Os 104 anos de Celso Furtado (1920-2004)

Por
Redação*
Data de Publicação
Editoria

Celso Furtado nasceu em Pombal, sertão da Paraíba, em 26 de julho de 1920. Funcionário público, economista, membro da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) desde 1949; presidiu o grupo Misto Cepal-BNDE, que esboçou as diretrizes para o Plano de Metas do Governo de Juscelino Kubitschek, lançado em 1955. A partir de 1958, conduziu diferentes grupos de trabalho que levaram à criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), assumindo a sua direção em 1959. Em 1962, foi nomeado titular do Ministério do Planejamento na presidência de João Goulart. Contudo, com a instauração do governo militar, foi cassado e teve os seus direitos políticos suspensos no primeiro Ato Institucional, em 10 de abril de 1964.

Celso Furtado parte para Santiago do Chile, iniciando um longo exílio que duraria mais de 10 anos. Retornaria definitivamente ao Brasil para assumir o Ministério da Cultura durante o governo Sarney em 1986, tendo sido o responsável pela implementação das leis de incentivo fiscal à cultura e por outras muitas iniciativas no campo da pesquisa universitária e da vida artística nacional. Durante o período que viveu no exterior, foi professor do quadro permanente da Universidade de Paris por 20 anos, lecionando como professor convidado nas universidades norte americanas Yale, Harvard e Columbia, no King's College (Londres), na École Normale Supérieure e na Haute École de Sciences Sociales, ambas em Paris, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na Universidade das Nações Unidas (Tokyo) e no Instituto Latino Americano para Estudos de Desenvolvimento (Ilpes-Santiago do Chile). Integrou a South Commission, criada pelo presidente da Tanzânia em 1987 com a finalidade de promover políticas de desenvolvimento entre os países do Terceiro Mundo. Foi membro da Comissão Mundial para Cultura e o Desenvolvimento da ONU/Unesco e também atuou na Comissão Internacional de Bioética criada pela mesma organização.

Celso Furtado nos deixou um legado intelectual de alcance universal, reconhecido pelos colegas e por uma legião plurinacional de discípulos que o indicaram ao comitê do prêmio Nobel de Economia em 2003. Dedicou sua vida ao estudo das imbricações entre o subdesenvolvimento e o desenvolvimento, propondo uma análise capaz de articular simultaneamente as dimensões históricas, políticas, ambientais e socioculturais dos fenômenos econômicos. Nesse campo, destacam-se as seguintes obras: Desenvolvimento e Subdesenvolvimento (1961), Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico (1967), O Mito do Desenvolvimento Econômico (1974) e Criatividade e Dependência na Civilização Industrial (1978). Sua obra de maior destaque, traduzida em nove línguas, é Formação Econômica do Brasil (1959).

O Fundo Celso Furtado

Em 2018, a jornalista Rosa Freire d'Aguiar, viúva de Celso Furtado, doou o Fundo Celso Furtado ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, com o objetivo de que esse patrimônio documental e bibliográfico fosse preservado, catalogado e aberto aos pesquisadores e ao público mais amplo.

O Fundo Celso Furtado chega ao IEB, em novembro de 2019, com uma organização prévia meticulosa feita pela doadora. Entretanto, a partir de Março de 2020, o processo de organização da documentação textual e bibliográfica foi interrompido pela pandemia de Covid-19. Durante cerca de dois anos, os trabalhos junto ao acervo foram restritos à busca pelo protocolo de salvaguarda aplicado a todos os acervos do IEB, e as atividades de higienização e organização preliminar foram realizadas somente por funcionárias do Arquivo e da Biblioteca.

A partir de Janeiro de 2022, graças ao acordo de cooperação acadêmica entre a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e o IEB – firmado pelos professores Dr. Paulo Martins e Dra. Diana Vidal –, foi possível a contratação de estagiários para atuarem no Fundo Celso Furtado, tornando viável a realização dos procedimentos de limpeza e acondicionamento de toda a documentação textual e dos volumes da Biblioteca. William Silva Fogo, Pedro Henrique Santos Cursino e Gabriel Fernandes de Morais Almeida participaram dessa primeira etapa. No último ano, a equipe de estagiários se concentrou na catalogação dos itens documentais e volumes bibliográficos, contando com a atuação de Ana Clara Nunweiler, Alice Bispo Faria, Ana Carolina Chukri Jaimez e Luan Dalvino Costa da Silva.

No âmbito das atividades arquivistas, elaborou-se um quadro de arranjo documental que permitiu mapear e classificar os documentos segundo as relações interpessoais e institucionais de Celso Furtado. Concomitantemente, foi realizada a descrição de atas, projetos, relatórios, leis e documentos relacionados à SUDENE, totalizando 121 itens. Nesse momento, portanto, encontram-se à disposição na plataforma do IEB cerca de 2500 documentos. Ao mesmo tempo, no âmbito do acervo bibliográfico, a coleção Celso Furtado possui 8.943 volumes, dos quais já foram inseridos na base DEDALUS (USP) pouco mais de 7.200 títulos.

Em 2023, a equipe de estagiárias do Arquivo participou no 31° SIICUSP (FFLCH) propondo uma leitura inovadora da correspondência institucional do titular do fundo com o objetivo de compreender as interações do economista com pessoas anônimas, organizações estudantis e comunidades sócio profissionais. Por intermédio de uma análise serial e estatística, buscaram identificar os perfis e motivações que deram origem à correspondência endereçada a Celso Furtado. O trabalho foi selecionado para mostra internacional no ano de 2024, sob a responsabilidade da professora Iris Kantor (DH-USP) e supervisão do professor Alexandre Freitas Barbosa e Elizabete Ribas, responsável pelo Arquivo-IEB.

Para além da prestigiosa missão de salvaguardar e disponibilizar o acervo aos pesquisadores, o projeto de cooperação acadêmica entre a FFLCH e o IEB visou preparar os graduandos da FFLCH para as tarefas de tratamento arquivístico e bibliográfico, abrindo caminhos para uma formação profissional comprometida com os desafios contemporâneos.

O Projeto foi coordenado pelos professores Alexandre Freitas Barbosa, do IEB, e Iris Kantor, docente do Departamento de História. Fizeram parte da Equipe de coordenação Dina Uliana e Elisabete Ribas, ambas responsáveis pelo Arquivo do IEB, e a bibliotecária Daniela Piantola. O acordo de cooperação acadêmica contou com o apoio integral da Direção da FFLCH, durante a gestão do Prof. Dr. Paulo Martins, cujo apoio foi imprescindível para o sucesso da iniciativa pedagógica-acadêmica.

Acesse os links:

Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento

Documentário Um Longo Amanhecer, dirigido por José Mariani, 2004

Historiador José Tavares de Araújo Neto comenta a produção da biografia pertencente à coleção "Nossa História, Nossa Gente", escrita em conjunto com Verneck Abrantes de Souza

 

*Texto de Iris Kantor, professora do Departamento de História da FFLCH-USP