Tradução de Yuriko Miyamoto conquista 1º lugar no Prêmio Paulo Rónai 2025

Obra “Mulheres sobre as quais desejo escrever” traduzida por integrantes do Programa de Letras - Japonês da FFLCH, torna-se a primeira tradução do japonês a vencer o Prêmio Literário Biblioteca Nacional na categoria Paulo Rónai
Por
Juliana Morais
Data de Publicação
Editoria
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Imagem: Reprodução

A coletânea “Mulheres sobre as quais desejo escrever” , de Yuriko Miyamoto, conquistou o 1º lugar no Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2025 - Prêmio Paulo Rónai, principal distinção brasileira dedicada à excelência em tradução. A premiação foi recebida em cerimônia realizada no dia 3 de dezembro, na Biblioteca Nacional, com a presença do tradutor Takeshi Ishihara, representante do grupo, e da editora Edylene Severino.

Publicada pelo CaminhoS: Selo de Estudos Asiáticos de Desalinho Publicações, a obra é resultado de um trabalho coletivo realizado por sete tradutores - Bruna Tiemi Ogawa, Karen Kazue Kawana, Luciana Miho Kawasaki, Luis Libaneo, Pedro Malta, Takeshi Ishihara e Tauanny Falcão - todos integrantes ou ex-integrantes do Programa de Letras-Japonês da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e membros do Grupo de Pesquisa Pensamento Japonês: Princípios e Desdobramentos (CNPq), coordenado pela professora Neide Hissae Nagae.

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Imagem: Inaê Coutinho

Prestígio e significado do Prêmio Paulo Rónai 
Criado em 1995, o prêmio Paulo Rónai, integrante dos Prêmios Literários da Fundação Biblioteca Nacional, homenageia o tradutor, ensaísta e crítico de origem húngara naturalizado brasileiro que marcou o campo de tradução no país. A premiação é considerada uma das mais importantes do Brasil na área, ao lado do Prêmio Jabuti. “É uma honra enorme receber um prêmio que já contemplou nomes como Paulo Henriques Britto, José Paulo Paes, Aurora Fornoni Bernardini, Mário Laranjeira, Denise Bottmann, Mamede Mustafa Jarouche e Rosa Freire d’Aguiar” ressaltou Karen Kazue Kawana. “Trata-se de uma das grandes distinções da área no Brasil, dedicada à excelência das traduções de obras estrangeiras para o português”.
O reconhecimento também marca um avanço na presença de autoras japonesas traduzidas no Brasil. Segundo a tradutora, Mulheres sobre as quais desejo escrever é a primeira obra traduzida diretamente do japonês a receber o Prêmio de Tradução da Biblioteca Nacional, um marco para a visibilidade de escritoras nipônicas no mercado editorial brasileiro.
A obra já havia vencido o Biblio Batoru (Batalha dos Livros), concurso promovido pela Fundação Japão para divulgar literatura japonesa traduzida. Apesar do crescimento de tradução, o cenário ainda é incipiente: “Há mais obras de autoras japonesas sendo traduzidas, mas em número ainda reduzido. É sempre preciso traduzir mais, pois é pelas traduções que o público tem o primeiro contato com a literatura japonesa”, explica Karen Kazue. 
A tradutora destaca que, embora mulheres tenham desempenhado papel fundamental na literatura clássica japonesa - como Murasaki Shikibu e Sei Shônagon -, séculos de apagamento exigem resgate e difusão contínuos: “Conforme as obras dessas autoras se tornem conhecidas, acredito que o conceito de ‘mulher japonesa’ que temos por aqui será mais matizado”. 
O processo de tradução envolveu encontros, discussões e revisão cruzada entre os integrantes do grupo de pesquisa. 
“O grupo Pensamento Japonês é composto por vários núcleos independentes, mas unidos pela difusão dos estudos japoneses”, explica Karen.
O trabalho começou durante a pandemia: “Cada pessoa teve autonomia para selecionar os textos com que tivesse mais afinidade. Depois, os textos foram cotejados por outros integrantes e lidos por todos para ajustes finais. Foi realmente um trabalho em equipe”. 

Caminhos abertos para novos projetos
A equipe afirma que a premiação fortalece a continuidade das iniciativas de tradução literária dentro do grupo de pesquisa. Entre os projetos já publicados ou em desenvolvimento estão a coletânea de contos “A vida dela”, de Toshiko Tamura (1884–1945), disponibilizada gratuitamente pelo portal Livros Abertos da USP; traduções em fase de finalização de contos de Ryûnosuke Akutagawa (1892–1927); versões em preparação de narrativas seculares do “Konjaku Monogatarishû”; e a publicação contínua de textos da literatura proletária japonesa no site Arroz e Flores, voltado ao acesso livre. 

A tradutora também planeja reunir colaboradores para traduzir, em 2026, ensaios e críticas de autoras japonesas, que devem integrar futuros volumes temáticos organizados pelo grupo, as iniciativas se mantêm ativas e em expansão.