Wakabayashi retratou em suas obras o sofrimento que viveu na adolescência no Japão em guerra
Em dezembro de 2021, faleceu o artista plástico nipo-brasileiro Kazuo Wakabayashi aos 90 anos de idade. Nem todos já ouviram falar em seu nome, mas seu legado na arte é enorme e permanece vivo. O pintor ganhou prêmios importantes como o Salão de Abril do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1966 e a Bienal de São Paulo em 1967. A relevância de Wakabayashi no cenário artístico foi reconhecida por Maria Fusako Tomimatsu, doutora em Literatura Comparada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que escreveu, em 2017, a biografia Kazuo Wakabayashi: Um Artista Imigrante.
O artista nasceu em 1931 em Kobe, no Japão, e se mudou para São Paulo com 30 anos de idade. A autora de sua biografia, que também é pintora e atua na área de Estudos Japoneses na USP, conta que se inspirou para escrever o livro ao visitar exposições de artistas nipo-brasileiros. As pinturas de Wakabayashi chamaram-lhe a atenção: “suas obras denunciavam a sua origem nipônica, em meio às obras de seus colegas que não tinham nada que identificasse suas origens, salvo seus próprios nomes”.
Escrevendo a biografia, Tomimatsu constatou que “Wakabayashi viveu em pessoa a necessidade de recorrer à arte para continuar respirando. É assim que procedem o poeta e o pintor, amenizam o mundo dos homens, enriquecendo as almas das pessoas”. Ela conta que suas obras carregam o “signo da morte”, porque desde muito jovem o pintor precisou lidar com situações dolorosas.
Com apenas 11 anos, experienciou a morte de seu pai, que o transformou em único herdeiro responsável pela família. Ainda criança, sentiu o peso das responsabilidades de um adulto. Além disso, viveu no Japão o período de guerra e viu a casa onde cresceu ser bombardeada.
“Presumo que o jovem artista deva ter concebido precocemente o entendimento de vida e morte de uma maneira peculiar”, conclui Tomimatsu. Ela relata que todo esse sofrimento gerou em Wakabayashi um sentimento de rebeldia e uma vontade de se afastar de seu país. O pintor se encontrou artisticamente no Brasil, onde deixou uma grande herança cultural.
Um texto de divulgação escrito por Tomimatsu sobre a biografia de Wakabayashi pode ser conferido neste link.