A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP comunica, com profundo pesar, que faleceu na madrugada desta sexta-feira, o professor emérito da Faculdade, Antonio Candido de Mello e Souza. O velório está sendo realizado, até às 17h, no Hospital Albert Einstein, localizado na Av. Albert Einstein, 627/701 – Morumbi, São Paulo.
Em virtude do falecimento do professor, foram suspensas as aulas na Unidade no dia de hoje. A Reitoria decretou luto oficial na USP, nos dias 12, 13 e 15 de maio.
“A Faculdade está enlutada. O falecimento de Antonio Candido, um dos seus mais notáveis mestres, deixa toda a comunidade triste e, porque não dizer, empobrecida. Uma figura importante para a vida intelectual brasileira e para todos que estudam a cultura. Pois, o professor inovou nos estudos sobre a formação do Brasil, inaugurando toda uma vertente na crítica literária no país, com desdobramentos no exterior também. A FFLCH perdeu, hoje, uma de suas referências centrais. Uma pessoa eticamente comprometida com a Universidade e a Faculdade” destaca e lamenta a diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda.
Vida acadêmica
Antonio Candido nasceu em 1918, no Rio de Janeiro. Em 1939, ingressou no curso de Direito e de Ciências Sociais e Filosofia, ambos na USP, chegando a formar-se somente em Ciências Sociais e Filosofia, no ano de 1942. No mesmo ano, iniciou sua carreira universitária na USP, como professor assistente, a convite de Fernando de Azevedo, onde foi colega de Florestan Fernandes.
Tornou-se livre-docente de Literatura Brasileira, em 1945, e doutor em Ciências, em 1954, com a tese “Os Parceiros do Rio Bonito”, sobre o caipira paulista e sua transformação, publicada em 1964. Entre 1958 e 1960, foi professor de literatura brasileira na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, hoje integrada à Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Em 1961 regressou à USP e, em 1974, tornou-se professor titular de Teoria Literária e Literatura Comparada, na então Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências, atual FFLCH, até sua aposentadoria em 1978. Porém, permaneceu ligado à pós-graduação e à orientação de trabalhos acadêmicos.
O professor estreou como crítico literário ainda na época de universitário, em 1941, na revista Clima, que foi fundada por ele, pelo crítico de teatro Décio de Almeida Prado (1917-2000), o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977), e a ensaísta Gilda de Mello e Souza (1919-2005), entre outros. Entre suas obras mais influentes e polêmicas em crítica literária está a “Formação da Literatura Brasileira”, lançada em 1959, na qual estuda os momentos decisivos da formação do sistema literário brasileiro.
Paralelo às atividades literárias, Candido militou no Partido Socialista Brasileiro e participou do Grupo Radical de Ação Popular. Posteriormente, participou do processo de fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).
Antonio Candido era viúvo de Gilda de Mello e Souza, professora de Estética no Departamento de Filosofia, que faleceu em 2005, e pai de Ana Luísa e das professoras Marina e Laura de Mello e Souza, ambas do Departamento de História da FFLCH.
Repercussão
“É uma grande perda especialmente pra a Faculdade de Filosofia, da qual ele foi uma das mais importantes figuras. Umas das coisas notáveis que fez foi a criação do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada. Foi defensor infatigável da Faculdade durante a ditadura militar. E lembro também que formou um numero enorme de mestres e doutores que se espalharam pelo Brasil".
Walnice Nogueira Galvão, professora emérita da FFLCH
“Eu fui aluno do professor Antonio Candido no segundo ano de Ciências Sociais. Ele não era ligado ainda à literatura como professor. Na época, eu estava lendo o livro ‘Parceiros do Rio Bonito’, e ele pediu que eu trouxesse letras de músicas caipiras da minha terra. Nós tínhamos afinidade muito grande pois nos falávamos semanalmente por telefone. A última vez foi nessa quarta, ele estava alegre e cheio de esperança de vida”.
João Baptista Borges Pereira, professor emérito e ex-diretor da FFLCH.
Confira aqui a matéria publicada no Jornal da USP sobre o falecimento do professor, que contém também (no final da página) uma entrevista concedida à Rádio USP pela professora e diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda, sobre o assunto, no dia 12/05/2017.