Sociólogo Reginaldo Prandi é agraciado com 61º título de professor emérito da FFLCH

Na cerimônia, Prandi recordou todos os 11 docentes do Departamento de Sociologia que receberam a homenagem antes dele, relacionando momentos de sua história com a destes docentes

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Eliete Viana
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mesa da cerimônia de outorga do título de professor emérito
[Da esq. p/ dir.] O professor emérito Sedi Hirano; o vice-diretor da FFLCH, Paulo Martins; o pró-reitor de Graduação da USP, Edmund Chada Baracat; a diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda; o homenageado Reginaldo Prandi; e o chefe do Departamento de Sociologia, Ruy Braga - Foto: Victoria Golfetti - STI/FFLCH


“A homenagem que hoje a Faculdade confere ao professor não poderia ser mais justa, tão pouco de menos regozijo. Ter a oportunidade de dirigir esta cerimônia não é só uma honra, mas também de emoção”, declarou a diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda, no início da cerimônia de outorga do título de professor emérito a José Reginaldo Prandi, realizada na terça-feira, dia 5 de junho, no Salão Nobre.

O homenageado entrou o salão nobre acompanhado de três professores eméritos da FFLCH: Sedi Hirano, João Baptista Borges Pereira e José Jobson de Andrade Arruda, respectivamente dos Departamentos de Sociologia, de Antropologia e de História.

Em sua saudação, o pró-reitor de Graduação da USP, Edmund Chada Baracat, disse estar muito honrado em representar o reitor Vahan Agopyan na ocasião e também destacou o fato de estar visitando pela primeira vez a FFLCH.

Representando o Conselho do Departamento de Sociologia, Sedi Hirano destacou dois aspectos da entrevista concedida por Prandi ao jornal Folha de S.Paulo, publicada em 4 de junho: o quanto é difícil trabalhar com dados no Brasil e que no país existe uma falha gigantesca na formação humana, que acaba reproduzindo as desigualdades. Como amigo pessoal de Prandi, Hirano disse que precisava ressaltar “o ser humano que ele é, uma pessoa ímpar, dotada de extrema bondade”.

O chefe do Departamento de Sociologia, Ruy Braga, destacou momentos da carreira de Prandi como sociólogo e também em outras áreas, como o fato de ter sido pioneiro na área de informática dentro da USP. Pois, fez parte de uma comissão para ajudar a informatizar a Faculdade.

Braga lembrou que o novo professor emérito, apesar de ser também um escritor de ficção, nunca deixou a produção sociológica sendo o pesquisador na área há mais tempo em atividade no país.
 

Professor Reginaldo Prandi durante seu discurso
Reginaldo Prandi é o 12º docente do Departamento de Sociologia a receber o título de professor emérito e o 61º da Faculdade. Foto: Victoria Golfetti - STI/FFLCH



Memórias

O professor Reginaldo Prandi, nome pelo qual é conhecido, iniciou seu discurso declarando ser um momento de júbilo e fazendo referências ao Salão Nobre, local da realização da cerimônia. Para ele, o local remete às tradições, memórias, inclusive ligadas a sua vida acadêmica, como a defesa da dissertação de mestrado e da tese de doutorado, o concurso para admissão na carreira docente, livre-docência e professor titular, entre outros momentos.

“Este ambiente e os diferentes atos que aqui ocorrem podem ser vistos como peças da memória de carreiras pessoais, das nossas instituições e da própria universidade”, disse.

Depois, anunciou que não ia falar muito de sua biografia acadêmica, pois Ruy Braga já apresentara muito bem. Generosamente, Prandi quis recordar todos os 11 docentes do Departamento de Sociologia que receberam a homenagem antes dele, na ordem do recebimento do título, lembrando que não está sozinho nesta lista, relacionando momentos de sua história com a destes docentes.

Atualmente, alguns dos professores desta lista fazem parte de outros Departamentos. Porque, até 1987, existia o Departamento de Ciências Sociais, que foi desmembrado nos atuais Departamentos de Antropologia, Ciência Política e Sociologia.

“Lembrar os professores eméritos que fazem parte do Departamento de Sociologia e seus arranjos institucionais anteriores me faz recordar momentos decisivos, lições aprendidas e dádivas talvez imerecidas na costura de minha formação como sociólogo desta casa”, destacou.

11 professores eméritos

Abaixo, seguem parte dos relatos de Prandi, com o nome do professor e a data do recebimento do título de professor emérito entre parênteses.

Apesar de não ter conhecido pessoalmente Fernando de Azevedo (1964), Prandi disse que seu primeiro contato com a sociologia foi através de alguns capítulos da obra A cultura brasileira, deste professor, a qual leu aos 15 anos, durante o curso científico, atual Ensino Médio.

Sobre Florestan Fernandes (1985), com o qual teve contato pessoal esporádico e na maior parte das vezes como ouvinte de suas concorridas conferências, lembrou que a obra dele marcou sua formação universitária básica em Santo André e também quando já estudava as religiões de origem africana no Brasil.

Aziz Simão (1987) o recebeu de “braços abertos” quando ele entrou como docente na Faculdade, ajudando o a ser definitivamente efetivado como professor, ensinando o a se “virar” dentro do Departamento, além de ter sido seu fiador quando foi alugar uma casa.
 

Professor Reginaldo Prandi e representantes do candomblé
[Da esq. p/ dir.] alabê Carlos de Boço Vondereji, yabasse Marta de nochê Naveorualim; professor Reginaldo Prandi; e nochê Sandra de Xadantã - que são
da Kwe Mina Odan Axé Boço da Ho, localizada em Juquitiba, herdeiros do Toy Vodunnon Francelino de Shapanan - Foto: Victoria Golfetti - STI/FFLCH


Maria Isaura Pereira de Queiroz (1990) foi sua primeira professora quando Prandi ingressou na pós-graduação, em 1971, e participou da banca que o aprovou no concurso de efetivação como docente da USP.

Com Fernando Henrique Cardoso (1992) teve convívio diário no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), participando de um projeto que FHC coordenava e do qual saíram várias dissertações de mestrado e teses de doutorado, inclusive a de Prandi, que foi publicada em 1978 com prefácio dele.

Donald Pierson (1993) não pertenceu ao corpo docente da FFLCH e nem da USP, mas “seus livros definiram o padrão científico dos estudos de comunidade hoje tão importantes para a reconstrução sociológica do passado social brasileiro”, que o professor utilizou em sua pesquisa de livre-docência.

“Oracy Nogueira (1994) fez parte de minhas bancas de doutorado, livre-docência e professor titular. Minha relação com ele só foi interrompida com sua morte, em 1996”, lembrou Prandi, afirmando também que seu legado permanece vivo através de seus livros.

Com Octavio Ianni (1997), além de outros momentos, teve contato com ele durante as atividades de professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

O professor Francisco Cavalcanti de Oliveira (2008), mais conhecido como Chico de Oliveira, veio a fundar, com colegas do Departamento de Sociologia, o Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic) e do qual “tive a honra de fazer parte de sua banca examinadora no concurso para professor titular do nosso Departamento”, declarou Prandi.

Em relação a José de Souza Martins (2008), lembrou que colaborou com ele  em dois momentos: durante sua pesquisa na zona rural do Vale do Paraíba, que deveria lhe servir de base para o doutoramento de campo, e na coordenação de uma das atividades em seu seminário sobre a morte e os mortos na sociedade brasileira.

Ao falar do último a receber o título antes dele, o docente Sedi Hirano (2010), Prandi ressaltou que é “daqueles que não abandonam seus projetos de pesquisa, mas nem por isso deixam de se envolver nas mais espinhosas tarefas de administração da universidade. Sedi e eu revezamos algumas vezes em tarefas administrativas da pós-graduação”.

“Os professores eméritos que me precedem na galeria do Departamento de Sociologia desta Faculdade representam diferentes modos de conceber a sociedade e a própria universidade. Suas obras revelam maneiras de pensar que contribuem para sustentar o pluralismo intelectual que caracteriza a Sociologia da USP. Espero que tenha sido justa a minha escalação para jogar nesse time”, finalizou o novo emérito da FFLCH.

Além de familiares, da comunidade FFLCH e da USP, também estiveram presentes na cerimônia representantes do candomblé. Pois o professor, como sociólogo da religião, estudou Os Candomblés de São Paulo em sua tese de livre-docência, tema que continua pesquisando agora com o título Os Candomblés de São Paulo 25 anos depois.

Ao ser perguntada sobre a importância da obra de Prandi para o candomblé, uma das representantes explicou: “A pesquisa mostra o cotidiano de nossas casas, nossas matrizes e a busca pelo espelho. A pesquisa ajuda a pôr o respeito, pois a falta de conhecimento é muito grande sobre as religiões afro-brasileiras no Brasil”, disse nochê Sandra de Xadantã, da Kwe Mina Odan Axé Boço da Ho, localizada em Juquitiba, grande São Paulo, mas de tradição do Maranhão, por serem herdeiros do Toy Vodunnon Francelino de Shapanan.