Exposição celebra a vida e a obra de Alfredo Bosi em suas múltiplas facetas

Realizada pelo IEA em parceria com o Centro MariAntonia, mostra propõe aproximar autor de diferentes públicos

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Redação
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“Vendo de mais perto o texto, percebe-se que a giesta nasce e cresce apenas no ermo e no chão árido, sendo,
portanto, coextensiva e coexistente com suas origens perigosas. [...] Resistir é subsistir no eixo negativo que
corre do passado para o presente; e é persistir no eixo instável que do presente se abre para o futuro.”
Alfredo Bosi

Entre os dias 21 de março e 26 de maio de 2024, o Centro MariAntonia da USP recebe a exposição Alfredo Bosi: entre a crítica e a utopia, realizada em parceria com o Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP). Com curadoria de Viviana Bosi, professora de literatura e filha de Alfredo e Ecléa Bosi, a mostra parte do acervo do historiador da cultura, professor e crítico literário para iluminar aspectos de uma trajetória bastante coesa, marcada por fortes compromissos éticos na vida pessoal, acadêmica e na militância.

“É com alegria que compartilhamos com todos os interessados aspectos dessa vida dedicada a revelar a beleza e a potência da literatura para a compreensão dos processos históricos, sempre ao lado de uma persistente e generosa busca por tudo o que pudesse contribuir para a justiça social e o bem comum, notadamente em relação à educação pública, aos direitos humanos, ao respeito à natureza e aos mais desprotegidos socialmente”, ressalta Viviana Bosi.

A escolha do edifício Rui Barbosa do Centro MariAntonia como local da exposição não é fortuita. Foi nesse endereço que, entre os anos 1955 e 1959, Alfredo Bosi frequentou o curso de letras neolatinas da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, onde teve seu primeiro contato com autores fundamentais para a formação de seu método crítico. Foi no prédio histórico também que, de volta ao Brasil após cumprir uma bolsa de estudos em Florença, na Itália, o crítico começou a dar aulas de literatura italiana durante os anos 1960, período em que o golpe militar de 1964 e os eventos de 1968 levaram-no a querer dar um mergulho mais profundo na literatura nacional em busca de momentos de insubordinação aos discursos de dominação. A História concisa da literatura brasileira (1970), escrita a pedido do poeta, tradutor e, à época, editor José Paulo Paes, é resultado dessa investigação.

Essas são algumas das passagens do percurso de Alfredo Bosi que o visitante poderá conhecer na exposição, que traz documentos pessoais, fotos do álbum de família, cartas trocadas com personalidades como o também crítico e professor Antonio Candido e o poeta Carlos Drummond de Andrade, manuscritos e datiloscritos com estudos e o planejamento de aulas, além de objetos de seu uso pessoal e profissional, como uma máquina de escrever.

A exposição oferece ainda alguns “pontos interativos”. São encadernados e reproduções facsímiles para manuseio. Entre eles está a adaptação ilustrada feita por Paulo e Cecília de Salles Oliveira ao ensaio “Os trabalhos da mão”, publicado em O ser e o tempo da poesia (1977).

Dividida em cinco eixos, começando pela infância e juventude do crítico, a mostra aborda a formação e atuação de Alfredo Bosi como docente de literatura no secundário e na USP, na qual lecionou por mais de 40 anos, além de sua militância junto a entidades como o Centro de Defesa de Direitos Humanos D. Paulo Evaristo, em Cotia, a Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, e na Pastoral Operária de Vila Yolanda, em Osasco, SP, nos anos 70. Reunindo-se com os operários nos fins de semana a convite do padre Domingos Barbé, “Alfredinho”, como era conhecido pelos frequentadores por seu jeito afetuoso, lia com eles obras como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, suscitando reflexões e o estímulo à construção de coletivos organizados de trabalhadores. Também em sua atuação no Instituto de Estudos Avançados, onde foi diretor (1998-2001), vice-diretor (1987-1997 e 2002-2006) e editor da revista por mais de três décadas (1989 - 2019), a mostra destaca o desejo do professor de contribuir com pesquisas para a criação de políticas públicas transformadoras, aumentando os pontos de contato entre a universidade e a sociedade.

Central na exposição, o eixo dedicado ao pensamento crítico do autor evidencia, por meio da apresentação de algumas de suas principais obras, questionamentos que o acompanharam desde muito cedo em seus estudos, como a relação complexa entre expressão subjetiva e experiência histórica na literatura. Tirada de um dos últimos poemas do italiano Giacomo Leopardi, a imagem da flor de giesta, espécie que nasce nas encostas do Vesúvio, foi escolhida por Alfredo Bosi para falar da resistência que muitas vezes se manifesta na poesia. Décadas após o ensaio de 1977 em que a imagem é apresentada pelo autor, uma giesta foi plantada na casa onde ele viveu com a esposa, a professora de psicologia e escritora Ecléa Bosi, paixão de toda a vida que é contemplada na exposição por meio de um depoimento inédito de Alfredo Bosi, concedido à Academia Brasileira de Letras em 2003.

“É uma singela homenagem a uma pessoa da dimensão do professor Alfredo Bosi”, diz Roseli de Deus Lopes, vice-diretora do IEA e coordenadora da mostra. “Ele é daqueles que iluminam caminhos, por isso a exposição é importante: para que a gente possa compartilhar com outras pessoas que não tiveram a oportunidade de conhecê-lo elementos de sua vida pessoal, acadêmica e postura política. É uma satisfação muito grande poder propiciar esse momento de inspiração para quem vier para a exposição”.

Confraternização de abertura

Como parte da programação do evento, haverá uma mesa de abertura da exposição às 18 horas do dia 21 de março de 2024. Dela farão parte Alcides Villaça (FFLCH-USP), Pedro Meira Monteiro (Universidade de Princeton, EUA) e Augusto Massi (FFLCH-USP), professores de literatura brasileira que, tendo sido alunos, orientandos e amigos de Alfredo Bosi, puderam conhecê-lo em suas múltiplas facetas.

Além deles, a mesa contará também com a participação dos professores Guilherme Ary Plonski e Roseli de Deus Lopes, diretor e vice-diretora do IEA. A mediação será feita por Viviana Bosi, curadora da exposição. Após as falas, haverá uma confraternização para celebrar a inauguração da exposição.

Serviço:
Exposição Alfredo Bosi entre a crítica e a utopia
Abertura 21 de março a partir das 19 horas
Onde Centro MariAntonia da USP – Edifício Rui Barbosa
Rua Maria Antônia 294 – Vila Buarque – São Paulo, SP (próximo às estações Higienópolis e
Santa Cecília do metrô)
Quando de 21 de março a 26 de maio de 2024
Visitação terça a domingo e feriados, da 10 às 18 horas
Quanto Grátis
Informações (11) 3123-5202

Programação:
Mesa de abertura da exposição “Alfredo Bosi: entre a crítica e a utopia”
Quinta-feira, 21 de março de 2024 - 18 horas

Abertura:
Guilherme Ary Plonski, diretor do IEA-USP
Roseli de Deus Lopes, vice-diretora do IEA-USP

Palestrantes:
Alcides Villaça (FFLCH-USP)
Augusto Massi (FFLCH-USP)
Pedro Meira Monteiro (Universidade de Princeton, EUA)
Mediação:
Viviana Bosi (FFLCH-USP)

Por Ananda Silva de Almeida e Leandra Rajczuk Martins

Mais informações: www.fflch.usp.br/169372