O programa de pós-graduação que inovou e ajudou a mudar o pensamento geográfico no Brasil

Por Ana Fani Alessandri Carlos e Rita de Cássia Ariza da Cruz, professoras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP

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A história do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, onde se situa o Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana (PPGH), se confunde com a história da Universidade de São Paulo, pois no mesmo ano de sua criação, em 1934, foi inaugurada a cátedra de Geografia e o primeiro ensino universitário nessa área. Em 1939, a cátedra de Geografia desdobrou-se em duas – Geografia Humana e Geografia Física – e, anos mais tarde, no início dos anos 1970, foi institucionalizado o Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana.

Rita de Cássia Ariza da Cruz – Foto: Arquivo pessoal


Como expressão de nossa sociedade, a universidade vai, ao longo do tempo, transformando-se junto com a própria sociedade e, nessa condição, a produção acadêmica vai se debruçando sobre as questões postas pela contemporaneidade. Nesse sentido, o desenvolvimento dos campos disciplinares – como produto da divisão do conhecimento – orienta-se por esse movimento.

Ana Fani Alessandri Carlos – Foto: Arquivo pessoal

A Geografia, como disciplina, metamorfoseou-se ao longo das décadas de modo a compreender a transformação da sociedade contemporânea iluminando a prática sócio-espaço-temporal que funda a vida cotidiana. Esse movimento articula várias escalas temporais – passado, presente e futuro, que se vislumbram nas teias do presente. É assim que os 90 anos, que marcam a fundação e trajetória da USP, podem ser lidos no desenvolvimento da produção do conhecimento em suas várias vertentes teóricas, bem como através das disciplinas que produzem o conhecimento sobre a sociedade brasileira em suas múltiplas formas.

Desse processo histórico de transformações profundas, destaca-se o movimento de renovação do pensamento geográfico no Brasil, no qual docentes do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana assumiram um papel de liderança e inquestionável protagonismo ao contribuírem para reposicionar a Geografia brasileira na América Latina e no mundo, por meio da superação de métodos circunscritos aos positivismos e da abertura metodológica para um pensamento renovado e crítico sobre a sociedade e seu espaço. O PPGH ajudou a disseminar o Brasil pelo mundo, seja atraindo muitos estudantes da América Latina e África, mas também a partir da inserção de temas, problemas e teorias a partir da nossa condição histórica.

O compromisso social da Geografia, assumido pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana, orienta-se pela transformação da realidade através da transformação espacial, capaz de eliminar os constrangimentos e coações vividos no cotidiano. Essa orientação dá especificidade ao PPGH, justificando sua ação diferenciada no corpo da Pós-Graduação em Geografia no Brasil. Um projeto para o Brasil passa, necessariamente, pela compreensão da realidade espacial, o que evidencia a potência da Geografia.

O conhecimento produzido sobre a sociedade brasileira, a partir da compreensão da espacialidade das relações sociais, no plano da prática, se traduz por um conjunto significativo de produção e as teses e dissertações de mestrado defendidas no programa têm uma importante contribuição para revelar esse conhecimento, seja quantitativamente, seja do ponto de vista qualitativo.

A partir dos anos 1970 o PPGH formou 957 mestres e 758 doutores, sendo até os dias atuais o maior programa de pós-graduação stricto sensu em Geografia do Brasil, com 124 alunos de mestrado e 145 de doutorado matriculados neste momento. No que tange a aspectos qualitativos, essa produção se mede pelo conhecimento que carrega, sendo acompanhada pela formação desses pesquisadores (mestres e doutores), que compõem os quadros profissionais para o ensino (em todos os níveis), para áreas técnicas (como cartografia, geoprocessamento e planejamento territorial) e, sobretudo, para a formação de um pensamento crítico sobre o Brasil e o mundo.

No âmbito do ensino superior, alunos egressos do PPGH atuam como docentes-pesquisadores em todas as regiões do País. Mas egressos do programa também se fazem presentes na educação básica, no Estado de São Paulo e em outras unidades da federação (muitas vezes, em suas regiões de origem,) levando excelência para o ensino de geografia para os níveis fundamental e médio.

Assim, não resta dúvida de que o Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas contribuiu e segue contribuindo para fazer o Brasil melhor.


Texto originalmente publicado em Jornal da USP sob autoria de Ana Fani Alessandri Carlos e Rita de Cássia Ariza da Cruz