Linguagem, saúde e cognição: projeto na USP fortalece autonomia de idosos com deficiência auditiva

Projeto LiSCo 60+ promove atividades e encontros formativos que permitam melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas com deficiência auditiva
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Redação
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Os encontros do projeto são realizados na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e na Faculdade de Educação (FE), ambas da USP – Foto: Divulgação/INES
Os encontros do projeto são realizados na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e na Faculdade de Educação (FE), ambas da USP – Foto: Divulgação/INES

O Projeto LiSCo 60+: Linguagem, Cognição e Saúde na Terceira Idade Surda é uma iniciativa do Laboratório de Estudos em Língua de Sinais e Cognição (LiSCo), da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Por meio de atividades formativas, o projeto se propõe a integrar interdisciplinarmente as áreas da Linguística, Educação e Saúde para promover o bem-estar e a autonomia de pessoas surdas com 60 anos ou mais.

Por meio de oficinas formativas, rodas de conversa, ações de sensibilização para profissionais e instituições, o projeto estimula práticas inclusivas e a redução das barreiras comunicativas. A iniciativa visa fortalecer a identidade linguística e cultural da pessoa surda idosa, assim como ampliar o acesso à informação na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e criar condições para a manutenção das funções cognitivas e da qualidade de vida no envelhecimento.

Sylvia Lia Grespan Neves – Foto: Arquivo pessoal
Sylvia Lia Grespan Neves – Foto: Arquivo pessoal


Para Sylvia Neves, professora da Faculdade de Educação (FE) da USP, primeira professora com deficiência auditiva da USP e uma das coordenadoras do LiSCo, “promover ações para o público idoso surdo é fundamental porque a língua de sinais, além de meio de comunicação, é também recurso de pertencimento, memória e organização da experiência”.

O projeto surge devido à identificação de uma lacuna nas ações voltadas para o público idoso surdo, que não era contemplado por outros programas e políticas. “Em muitos casos, essas pessoas viveram grande parte da vida em contextos de exclusão escolar e barreiras de acesso aos serviços. Oferecer espaços em que possam usar a Libras de forma plena significa atuar contra o isolamento, favorecer trocas sociais significativas e contribuir para a preservação das capacidades cognitivas e emocionais”, destaca a professora.

O LiSCo é um laboratório interdisciplinar que desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão na área dos estudos das línguas de sinais e das habilidades cognitivas. Coordenado por Felipe Venâncio Barbosa e por Fernanda Machado, ambos professores da FFLCH, e pela professora Sylvia, o laboratório iniciou suas atividades em 2010 com foco no desenvolvimento de instrumentos de avaliação de linguagem baseados na Libras. É nesse âmbito de atuação e pesquisa que surge o Lisco 60+.

 

Envelhecimento populacional e desafios futuros
Segundo dados do Censo 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 14,4 milhões de pessoas vivem com algum tipo de deficiência, entre as quais, mais de 2,5 milhões de pessoas com dois anos ou mais têm “dificuldade para ouvir, mesmo usando aparelho auditivo” e mais de 10 milhões têm alguma dificuldade auditiva. O número de pessoas com algum tipo de deficiência cresce com o aumento da idade. Dentre os cerca de 6,5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais que vivem com algum tipo de deficiência, 27,5% dos indivíduos do grupo com 70 anos ou mais são afetados.

Primeiro encontro realizado pelo Projeto LiSCo 60+ na FFLCH, no dia 5 de novembro – Foto: Reprodução/Instagram/Lisco-USP
Primeiro encontro realizado pelo Projeto LiSCo 60+ na FFLCH, no dia 5 de novembro – Foto: Reprodução/Instagram/Lisco-USP

“O envelhecimento populacional é um fenômeno crescente e desafia as políticas públicas de saúde, educação e inclusão social. No caso das pessoas surdas idosas, essas demandas tornam-se ainda mais complexas, devido ao acesso muitas vezes tardio à língua de sinais, ao isolamento comunicativo e às barreiras de comunicação”, afirma a professora.

Além disso, mais de 60% da população com deficiência não possui instrução ou não completou o ensino fundamental. No caso das pessoas com algum nível de deficiência auditiva, isso dificulta o acesso a informações, ao mercado de trabalho e a serviços básicos de saúde, cuidado e espaços de convivência. “Há poucos estudos e poucas práticas sistematizadas que considerem as especificidades das línguas de sinais nas ações de promoção de saúde, de educação permanente e de envelhecimento ativo”, destaca Sylvia.

A escassez de profissionais fluentes em Libras, serviços especializados e o acesso a dados que mapeiem a heterogeneidade dessa população são reflexos do descaso e da falta de políticas públicas e ações voltadas para essas pessoas.

Para mais informações sobre o Projeto Lisco 60+: Linguagem, Cognição e Saúde na Terceira Idade Surda acesse as redes sociais da iniciativa ou entre em contato por e-mail: sylvialia@usp.br, com Sylvia Lia Grespan Neves.

 

Texto por Maykon Almeida

Texto original: https://jornal.usp.br/diversidade/linguagem-saude-e-cognicao-projeto-na…