Além do GeoPo, é integrante do grupo de pesquisa Geografia Política e Meio Ambiente, ambos da USP, e também do grupo Novos Direitos, da UFSCar. Membro das redes Water Youth NetworkClimate Reality Leaders e da Rede de Pesquisadores em Geografia (Socio) Ambiental. Tendo como principais áreas de atuação: direito humano à água, recursos hídricos, hidropolítica, águas transfronteiriças, Bacia do Prata e América do Sul.
 

Henrique Castro Barbosa
Foto: Arquivo Pessoal

Henrique

Henrique está desenvolvendo pesquisa de iniciação científica sobre cooperação hídrica internacional, com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

"Minha iniciação científica tem o objetivo de compreender como a participação pública ativa da sociedade civil junto com as instituições pode auxiliar de maneira eficiente no gerenciamento de águas internacionais, focando especificamente na Bacia Quaraí/Cuareím, na fronteira entre o Brasil e o Uruguai", explica o estudante em seu perfil no Linkedin.

Ele tem graduação em Jornalismo pela Fundação Cásper Líbero, tendo experiência em redação e rádio.