Ato reúne docentes, estudantes, funcionários e comunidade em defesa da FFLCH

Com o lema ‘a universidade pública é do povo’, evento foi marcado por manifestações em defesa da universidade pública e contra ameaças extremistas
Por
Isadora Batista e Rafael Dourador
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A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP realizou, na quinta-feira, 2 de outubro, o ato “Em defesa da FFLCH: a universidade pública é do povo”. Diversos setores da sociedade, entre instituições científicas, representantes políticos, docentes, discentes e funcionários/as participaram da manifestação, que durou aproximadamente quatro horas.

O diretor da Faculdade, Adrián Pablo Fanjul, defendeu a universidade pública como palco para debates sobre a desigualdade social, meio ambiente e os modelos de dominação e controle que se apoiam na desumanização e extermínio. Esse conhecimento motiva as invasões da extrema direita, que busca afastar o povo das universidades públicas do país. “Hoje estamos aqui para defender a universidade como espaço de conhecimento e também de práticas culturais, artísticas e políticas”.

O ato foi conduzido por falas de representantes de diferentes grupos sociais, mediados por Marie Pedroso, assistente acadêmica da FFLCH, Rhian Silva, aluno de História, e Vanessa Monte, professora Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH. Esta última foi também responsável pela leitura da mensagem do ministro da Fazenda e professor da FFLCH, Fernando Haddad, em apoio à Faculdade: “Essa crise não surgiu agora. Ela vem sendo gestada desde os anos 1990, quando a retração do Estado e os choques sucessivos do capitalismo transformaram a relação entre sociedade e poder público, corroendo a confiança na educação e na ciência. Temos convicção que o fortalecimento das universidades é a forma mais justa, eficiente e democrática de enfrentar a ascensão da extrema direita”.

Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP e docente do Departamento de Sociologia, também discursou em defesa da FFLCH. “Eu me sinto orgulhosa quando vejo uma manifestação como esta, porque vejo a força desta Faculdade”, disse. A professora, que vivenciou a ditadura na Universidade, recordou com pesar a violência sofrida na época: “Jamais me esquecerei de meus colegas desaparecidos”, completou.

Apresentações musicais intercalaram blocos do evento. A abertura ficou a cargo da bateria universitária Manda Chuva, que recentemente conquistou a 4ᵃ colocação no Grupo Ascendente (2ᵃ divisão) da TABU 2025 - uma das principais disputas da batucada competitiva nacional. Entre os blocos, funcionários da FFLCH, Marinês Mendes e Thiago Gomes Veríssimo, além de Thainá Pedroso, e o Núcleo de Artes Afrobrasileiras também se apresentaram para o público.

Ataques da extrema direita

Desde maio, a FFLCH vem recebendo ataques de grupos ligados à extrema direita em suas dependências físicas e contra seu corpo docente, discente e funcional. Neste sentido, o evento reafirmou o caráter público da Universidade, que se torna cada vez mais inclusiva para os setores populares como espaço de produção de conhecimento e também de participação social, cultural e política.

O tema foi abordado por diversas falas no ato, que condenaram os ataques e se solidarizaram à FFLCH. Docentes, políticos, funcionários e estudantes concordaram que se trata de uma ofensiva de caráter fascista, que visa descredibilizar a universidade pública para implementar as políticas de grupos de extrema direita. “A extrema direita tenta jogar a população contra a universidade pública, que é o seu próprio direito. O próximo passo é a privatização, a cobrança de mensalidade. É ideológico e tem a ver também com o movimento econômico”, afirmou Luana Alves, vereadora de São Paulo pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol).

Docentes da FFLCH também defenderam a Unidade. Marilena Chaui, Professora Emérita da FFLCH e docente do Departamento de Filosofia, enalteceu a imagem e importância da Faculdade, como espaço que reúne intelectuais. “Estes são ataques contra aquilo que o atacante sabe que é maior do que ele”, disse. André Singer, docente do Departamento de Ciência Política, destacou a necessidade de agir contra o objetivo dos autores de intimidar a Universidade: “Esta casa tem quase cem anos em defesa da liberdade de troca de ideias. Qualquer um que queira vir expor suas ideias para convencer os outros será bem-vindo. Para impor, jamais!”.

O momento também suscitou discussões sobre ações que a USP deveria tomar contra esses casos. Ronaldo de Almeida, diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou sobre a importância de entender este como um problema da Universidade e levar os casos para o Poder Judiciário, como fez a Unicamp. A estadual campinense foi atacada no primeiro semestre deste ano por grupos radicais e encontrou suporte na união entre institutos, reitoria, políticos e imprensa nacional.

Foto: Renan Braz/ Serviço de Comunicação Social FFLCH-USP
Foto: Renan Braz/ Serviço de Comunicação Social FFLCH-USP

Palestina

O conflito entre Israel e Palestina também foi pauta no evento. No dia 1º de outubro, a Flotilha Global Sumud, que levava ajuda humanitária à Gaza, foi interceptada pelo governo israelense. Entre os tripulantes do barco capturado, estavam dois funcionários da USP: Bruno Sperb Rocha, servidor técnico administrativo da FFLCH, e Magno Carvalho Costa, da ECA e militante do Sintusp.

“Os dois sempre estiveram batalhando pela defesa de uma universidade verdadeiramente pública, lutando contra toda a precarização e processos de privatização”, defendeu Vanessa, esposa de Bruno. Ela ainda fez um apelo ao rompimento das parcerias da USP com Israel: “Quais são as manchetes que estão esperando aparecer para que nós rompamos todas as relações de todos os tipos com o estado sionista de Israel?”.

Foto: Renan Braz/ Serviço de Comunicação FFLCH-USP
Foto: Renan Braz/ Serviço de Comunicação FFLCH-USP

A exemplo da Unicamp, que rompeu acordo com um instituto israelense de pesquisa, manifestantes pediram a ruptura dos convênios da USP com instituições israelenses e da parceria com o Consulado Geral de Israel em São Paulo para a realização do Israel Corner, projeto dedicado à divulgação da cultura e da história de Israel. Beatriz Ribas, diretora de Movimentos Sociais da União Nacional dos Estudantes (UNE), falou que é inadmissível que a USP ainda mantenha essas relações: “Foi a última universidade do país a aprovar cotas raciais e provavelmente também será a última a romper relações com Israel”.

Em 2024, a FFLCH inaugurou o Centro de Estudos Palestinos (CEPal) com o objetivo de reunir pesquisadores das ciências humanas que tenham a Palestina como tema de pesquisa e valorizar a produção de conhecimento sobre a história do povo e do território palestino. “O genocídio em curso na Palestina tem alcançado um grau de violência e desigualdade por parte do sionismo do governo israelense, com apoio norte-americano, que nos parece comparável ao Holocausto” argumentou Hélder Garmes, conselheiro do CEPal. Ele ainda defendeu a denúncia aos ataques da extrema-direita, manifestando apoio a qualquer ato que combata opressão, totalitarismo e discriminação.

Foto: Gabriela César/ Serviço de Comunicação FFLCH-USP
Foto: Gabriela César/ Serviço de Comunicação FFLCH-USP