Texto em apoio aos médicos do Hospital das Clínicas que tentam obter justiça diante do assassinato de seu filho por membros da Polícia Militar
A Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas vem expressar apoio aos colegas Silvia Mónica Cárdenas Prado e Julio César Acosta Navarro, médicos do Hospital das Clínicas desta Universidade, que tentam obter justiça diante do assassinato do seu filho, o estudante de medicina Marco Aurelio Cárdenas Acosta, por membros da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
O caso do Marco Aurelio foi um dos que ocuparam a atenção de diários e telejornais nos últimos meses de 2024, no contexto do incremento da letalidade policial no Estado. Morto em 20 de novembro durante uma abordagem em um hotel, o registro das câmaras desmentiu imediatamente a versão inicial dos militares, mostrando que o jovem foi executado a sangue frio, sem que houvesse qualquer agressão prévia por parte dele. Em 3 de janeiro, encerrado o inquérito policial civil, o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa pediu a prisão dos policiais executores. No entanto, em uma decisão de primeira instância da justiça estadual, a prisão foi negada.
O pai e a mãe de Marco Aurélio têm desenvolvido, desde novembro, uma corajosa luta que já lhes possibilitou serem recebidos pelo Ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e pelo Arcebispo de São Paulo, cardeal Odilio Scherer, dentre outras autoridades. Merece destaque o compromisso coletivo que ambos imprimem à sua demanda por justiça. Eles foram os principais mentores da audiência de 10 de fevereiro na Assembleia Legislativa sobre violência policial no Estado, que permitiu a expressão pública de outras mães e pais talvez com menos condições de acesso a espaços institucionais. E as cartas abertas que publicaram na mídia, direcionadas ao presidente da República e ao governador do Estado, contextualizam, com dados precisos sobre a violência policial, a tragédia que os atingiu. Como outras e outros familiares de vítimas da violência de Estado na história do país e do continente, percebem a relação entre sua dor e o interesse público e se tornam exemplo para a sociedade. Para a Universidade, essa atuação de dois de seus profissionais da saúde pode ser motivo de orgulho, porque expressa uma consciência cidadã cara a seus valores e princípios.
Por esses motivos, a Congregação manifesta admiração pelo empenho de Silvia Cárdenas Prado e Julio César Acosta Navarro, solidariedade diante da perda irreparável, e conclama as diferentes instâncias desta Universidade a se somarem às diversas expressões de apoio que eles têm recebido.