Pronunciamento da Direção

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Redação
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Pronunciamento oficial da Direção da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP por meio do professor Paulo Martins, Diretor da FFLCH, acerca dos episódios recentes envolvendo o falecimento de estudantes, entre eles um aluno do curso de Letras e outro da Geografia, e a necessidade de se melhorar os programas de acolhimento da Universidade.

 

 

Olá a todas e a todos, estudantes, professores, funcionárias e funcionários da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. No último mês, culminando nesta última semana, nossa comunidade acadêmica foi assolada por episódios extremamente graves e preocupantes.

A perda de três estudantes, com um agravante de que dois deles, um aluno de Letras e um aluno de Geografia, por suicídio. Tais fatos, trágicos, não só pela própria condição da morte, mas principalmente pela juventude, necessariamente nos leva a uma reflexão, e ela é simples. No que estamos falhando? A primeira questão aventada depois dessa última perda, é que nosso acolhimento carece de reformulação. Ainda que a nossa Faculdade tenha talvez, dentro da Universidade de São Paulo, os maiores programas do gênero. Ações mais diretas, entretanto, carecem de reformulação e/ou de criação.

Ações específicas e diretas, são importantes para que a nossa Faculdade, a nossa comunidade acadêmica venha a se colocar de forma pró-ativa diante da nossa vida cotidiana, ainda que nesse ambiente nefasto, não por responsabilidade da população, da universidade tampouco, do Estado de São Paulo tampouco, de toda a população brasileira, mas principalmente por conta de um Governo Federal absolutamente irresponsável. Quanto a USP, devemos sim, em sintonia com os canais competentes encontrarmos soluções para moradia (Crusp), para bolsas PUB, PEEG,  Iniciação Científica e de Pós-Graduação, que sejam efetivamente garantidas por aquilo que nós acreditamos como o fundamental, que é a Universidade Pública, gratuita para todos, inclusiva e efetivamente diversa.

Essa é a nossa vontade e o nosso compromisso, da Ana Paula e meu. Mas voltando, diante desses fatos nefastos, tristes, eu e a Ana Paula nos reunimos na última quarta-feira para discutirmos em que medida a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas pudesse responder a esse problema que nos assola. Para aqueles que são pais, que entregam seus filhos a  nossa Universidade, é algo mais duro ainda, e para nós que somos pais, de filhos que não estão aqui, mas poderiam estar, é algo preocupante e que devemos efetivamente ter alguma preocupação. Na verdade, a nossa maior preocupação é ter nossos alunos acolhidos. É uma preocupação da Ana Paula, a nossa Vice-Diretora, e minha, como Diretor, não desprezar, não pensar em não acolher aqueles que nos procuram, aqueles que pelo seu próprio esforço ingressaram na Universidade de São Paulo, e procuraram a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a maior unidade da Universidade de São Paulo, para que se formassem, do ponto de vista cidadão e profissional. Enfim, quanto a USP, devemos sim buscar parcerias. Acordos, convênios, que unifiquem as ações que ocorrem no âmbito da Universidade com a nossa Faculdade. A questão da moradia, a questão das bolsas, a questão do serviço de assistência social e psicológica, a alimentação e quejandos, que envolvem a Superintendência de Assistência Social, o Escritório de Saúde Mental, a Reitoria e outros parceiros, Unidades que têm expertise nesse tipo de relação, que é uma relação que vai muito além da questão do ensino e aprendizagem, merecem ser articulados com a maior unidade da Universidade de São Paulo. Hoje sabemos que o CRUSP licitou a reforma de dois blocos. Isto é, dando condições, digamos, humanas, para aqueles nossos alunos que lá vivem. Nós sabemos também que alguma ação do ponto de vista da STI, isto é, da Tecnologia de Informação, está em fase final. Nós fomos informados pelo professor Gerson Tomanari, da SAS, que tanto uma ação quanto a outra que garantem em certa medida uma melhor qualidade de vida e uma posição pró-ativa da Universidade em relação a questões graves de falta de acessibilidade de internet e de falta de qualidade de vida dentro do CRUSP estão sendo realizadas. Sabemos também que, por outro lado, há também do ponto de vista da Superintendência de Assistência Social e do ponto de vista do Escritório de Saúde Mental da Universidade todo apoio a iniciativas como as nossas hoje.

Quero dizer que isto, por mais importante que seja, não é suficiente para nós. Não é suficiente porque perdemos, perdemos estudantes, perdemos alunos que não poderíamos perder. Não abro mão de uma parcela de responsabilidade. Quero dizer que Ana Paula e eu, solidariamente, a Universidade de São Paulo, mas principalmente, absolutamente, próximos da nossa comunidade, pensamos algumas ações que fossem efetivamente condizentes com as nossas necessidades. Assim, além da nossa predisposição ao diálogo, essa é uma condição sine qua non, a valorização de nossas diferenças, outra posição da qual esta Direção, Ana Paula e eu, não abrimos mão. A defesa intransigente da democracia e dos direitos humanos, ainda assim, ainda que absolutamente coniventes com estas posições, necessitamos de algo mais. Diante do último ocorrido, Ana Paula e eu, como Vice-Diretora, e eu como Diretor desta Faculdade, pensamos em algumas ações que, seguramente não serão as únicas - estamos abertos sempre a esse diálogo, ações que pudessem minorar o problema que obviamente existe. Nossos alunos sofrem muito, principalmente diante dessa circunstância pandêmica, que me parece, e aí há uma opinião leiga a respeito, um catalisador de problemas de saúde mental. Assim, em meio às circunstâncias dessa pandemia, acentuada, é lógico, e eu não deixo de lembrar a todos, acentuada por esse governo irresponsável de Brasília, pensamos em algumas possibilidades para democraticamente discutirmos com todos os membros da comunidade acadêmica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, algumas ações que talvez pudessem nos ajudar. Em primeiro lugar a montagem de um consultório psicológico na Faculdade, com plantões sistemáticos a fim de atender, quando e se necessário, estudantes, funcionários e professores. Em segundo, a articulação de um grupo transdisciplinar, uma rede que visasse a criação de políticas de acolhimento e de atendimento, com a participação de psicólogos, psicoterapeutas, educadores, colegas professores, médicos, pedagogos e voluntários. E, nesse sentido, nós tentamos articular, eu e Ana Paula, com nossa valiosa equipe de Direção, faço lembrar aqui os assistentes da direção, Marie, Frederico, Valdeni, Normando, afora outros colaboradores extremamente importantes. Essa rede que seria Tudo Pela Vida. Sempre!

Em terceiro, nós da direção da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, propusemos uma primeira reunião de um possível grupo articulador dessa rede. Para esse grupo, naturalmente eu e Ana Paula, pela Faculdade, estaremos presentes. Somos os articuladores. Chamamos e convidamos o Superintendente de Assistência Social da Universidade de São Paulo, da SAS, o professor Gerson Tomanari, que já aceitou o convite; o representante da Congregação da Faculdade de Filosofia, o professor Adrian Fanjul, que também foi convidado; o coordenador do Escritório de Saúde Mental da USP, o professor Andrés Eduardo Aguirre Antúnez; da professora Diretora do Instituto de Psicologia, a professora e querida colega Ana Loffredo; o presidente da Comissão de Cultura e Extensão da nossa Faculdade, professor Yuri Tavares, que criou o primeiro canal de contato, de amparo,durante a pandemia; da nossa presidente da Comissão de Direitos Humanos, esta comissão da qual me orgulho profundamente, a professora Tessa Moura Lacerda; da professora Zilda Iokoi, coordenadora do Programa de Pós-Graduação Multi Unidades, o nosso Diversitas; do professor titular de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o professor José Ricardo Aires, um grande companheiro; da Representante da Assistência Acadêmica da Faculdade de Filosofia, a nossa querida Marie Márcia Pedroso; do nosso caríssimo Assistente Administrativo Frederico Tresoldi Favoretto; do nosso Assessor de Assuntos Institucionais, José Clóvis de Medeiros Lima; da especialista em psicanálise Viviana Cristina Carnizelo; e da especialista em saúde mental Thaís Marques Reis, doutoranda do Instituto de Psicologia. 

Enfim, a Faculdade de Filosofia infelizmente reage às nossas circunstâncias. As nossas circunstâncias de vida, de saúde. Algo que nenhum diretor, tenho certeza, ou vice-diretor, teria desejo em algum momento de estar aqui representando. Entretanto, a necessidade de se colocar como algo importante, como algo fundamental, e nós devemos sim reagir diante de uma circunstância tão grave, tão triste, tão perturbadora como esta. Antes de terminar, gostaria de dizer que peço desculpas aos nossos três alunos. Infelizmente, talvez não nos escutem, mas assumo como Diretor da Faculdade, a responsabilidade de reagir a aquilo que possa ter sido algo que nós não tenhamos pensado em favor deles. Em nome dos alunos que hoje ainda estão aqui conosco, eu consternadamente, peço desculpas. Minhas queridas alunas, meus queridos alunos, funcionárias e funcionários, de quem sou absolutamente devedor, colegas professoras e professores, espero que estas ações incipientes possam de alguma maneira sinalizar de que a instituição está presente, de que a instituição trabalha. Porque foi esse o compromisso da Ana Paula e meu compromisso quando assumimos essa direção. Isto é, trabalhar em favor de todos e de todas sempre. Não há outro motivo para estarmos aqui. Muito obrigado e espero que vocês todos tenham um fim de semana muito melhor do que a semana que passou. Muito obrigado. Um forte abraço e até breve.

Pronunciamento da Direção 28/05/2021
​​​​​​​Paulo Martins - Diretor da FFLCH