O professor Wagner Costa Ribeiro, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, foi convidado para integrar a delegação oficial do governo brasileiro na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP30). Wagner, que é pesquisador sobre ordem ambiental internacional, participou das negociações assessorando o Estado em eventuais tomadas de decisões — além de realizar palestras sobre seus temas de pesquisa.
Papel da Universidade na crise climática
O docente, que é também vice-prefeito do Campus Capital-Butantã, participou de três eventos durante a COP. Em um deles, chamado “Ações de Sustentabilidade nas Universidades: o que fazer pós COP 30?”, Wagner explicou sobre a execução do Plano Diretor do Campus Butantã da USP, que tem como premissa reformas ambientalmente sustentáveis, como jardins de chuva, piso drenante e corredores ecológicos. “Para algumas universidades que estavam lá presentes, as premissas sustentáveis eram algo a ser pensado. Nós, na USP, já temos alguns exemplos de ações reais concretas sendo feitas”, destacou.
A Universidade, especialmente as humanidades, tem muito a contribuir no enfrentamento da crise climática e na aplicação das soluções propostas durante a COP, de acordo com Wagner. “Temos debates técnicos qualificados, que envolvem conhecer os processos climáticos, geomorfológicos, da natureza — acoplados aos processos sociais, desenvolvimento econômico e social”.
Tensões na Conferência
Wagner destaca que temas importantes entraram em debate no evento, mas, apesar disso, não houve avanço em soluções concretas sobre o futuro da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento. O geógrafo afirma que o maior embate sobre o tema foram dos países produtores de petróleo, como o Irã e a Arábia Saudita, que foram contra a inserção do “Mapa do Caminho” nos documentos oficiais. O Mapa é um roteiro, proposto pelo Brasil, para o fim do uso dos combustíveis fósseis, que são os principais emissores de gases de efeito estufa e causadores do aquecimento global.
O encerramento do evento estava previsto para 21 de novembro, mas a plenária do dia foi suspensa após um grupo de 30 países se recusar a assinar a carta final da COP30 sem a inclusão do “Mapa do Caminho” no texto. O episódio gerou um impasse diplomático: países como o Irã e a Arábia Saudita rejeitavam o documento justamente por conter o “Mapa do Caminho”, enquanto nações como Colômbia e Alemanha condicionavam suas assinaturas à presença do item no acordo final.
A solução encontrada foi a elaboração de dois mapas paralelos aos textos oficiais, que serão desenvolvidos pela presidência do evento até a próxima COP. Para Wagner, essa tensão entre os países era esperada, pois o cenário político externo é muito diverso — existem países céticos em relação à defesa do meio ambiente e outros que querem mitigar os efeitos da crise climática.
“Essa é uma COP para regular o capitalismo, por isso que ela enfrenta tanta resistência.”
Wagner Costa Ribeiro
Pontos positivos
Por outro lado, o geógrafo destaca que foi a primeira vez que povos originários foram mencionados nos documentos oficiais da COP. No texto “Mutirão Global", foi reconhecida a importância dos direitos territoriais e dos conhecimentos indígenas como uma política de redução de emissões de longo prazo. Além disso, o documento final “Plano de Ação de Gênero” reconheceu que os impactos das mudanças climáticas não atingem da mesma forma mulheres e meninas e, por isso, possuem um papel essencial nas problemáticas ambientais.
A Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP que reúne a sociedade civil e os movimentos sociais em busca de soluções para a crise climática, é outro ponto alto da Conferência para Wagner. Durante a última reunião da Cúpula, ocorreu uma manifestação de crianças que, juntas, organizaram a Carta das Infâncias. O professor explica que isso é importante porque “há uma defasagem entre as gerações que causaram o problema da crise climática, as que estão aqui agora e as que estão por vir, e que terão de enfrentar um mundo muito mais complexo, para dizer o mínimo”.
Outro aspecto positivo mencionado por Wagner foi a realização da COP em Belém, pois possibilitou que estrangeiros conhecessem a realidade de povos amazônicos e compartilhou a cultura belenense com o mundo. Segundo o geógrafo, o Governo Federal distribuiu atividades culturais por toda a cidade, como exposição de ações socioambientais e degustação da culinária local. “A COP foi organizada na Amazônia com o objetivo de colocá-la no centro das discussões de mudança climática. E isso, de alguma maneira, sensibilizou muito as delegações”, concluiu.