Haicais - poesias simples e emocionantes popularizadas no Brasil e no resto do mundo
Dia 11 de novembro, segunda-feira, ocorreu o evento de comemoração dos 380 de Matsuo Bashô, poeta e mestre na arte do Haicai. O encontro contou com a participação de três especialistas em Haicai e em Bashô: Cacio José Ferreira, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Diogo César Porto da Silva, doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Filosofia pela Kyushu University (Fukuoka - Japão), e Francisco Handa, poeta, haicaísta e monge budista. A coordenação do evento foi feita pela professora Lica Hashimoto e a mediadora da comemoração, professora Neide Hissae Nagae, ambas do Departamento de Letras Orientais.
Neide fala sobre como a poesia haicai chegou e se popularizou no Brasil. Afrânio Peixoto, ocupante da sétima cadeira da Academia Brasileira de Letras, difundiu a partir das trovas populares brasileiras os primeiros haicais no país, em 1919. Ele os chamou de epigrama lírico. A professora afirma que o haicai é o maior símbolo das confluências entre Brasil e Japão, porém não há muitos especialistas em haicai no curso de japonês da FFLCH.
Cacio José continua o assunto proposto pela professora focando nas relações entre o haicai e o estado do Amazonas. Assim como São Paulo, o estado que integra a floresta amazônica também foi um grande polo de imigração japonesa na década de 1930. Até hoje lá existem várias colônias japonesas amazonenses e é feito o maior festival de cultura japonesa do Brasil, o Jungle Matsuri. Além de ter muitos haicaístas e admiradores de Matsuo Bashô.
A popularidade da arte de Bashô atravessa diversos países, e mesmo com a sua simplicidade não perde força e nem emoção. O poeta visava ilustrar com as suas poesias elementos e fenômenos da natureza e as emoções humanas. Ele dedicou sua vida ao zen budismo e na observação da imperfeição das coisas. O professor da UFAM compara a história de Macunaíma, de Mário de Andrade, com a filosofia dos haicais de Bashô. Segundo ele, os dois valorizavam o efêmero, o movimento e a simplicidade como a essência da existência. No Japão, Bashô captura a alma budista da aceitação e da contemplação da mudança constante. No Brasil, o anti-herói, Macunaíma, é um espelho de uma cultura que flui, se adapta e se transforma. Ao final, Cacio leu alguns haicais de autores amazonenses e os explicou.
Francisco Handa, autor do livro Silêncio das Maritacas, haicais de uma pandemia, começa a sua fala nos explicando que no Brasil o haicai que conhecemos na verdade seria chamado de haiku - que são apenas as três primeiras estrofes de um haicai. O nome “haicai” foi popularizado no território brasieliro por ser mais atrativo. Francisco contou mais detalhadamente sobre a vida de Matsuo Bashô. Viveu no período Edo do Japão. Uma época de paz depois de muitas guerras. Bashô, assim como seus discípulos, era da classe guerreira, que no momento estava em ócio. Porém, diferente de seus discípulos, o poeta não tinha terras e tinha que trabalhar para sobreviver. Ele entrou em contato com o haicai pela primeira vez sendo serviçal em um palácio. Também teve proximidade com a literatura clássica chinesa, Kanshi, sua base para escrever seus próprios haicais. Bashô fundou a sua própria escola de haicai por meio da ajuda financeira de seus alunos. A escola se inspirou no modelo escolar moderno e permissivo da época, porém, segundo Francisco, com mais elegância. O palestrante alerta os convidados sobre a associação entre haicai, Bashô e o zen budismo. Bashô, na maioria das vezes, representado como monge budista, somente teve essa ocupação por um curto período de tempo em sua vida.
Depois da fala dos palestrantes, os organizadores do evento ordenaram um sorteio de livros com a temática haicai para os convidados.
A comemoração pode ser vista através do canal do Youtube da FFLCH.