Pesquisas abordam a trajetória de Elis Regina na MPB 

Trabalhos realizados no Programa de Pós-Graduação em História Social falam sobre a artista de 1965-1976 e na 'abertura política' brasileira

Por
Eliete Viana
Data de Publicação

 

Jair Rodrigues e Elis Regina no programa O Fino da bossa
Jair Rodrigues (1939-2014) e Elis Regina (1945-1982) no programa O Fino da Bossa, TV Record, que os cantores apresentaram de 1965 a 1967 e faz parte do período que a pesquisadora Rafael Lunardi abordou em sua dissertação de mestrado - Foto: Divulgação  


A cantora Elis Regina faleceu no dia 19 de janeiro de 1982.

Para marcar esses 40 anos e homenagear a cantora, que até hoje é lembrada e exaltada na música popular brasileira, lembramos da dissertação de mestrado Em busca do "Falso Brilhante". Performance e projeto autoral na trajetória de Elis Regina (Brasil, 1965-1976), da historiadora Rafaela Lunardi, realizada no Programa de Pós-Graduação em História Social, e defendida em 2011, sob orientação do professor Marcos Napolitano, do Departamento de História. 

Rafaela baseou-se em todos os discos de Elis (álbuns completos, compactos simples e duplos), materiais audiovisuais (DVDs e vídeos disponíveis na internet), artigos de imprensa (jornais, revistas e web) para compor seu trabalho sobre a cantora.

“Busquei o maior número de gravações da época, além de ter feito uma ampla pesquisa em arquivos da cidade de São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Porto Alegre e Curitiba por matérias escritas sobre ou por Elis, ou de eventos de que tenha participado”, conta.

Mas, este trabalho não aborda toda a trajetória da cantora, pois o objetivo é apresentar a carreira de Elis Regina como uma síntese dos dilemas de engajamento e mercado da música popular brasileira (MPB) nas décadas de 1960/70, e as transformações de sua trajetória musical nesse contexto.

O Fino da Bossa

Na dissertação, é lembrado que, desde quando a cantora foi vencedora do I Festival de MPB, em 1965, ela passou a apresentar, com grande sucesso, o programa da TV Record, O Fino da Bossa, ao lado do cantor Jair Rodrigues. E que tal programa ampliou o público de MPB e ia ao encontro dos anseios do projeto nacional-popular da esquerda nacionalista buscando aliar tradição e modernidade musical, temperado pela animação dos apresentadores.

Em 1966, O Fino sofreu forte concorrência com o programa Jovem Guarda, considerado sinônimo de alienação, e em 1967 foi tirado do ar pela emissora. Diante desta crise, e também das críticas que recebeu de críticos vanguardistas, como Campos, Medaglia e Veloso, assim como de nacionalistas, a exemplo de Tinhorão, a popularidade de Elis foi afetada em 1967.

A partir deste contexto, a questão central da pesquisa consiste em problematizar como a cantora resgatou o prestígio junto ao público, ao mercado e a crítica especializada, sobretudo, nos anos 1970, adequando-se aos novos paradigmas da MPB e mostrando-se outra persona à mídia e à audiência. 

“Nos anos 60, ela foi uma espécie de porta-estandarte da música brasileira, e posteriormente, uniu o samba, o baião, a bossa nova e a marcha ao pop, o rock e o soul, passando por todas as fases e dialogando com as diversas demandas do mercado de música no Brasil”, explica a pesquisadora. 
 

livro Em Busca do Falso Brilhante
O livro é fruto da dissertação de mestrado da autora - Foto: Divulgação


Abertura política  

O trabalho deu origem a um livro com o mesmo título da dissertação de mestrado, Em busca do Falso Brilhante – performance e projeto autoral na trajetória de Elis Regina (Brasil, 1965-1976), publicado em 2015 pela Intermeios. 

Na tese de doutorado, defendida em 2016, pelo mesmo programa de pós-graduação e com a mesma orientação, Rafaela voltou a falar de Elis Regina, mas não como foco central.

Com o título Preparando a tinta, enfeitando a praça: o papel da MPB na 'abertura política' brasileira (1977-1984), a pesquisadora procura analisar na tese o papel da MPB nos eventos de protesto no período final do regime militar, entre 1977 a 1984.

Nesse momento, a MPB esteve presente em shows, comícios, TV, rádios e em caminhões de som, embalando manifestações públicas contrárias ao regime e campanhas eleitorais promovidas por estudantes, partidos de oposição, nos quais destacaram-se o MDB, posteriormente PMDB, PT e PDT, movimentos sindicais, movimentos de bairro, pela Anistia e pelas Diretas Já.

Elis Regina entra nesta história porque ela, assim como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gonzaguinha, Gilberto Gil, entre outros do elenco já consagrado de MPB, esteve presente nessas manifestações.

Com este pano de fundo, o objetivo da pesquisa é compreender as atuações dela e desses artistas como agentes políticos, suas possíveis ligações com os partidos de oposição e o papel das canções na ressignificação dos valores políticos e na construção de um sentido de pertencimento coletivo na oposição ao regime militar.
 

Elis Regina sorrindo e com óculos
Elis Regina teria 77 anos se fosse viva. A cantora vendeu 4 milhões de discos em seus 18 anos de carreira e ainda hoje continua sendo muito ouvida. Segundo o Portal UOL, só no Spotify, um dos serviços de streaming de música, podcast e vídeo mais populares, são mais de 2 milhões de ouvintes por mês - Foto: Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional

 

 Com informações de matéria da Agência USP de Notícias