Nascimento de Virginia Woolf

Autora de obras como "Mrs. Dalloway" e "O Farol", Woolf é conhecida como uma das escritoras mais inovadoras do século 20

Por
Alice Elias
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Nascimento de Virginia Woolf
Segundo Ana Lellis, "Virginia Woolf abre caminho para o retrato do silêncio e do indizível na literatura". (Arte: Alice Elias)

 

Em 25 de janeiro de 1882, nasceu Virginia Woolf, escritora conhecida como uma das mais inovadoras do século 20. Autora de obras como Mrs. Dalloway, O Farol e Um Teto Todo Seu, escreveu romances, ensaios e biografias.

Uma das principais artistas do modernismo inglês, Virginia Woolf contestou as convenções literárias, assim como tratou de questões relacionadas ao tempo e seu vínculo com a identidade e o subconsciente no contexto pós-guerra. A partir do uso do fluxo de consciência e de monólogos interiores, os mundos interno e externo das personagens transitam sem demarcação clara. “A linguagem altamente lírica de Woolf, suas opiniões sobre questões históricas, feministas e estéticas e seus experimentos com a forma do romance foram suas grandes contribuições para a literatura”, afirma Ana Luisa Lellis, mestre em Literatura Inglesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Confira a entrevista completa:

Serviço de Comunicação Social: Quem foi Virginia Woolf?

Ana Lellis: Virginia Woolf é reconhecida como uma das mais inovadoras escritoras do século 20 e uma das principais artistas do modernismo inglês. Autora prolífica de romances, ensaios e biografias, foi testemunha do final da Era Vitoriana e das mudanças políticas e sociais de sua geração.

Woolf contestou as convenções literárias com seus ensaios teóricos e com a maior parte de sua ficção. Dentre suas obras mais populares podemos destacar: Mrs. Dalloway (1925), To the Lighthouse (1927) e o ensaio A Room of One's Own (1929).

Serviço de Comunicação Social: Quais elementos caracterizam a escrita de Woolf?

Ana Lellis: A característica mais marcante da escrita de Woolf é o uso do fluxo de consciência. Sua narrativa transita entre o mundo externo e interno das personagens sem uma demarcação clara entre os múltiplos monólogos interiores.

Ao entremear recortes de realidade com pensamentos e memórias, a autora enfatiza uma percepção mais fluida do ser humano e do mundo à sua volta. Essa fragmentação e a falta de linearidade do texto também correspondem aos principais temas que explora em suas obras: identidade, a vida na cidade moderna e os impactos da Primeira Guerra Mundial.

O mundo pós-guerra, com suas fraturas e seus avanços tecnológicos, institui um ritmo de vida cada vez mais acelerado nas cidades e também impulsiona transformações nos papéis sociais de gênero e classe. Ao se debruçar sobre este cenário, Woolf mergulha em questões relacionadas ao tempo e seu vínculo com a identidade e o subconsciente.

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Literatura? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Ana Lellis: A linguagem altamente lírica de Woolf, suas opiniões sobre questões históricas, feministas e estéticas e seus experimentos com a forma do romance foram suas grandes contribuições para a literatura.

Enquanto o estilo fragmentado da autora é distintamente modernista, a ênfase na perspectiva em detrimento da objetividade antecipa a consciência pós-moderna que ressalta a falta de valores absolutos. Em sua obra, há indícios de uma imersão completa no relativismo e na perda de todas as certezas.

O mergulho de Virginia Woolf nas profundezas da consciência e no retrato da vida interior como fluxo de memórias, desejos e percepções, reconfigurando, assim, o tempo e o espaço, desemboca na conclusão pós-moderna de que a consciência não mais responde à realidade, mas a produz.

A questão da apreensão da realidade pela literatura gradualmente transforma-se em uma problematização do “real” na ficção pós-moderna. Com a percepção de que não há como ultrapassar o abismo entre a linguagem e o mundo, compreende-se a realidade como uma fabricação resultante da interação entre os elementos do mundo e as convenções sociais, entre a linguagem e a visão individual.

Podemos reconhecer em Woolf essa tentativa derradeira de dizer o indizível. É, também, nesse universo em que Clarice Lispector mergulha para retratar, “a partir de uma forma e uma linguagem peculiares, a realidade inominável que se desdobra aos olhos do espectador”, segundo a professora Maria Lucia Homem. Virginia Woolf abre caminho para o retrato do silêncio e do indizível na literatura.

Ana Luisa Lellis Marques Felippe é mestre em Literatura Inglesa pela FFLCH. Para quem se interessar sobre o tema, sua dissertação de mestrado está disponível em A poesia do ser: um estudo sobre The Waves de Virginia Woolf.