Posse do presidente Emílio Médici

Seu governo ficou conhecido popularmente como “os anos de chumbo”

Por
Larissa Gomes
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emílio médici com brasília atrás
A expressão “anos de chumbo” foi perfeita para descrever esse período no Brasil, pois o chumbo faz referência tanto a algo pesado, difícil de suportar, como remete a armas, revólveres, metralhadoras e opressão, segundo Maria Amorim.

Emílio Garrastazu Médici assumiu o governo brasileiro em 1969. Foi na sua presidência que o AI-5 foi instituído - o ato foi responsável pela suspensão dos principais direitos civis dos cidadãos brasileiros.

Os cinco anos do seu governo também ficaram marcados pelo período conhecido como “Milagre Econômico”. Nessa época, o país apresentou um amplo desenvolvimento tanto na economia quanto na infraestrutura e industrialização. 

Entretanto, tal desenvolvimento aconteceu devido aos altos empréstimos estrangeiros, resultando em um país endividado durante a redemocratização, em 1985.

Para entender mais sobre o que foi o governo de Emílio Médici, leia a entrevista abaixo com Maria Aparecida Blaz Vasques Amorim, mestre em História Social pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP. 

Serviço de Comunicação Social: Quais foram as principais características do governo de Emílio Médici?

Maria Amorim: O presidente Emílio Garrastazu Médici governou o Brasil entre 1969 e 1974. Em seu governo foi instituído o AI-5, ato que retirou direitos fundamentais do cidadão brasileiro e que resultou na perseguição, tortura e morte às pessoas que se opunham à ditadura civil-militar, imposta ao povo brasileiro através do golpe que depôs o governo, democraticamente eleito, do presidente João Goulart em 1964.

Serviço de Comunicação Social: Poderia nos falar sobre as contradições entre o avanço financeiro e a grande repressão que envolveram seu governo?

Maria Amorim: Por conta da enorme repressão aos civis e a permissão para que militares de extrema-direita se expressassem em seu governo, o que originou em mais perseguição, tortura e mortes contra os opositores da ditadura, os 5 anos do governo Médici foram o único período que o regime militar apresentou estabilidade política.

Embora tenha sido o período de maior repressão aos direitos civis, aconteceu o “Milagre Econômico”, que significou o crescimento e desenvolvimento econômicos. Para que tal acontecesse, foram tomados vultosos empréstimos estrangeiros o que possibilitou o desenvolvimento da economia brasileira, que registrou taxas de crescimento entre 7% e 13% ao ano. Foram investidos esses recursos em infraestrutura, no agronegócio e na industrialização. Esse “milagre” fez com que os brasileiros pagassem alto preço quando, em 1985, a democracia começou a ser restabelecida em um país endividado resultando em inflação e retrocesso.

Serviço de Comunicação Social: Seu período na presidência ficou conhecido historicamente como os Anos de Chumbo. Poderia nos falar mais sobre essa época?

Maria Amorim: Embora o governo brasileiro nessa época apresentasse um país se desenvolvendo na economia, nos esportes, ganhando o campeonato de futebol de 1970, transmitindo a ideia de ufanismo com campanhas como “Brasil, ame-o ou deixe-o”, músicas falando sobre o amor ao Brasil; a repressão aos que eram contra o regime ditatorial era enorme, provocando mortes, torturas e desaparecimentos daqueles que defendiam a volta da democracia. O general Médici chegou a afirmar que a “democracia não era feita para os homens”.

A expressão “anos de chumbo” foi perfeita para descrever esse período no Brasil, pois o chumbo faz referência tanto a algo pesado, difícil de suportar, como remete a armas, revólveres, metralhadoras e opressão. Tudo era controlado pelo governo: sindicatos, veículos de comunicação, as artes, professores, a censura era generalizada. Instaurou-se, em São Paulo, o Comando de Caça aos Comunistas, entendendo-se por comunistas todos os que eram contra a ditadura. Muitos foram os exilados políticos em vários países.

Esse período legou ao Brasil uma dívida enorme para os próximos governos, muitas mortes não explicadas e uma lista de desaparecidos políticos que pode chegar a mais de 500 cidadãos brasileiros. 

Maria Amorim é mestre em História Social pela FFLCH. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Oral e Brasil.