Fraya Frehse esteve à frente do simpósio on-line UrbanSus - Morar nas Ruas de São Paulo durante a Pandemia de Covid-19: Vivências, Intervenções, Pesquisas; dirigiu o filme A Rua de Máscara; além de pesquisar sobre o tema
Durante esta pandemia do novo coronavírus (Covid-19) falou-se muito sobre a saúde das pessoas, a economia do país e outras questões, mas pouco é falado sobre as pessoas em situação de rua. Não que o assunto tenha sido esquecido totalmente, mas talvez não foi debatido com a mesma intensidade que outras categorias na mídia, por exemplo.
Foi esta lacuna que o simpósio on-line UrbanSus - Morar nas Ruas de São Paulo durante a Pandemia de Covid-19: Vivências, Intervenções, Pesquisas pretendeu preencher, que teve o intuito de reunir olhares socialmente diversificados em torno de uma mesma questão.
A atividade foi organizada pelo Global Center of Spatial Methods for Urban Sustainability da Technische Universität Berlin (GCSMUS-USP/TU Berlin) - do qual a professora Fraya Frehse, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, é a coordenadora local - em colaboração com o Centro de Síntese USP Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA).
A atividade foi organizada pelo Global Center of Spatial Methods for Urban Sustainability da Technische Universität Berlin (GCSMUS-USP/TU Berlin) em colaboração com o Centro de Síntese USP Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA). A professora Fraya Frehse, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, é a coordenadora local do GCSMUS-USP e pesquisadora do Programa "USP Cidades Globais" do IEA.
3 sessões
O evento foi realizado em três sessões, nos dias 10 e 26 de novembro e em 7 de dezembro. Com o tema Vivências, a sessão 1 abordou os dilemas e surpresas que abriga o cotidiano de homens, mulheres e famílias que passam seus dias e noites nas ruas de São Paulo durante a pandemia.
Na sessão 2: Intervenções, foi mostrado como tem sido o cotidiano de quem se engaja profissionalmente em ações práticas de cuidado com a população em situação de rua na cidade de São Paulo em tempos de Covid-19. E, na sessão 3: Pesquisas, foi abordado como vem sendo feita a investigação científica sobre o morar nas ruas durante a pandemia.
Clique nos links abaixo para conferir cada sessão.
Sessão 1: Vivências
Sessão 2: Intervenções
Sessão 3: Pesquisas
Filme
Além destas discussões, foi produzido o filme A Rua de Máscara (São Paulo, 5 de novembro de 2020), que foi gravado na mesma data do subtítulo. A ideia de fazer o filme surgiu da vontade da professora Fraya de contar com relatos de pessoas em situação de rua na primeira sessão do simpósio.
Então, ela foi falar com o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo da Rua, que deu a ideia de gravar com eles em forma de filme, pois assim eles se sentiriam mais à vontade do que falar em evento virtual na Universidade. O documento foi exibido na sessão Vivências, justamente para apresentar as experiências da população retratada no filme.
Para a captação das imagens e entrevistas, a professora acompanhou a entrega de marmitas da Casa de Oração nas ruas e foi para a Praça da Armênia, o aluno de pós-graduação Marcus Repa fez a filmagem e edição, com a colaboração nesta segunda parte da também aluna de pós-graduação Anna Flávia Hartmann.
Em uma manhã de quinta-feira nas ruas do centro de São Paulo em 2020, o filme aborda como tem sido o dia a dia desses/as pedestres peculiares dos espaços públicos, para quem a rua é ou já foi casa? Os entrevistados: Franciellen, Mário e Vanessa conduzem, cada um/a, por alguns de seus espaços e tempos.
Apesar de não ter roteiro prévio, Fraya tinha em mente os temas que queria abordar e pensava em três perfis sociais diversos nas ruas: uma mulher, um homem – que são mais numerosos nas ruas – e uma família. A ideia era “montar uma narrativa que conseguisse aproximar os espectadores das ruas e também mostrar o afastamento que as pessoas têm deles”, comenta a docente.
Vanessa teve acesso ao vídeo e a professora pediu para ela apresentar aos outros dois entrevistados também. Mas, Fraya quer fazer uma sessão para exibir o filme para eles de uma forma mais calma, o que ainda não foi possível por causa do aumento dos casos de Covid-19.
Assista, a seguir, ao filme.
Mais visibilidade
Esta não foi a primeira vivência de Fraya em entrevistas com este público, pois ela tem experiência em mais de 1 ano e meio de entrevistas em cinco praças do centro de São Paulo.
A docente do Departamento de Sociologia atua nas áreas de pesquisa de Sociologia da Cidade; Sociologia do Espaço (e do Corpo); Sociologia do Cotidiano; Sociologia Histórica. Os temas abordados são: teoria urbana; espaço, vida cotidiana e história; espaço e tempo na sociologia; corpo, espaço público e urbanização (no Brasil); mobilidade urbana; desigualdade/pobreza urbana; patrimônio cultural; cultura visual urbana; sociologia do conhecimento cotidiano.
Segundo Fraya, de acordo com os relatos e opiniões ouvidas desta população, as condições delas até “melhoraram” na pandemia, porque conseguiram mais visibilidade social, tem recebido mais ajuda. Se tornaram mais visíveis para a sociedade e tiveram algumas melhorias que a prefeitura fizeram para elas, por exemplo. Por outro lado, objetivamente, os riscos que esta população tem corrido estão maiores, como a questão sanitária, violência, “o próprio padre Júlio, que vem sofrendo ameaças por parte de pessoas que acham um absurdo que algo seja feito para esta população”, comenta.
“Espero que este trabalho seja uma contribuição ao debate e, em particular, de alguma forma, à melhoria do dia a dia, de que torne menos penoso o dia a dia de quem mora nas ruas. Seja através de gestos, doações, seja através de palavras de afeto, que cada um de nós pode compartilhar, quanto não evidentemente, políticas e atitudes políticas mais amplas. [Que] Isso de alguma forma consiga mover atitudes mais amplas de parte do poder público”, destaca a professora.
Global Center of Spatial Methods for Urban Sustainability
Esta iniciativa do simpósio e do filme não é isolada, ela integra toda um projeto de produção científica e intervenção prática mais ampla, que faz parte das ações do Global Center of Spatial Methods for Urban Sustainability, o Centro Global de Métodos Espaciais para a Sustentabilidade Urbana, que Fraya coordena na USP – e, por extensão, no Brasil – e é produto de um amplo projeto de intercâmbio científico e acadêmico entre a Technische Universität Berlin e 47 universidades de 7 regiões do chamado Sul Global, da Ásia à América Latina.
A proposta é identificar como os métodos de pesquisa empírica das ciências sociais e das chamadas disciplinas espaciais (em especial arquitetura e urbanismo) podem contribuir para o enfrentamento de algum desafio concreto relativo à Agenda 2030 da ONU, em prol da sustentabilidade urbana.
As sessões do simpósio e o filme foram o ponto de partida e vão funcionar como uma caixa de ferramentas para se colocar em prática mais pra frente sobre o tema morar nas ruas durante a pandemia e pós-pandemia.
A ideia é colocar estes métodos a serviço das práticas da gestão pública e social em relação a “um fenômeno candente das nossas cidades em tempos de neoliberalismo, que é o morar nas ruas, que hoje é um fenômeno global (...) [Pois], enquanto não mudarmos a maneira de produzir espaço urbano vai haver gente morando nas ruas das cidades do mundo inteiro”, finaliza Fraya.