Queda de Troia

A Guerra de Troia é extensamente retratada em "Ilíada", de Homero, e sua queda em "Eneida", de Virgílio

Por
Alice Elias
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Queda de Troia
Segundo André Malta, "os estudiosos acham muito improvável que a Guerra de Troia tenha acontecido por causa do rapto de uma mulher, e por isso buscam outras causas, especialmente econômicas". (Arte: Renan Braz)

 

A queda de Troia aconteceu na Antiguidade Clássica, período fortemente marcado pela oralidade. Cultura, mitologia e História se misturavam em textos transmitidos oralmente, sustentados pela memória do falante/interlocutor, em um tempo em que o acesso aos livros não era democratizado.

Os registros escritos estudados atualmente mesclam História e Literatura, e ainda é muito difícil diferenciar mito de realidade. “O que a gente entende por fabulação os gregos viam como acontecimentos reais do passado”, explica André Malta Campos, professor de Língua e Literatura Grega na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

A Guerra de Troia é extensamente retratada em Ilíada, de Homero, e sua queda em Eneida, de Virgílio, na qual os gregos são caracterizados como traiçoeiros. Para entender mais sobre os elementos da cultura grega, confira a entrevista completa:

Serviço de Comunicação Social: Em linhas gerais, qual o contexto, e como foi a Guerra da Troia?

André Malta: O contexto é o rapto de Helena, a esposa de Menelau, pelo troiano Páris. Os gregos, seguindo um acordo estabelecido à época da escolha do marido de Helena, unem-se então para trazê-la de volta. É isso que provoca os dez anos da guerra. Por trás do rapto está Afrodite, a deusa do desejo, espécie de "protetora" de Páris, como a gente vê no Canto 3 da Ilíada, onde ela o salva de ser morto por Menelau.

Serviço de Comunicação Social: E como foi a queda de Troia?

André Malta: A queda de Troia aconteceu através do estratagema decisivo do cavalo de madeira. Os gregos simularam uma partida, deixando o imenso cavalo como suposto presente aos deuses. Os troianos o levaram para dentro da cidadela e à noite, quando todos dormiam, os gregos saíram de dentro do cavalo para abrir os portões para os demais guerreiros. A narrativa não está na Ilíada, de Homero, que acaba antes do fim da guerra, mas aparece no Livro 2 da Eneida de Virgílio, onde os gregos são pintados como traiçoeiros.

Serviço de Comunicação Social: Os registros sobre a Guerra são, em grande medida, permeados por elementos fictícios/mitológicos. Como podemos diferenciar mito de realidade?

André Malta: É difícil diferenciar mito de realidade. O que a gente entende por fabulação os gregos viam como acontecimentos reais do passado, embora houvesse discussão a respeito. Por exemplo: os estudiosos acham muito improvável que a Guerra de Troia tenha acontecido por causa do rapto de uma mulher, e por isso buscam outras causas, especialmente econômicas. Mas até mesmo quando lemos historiadores como Heródoto, percebemos que essa fronteira, tão importante para nós, podia ser borrada ou não existia da mesma maneira.

André Malta Campos é mestre e doutor em Letras Clássicas pela FFLCH. Desde 2001, é professor de Língua e Literatura Grega na FFLCH. É autor de O Resgate do Cadáver: o Último Canto da Ilíada (Humanitas/2000) e da Tetralogia Homérica composta por: A Selvagem Perdição: Erro e Ruína na Ilíada (Odysseus/2006), Homero Múltiplo: Ensaios sobre a Épica Grega (Edusp/2012), A Musa Difusa: Visões da Oralidade nos Poemas Homéricos (Annablume/2015) e A Astúcia de Ninguém: Ser e Não Ser na Odisseia (Impressões de Minas/2018).