Leitura diária estimula interesse, repertório e pensamento crítico em crianças

Em projeto envolvendo diferentes gêneros literários infantis, pesquisadora propôs produção de diário de leitura para alunos do quinto ano e obteve resultados positivos

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Gabriela Ferrari Toquetti
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A leitura instiga a curiosidade das crianças e expande seu vocabulário (Montagem: Gabriela Ferrari Toquetti/Serviço de Comunicação Social FFLCH USP)

Em tempos de games e redes sociais, fazer as crianças se interessarem por livros nem sempre é uma tarefa fácil. Mas, quando bem-sucedida, traz uma série de benefícios para o desenvolvimento dos jovens, desde o autoconhecimento até o aumento do repertório e do vocabulário. A pesquisadora Verônica Cardoso da Silva, que também é professora de ensino infantil e fundamental, aceitou esse desafio e desenvolveu um projeto de leitura diária com seus alunos.

Verônica conta que já tinha a prática de ler histórias para as crianças há muito tempo, mas queria elaborar um projeto mais estruturado, capaz de engajar os estudantes e ampliar seu interesse pela leitura. Por isso, para sua dissertação de mestrado, propôs aos seus alunos do quinto ano a produção de um diário de leitura. Todos os dias, passou a ler histórias de diferentes gêneros durante as aulas, propondo reflexões e debates. Depois, para estender o momento de reflexão, os alunos escrevem suas ideias em um diário, no qual têm a liberdade de registrar e fundamentar suas opiniões de forma sincera. “O objetivo é tornar a leitura mais próxima deles e menos ‘didática’. Quero me aproximar do que os alunos têm a dizer”, explica a pesquisadora.

Os benefícios da leitura diária

O projeto envolveu tanto livros quanto jornais e revistas, estimulando as diversas capacidades das crianças. Verônica relata que, aos poucos, elas começaram a identificar os gêneros textuais, entender seus gostos pessoais e desenvolver suas preferências: “Cada história traz uma vivência, que às vezes se parece muito com a deles e às vezes é muito diferente da deles. Cada leitura é uma experiência e cada aluno reage de uma forma. É por isso que fazemos a leitura diária: todos os dias, as crianças têm a oportunidade de conhecer e, talvez, gostar de uma história”.

Como resultado, a professora constatou que os livros tornam os alunos mais críticos da realidade e que esse processo desenvolve a autonomia, pois eles deixam de ver a leitura apenas como obrigação e passam a ler por conta própria, principalmente ao encontrar gêneros e estilos que os agradam. Além disso, a leitura expande o repertório, fortalece a memória textual, a concentração e a audição e ainda cria um senso de parceria entre as crianças durante as discussões. Os livros também instigam a curiosidade dos jovens, que começam a questionar o significado das palavras e se envolver nos textos.

Os gêneros literários e a realidade infantil

Os alunos fizeram listas de seus livros favoritos. Alguns dos “queridinhos” das crianças, de acordo com Verônica, são as histórias de terror, os gêneros que os fazem rir – como as obras de Luis Fernando Verissimo, Ana Maria Machado e Ruth Rocha –, os mangás, as histórias de super-heróis e os diários, como o Diário de um Banana, muito famoso entre o público infantil. Além disso, os alunos tendem a gostar de livros que conversam com outras mídias, como filmes, séries e desenhos animados.

Os alunos fazem conexões entre os textos que leem e suas próprias realidades. A pesquisadora critica o discurso que menospreza a literatura infantil: “Essas ‘historinhas’ ajudam as crianças a extravasar. Elas usam os livros para se enxergar e se expressar”. Também é necessário respeitar o processo de cada aluno: alguns já são apaixonados pela leitura e outros ainda enfrentam dificuldades, conclui Verônica.

A dissertação de mestrado Experienciando textos: a leitura diária como percurso para a formação do leitor foi desenvolvida no âmbito do ProfLetras/USP, curso profissionalizante para professores de língua portuguesa em exercício na rede municipal ou estadual.