Doutoranda de Geografia é representante do Brasil em plataforma dos jovens no G20

São três delegados para cada País, os quais têm o papel de representar a juventude e propor soluções aos líderes mundiais. Neste ano, o evento será virtual, entre os dias 12 e 18 de outubro, com transmissão de Riad, capital da Arábia Saudita

Por
Eliete Viana
Data de Publicação
Editoria

 

Isabela Battistello Espindola
​Isabela tem graduação em Relações Internacionais e Economia, mestrado em Ciências Ambientais e atualmente é doutoranda em Geografia Humana na FFLCH - Foto: Acervo Pessoal 


Isabela Battistello Espindola, doutoranda do programa de pós-graduação em Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, é uma das três representantes do Brasil no Youth 20 (Y20), a plataforma oficial dos jovens no G20 - abreviatura para Grupo dos 20, que é formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais da União Europeia e dos 19 países com as maiores economias do mundo.

O Y20 reúne delegados dos países que participam do G20, os quais têm o papel de representar a juventude de seus países ou organizações internacionais e propor soluções aos líderes mundiais. "O foco do Youth 20 é dar um espaço para os jovens serem ouvidos”, ressalta Isabela, que começa desde quando recebem a tarefa de divulgar a participação deles no evento.

Neste ano, o evento será realizado virtualmente, entre os dias 12 e 18 de outubro, com transmissão on-line a partir de Riad, capital da Arábia Saudita. O encontro precede a reunião oficial do G20, que acontecerá em 21 e 22 de novembro.

Os temas debatidos no evento serão em três áreas: Future Fit,Youth Empowerment e Global Citizens, envolvendo questões como futuro do trabalho, capacitação de jovens lideranças, multiculturalismo e desenvolvimento sustentável. Ao término do evento, um documento com as políticas sugeridas é entregue aos chefes de Estado para que possa ser, de alguma forma, aproveitado. Este documento é elaborado ao longo dos treinamentos e discussões que são realizadas antes do evento. 

Todos os assuntos vão ser abordados por todos os países, mas a delegação brasileira escolheu como foco as questões de meio ambiente e a governança tranfronteiriça dos recursos naturais.

Seleção 

Cada país participante do Y20 pode selecionar até três delegados, cada um direcionado para o debate de um dos temas do Youth 20 deste ano, mas que tomam as decisões juntas representando o País. 

O processo de seleção da delegação brasileira foi conduzido pelo Diplomacia Civil, programa do Instituto Global Attitude, que é uma iniciativa pioneira de inclusão e engajamento da sociedade civil brasileira na agenda internacional, por meio da capacitação e coordenação de delegações para conferências internacionais de alta relevância. A seleção começou em julho e teve cerca de 250 pessoas de todo o País participando. 

Para se tornar um delegado, os pré-requisitos eram ter entre 20 a 35 anos, ter a nacionalidade da delegação que representa e engajamento do jovem na temática do evento, o que significa não só participar de redes sociais, mas lutar por uma causa, ter um ativismo e se engajar nas políticas públicas. A  fluência em inglês também foi considerada, visto que é um requisito muito importante para a comunicação entre os delegados durante os treinamentos e durante o evento. 

Os outros dois delegados do Brasil também são da USP, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH): Beatriz Mendes Chaves e Felipe Antonio Honorato, respectivamente aluna e ex-aluno do curso de Gestão de Políticas Públicas.
 

dois representantes delegação brasileira
Foto: Divulgação
 

Treinamento 

Y20A cada ano são selecionados outros participantes. O Y20 possui uma rede Alumni dos ex-delegados, o que acaba sendo uma forma de continuar com uma integração entre os representantes e discutir temas relevantes internacionalmente. 

Antes da realização do encontro, de agosto até o começo de outubro, os delegados passam por um treinamento composto por nove módulos e vários subitens, que abordam questões como engajamento, comunicação efetiva / assertiva, resolução de conflitos, formulação de políticas públicas, organizações nacionais, transnacionais e redes de políticas na esfera global, além dos impactos da Covid-19 na juventude. 

Durante este processo, os jovens já começam a discutir os pontos principais do documento que será entregue para o G20. Uma das últimas atividades realizadas foi a divulgação de uma declaração sobre a Covid-19, produzida com todos os delegados do Y20 para os líderes do G20. Clique aqui para acessar o conteúdo.

Normalmente, em dois dias da semana há reunião com os outros delegados, por cerca de duas horas - para treinamento, networking, discussões. Além disso, os delegados brasileiros estão conversando diariamente por WhatsApp e semanalmente pelo Zoom. E, aos finais de semana fazem reuniões com outras delegações. Como não dá tempo de aprofundar os trabalhos com todas as delegações, os representantes brasileiros definiram como estratégia conversar com as delegações do México, Estados Unidos, Argentina, por terem interesses em comum, e também com a Arábia Saudita, por ser o país sede do fórum.

Formação interdisciplinar

Isabela tem graduação em Relações Internacionais e Economia pela Faculdade de Campinas (FACAMP), tem mestrado em Ciências Ambientais pelo programa de pós-graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Como doutoranda, está desenvolvendo a tese Gestão de recursos hídricos tranfronteiriços na América do Sul: a contribuição do comitê intergovernamental coordenador dos países da Bacia do Prata (CIC), sob a orientação do professor Wagner Costa Ribeiro, do Departamento de Geografia, com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

É pesquisadora vinculada ao Laboratório de Geografia Política (GeoPo) e integrante do grupo de pesquisa Geografia Política e Meio Ambiente, ambos da USP, e também do grupo Novos Direitos, da UFSCar. É membro das redes Water Youth NetworkClimate Reality Leaders e da Rede de Pesquisadores em Geografia (Socio) Ambiental. Tendo como principais áreas de atuação: direito humano à água, recursos hídricos, hidropolítica, águas transfronteiriças, Bacia do Prata e América do Sul.

Ao ser perguntada sobre o que lhe atraiu na área de Geografia Humana tendo um currículo interdisciplinar, Isabela destaca que “na FFLCH, a gente tem uma diversidade maior de temas. Na Geografia Humana trabalhamos muito com Geopolítica, que tem muita ligação com RI [Relações Internacionais]. E é muito bom conseguir desenvolver este debate sobre questões internacionais dentro da Geografia. As instituições de fora têm esta característica também, cada vez mais se quer um profissional que possa ver o problema sob diversas óticas, transversal", explica.

A doutoranda comenta também que o próprio evento Y20 quer isso dos delegados, para que os representantes consigam discutir questões de forma transversal. Todo o trabalho desenvolvido pelos jovens é voluntário, mas segundo Isabela compensa por ser "uma troca de experiências muito grande. Coloco o meu conhecimento da pesquisa na discussão, que aborda conflitos, e ao contrário também acontece", declara a discente, já que na sua pesquisa ela usa muitos documentos e legislações internacionais, e provavelmente usará a declaração, da qual será co-autora, e os documentos abordados no Y20 na sua tese.

A aluna acrescenta que a participação de jovens universitários em um fórum como o Y20 acaba sendo importante não só para a formação deles, mas também para a universidade também. “A participação da universidade é fundamental, pois um fórum internacional como esse é uma atividade de extensão”, destaca.