Nascimento de Francis Scott Fitzgerald

Autor de obras como "O Grande Gatsby" e "O Curioso Caso de Benjamin Button", Fitzgerald é reconhecido por seus romances inovadores

Por
Alice Elias
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Nascimento de Francis Scott Fitzgerald
Segundo Roberta Fabbri Viscardi, "Talvez a maior contribuição da obra de Fitzgerald para a literatura (...) tenha sido a incorporação bem-sucedida de uma crítica cultural e social das estruturas do país". (Arte: Alice Elias)

 

Em 24 de setembro de 1896, nasceu o autor Francis Scott Fitzgerald. Mais conhecido como romancista, foi também ensaísta e contista, produzindo mais de 160 contos ao longo de sua carreira literária.

Autor de O Grande Gatsby (1925), O Curioso Caso de Benjamin Button (1922) e O Diamante do Tamanho do Ritz (1922), suas obras são marcadas pelo resgate de características da tradição literária e, simultaneamente, por um caráter experimental e inovador. Além disso, Fitzgerald explorou “diferentes técnicas narrativas que incorporam experimentos cinematográficos do cinema mudo, métodos das artes plásticas e outros elementos da cultura de massa”, explica Roberta Fabbri Viscardi,  mestre e doutora em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Confira a entrevista completa:

Serviço de Comunicação Social: Quem foi Scott Fitzgerald?

Roberta Fabbri Viscardi: Francis Scott Fitzgerald (1896-1940) foi um autor estadunidense que escreveu principalmente sobre a sua própria geração - os jovens que se tornaram adultos durante os anos de 1920. No Brasil, assim como em outras partes do globo, ele é mais conhecido como romancista, e isso se deve especialmente à popularidade de seu terceiro romance, O Grande Gatsby (1925), obra das mais lidas da literatura estadunidense que trata do pós-guerra, do pós-pandemia e do hedonismo que marcou a chamada Era do Jazz (como ficou conhecido o período de certa afluência econômica compreendido entre o fim da Primeira Guerra Mundial e a Quebra da Bolsa de 1929). Apesar disso, Fitzgerald também foi ensaísta, escreveu uma peça de teatro e foi um contista muito prolífico, tendo produzido mais de 160 contos ao longo de toda a carreira - alguns dos mais famosos são Bernice Corta o Cabelo (1920), O Curioso Caso de Benjamin Button (1922) e O Diamante do Tamanho do Ritz (1922). Sua vida pessoal também foi e ainda é objeto de muita especulação - ele e a mulher, a escritora, dramaturga e pintora Zelda Sayre Fitzgerald, foram transformados em celebridades pelos jornais da época e lidaram com as especulações e manipulações da imprensa marrom com muita ironia, incorporando de forma bastante produtiva em suas obras a crítica ao sensacionalismo da mídia.

Serviço de Comunicação Social: Quais elementos caracterizam a escrita de Fitzgerald?

Roberta Fabbri Viscardi: Fitzgerald foi, de fato, um escritor de seu tempo. Ele viveu, refletiu, observou e elaborou literariamente as idiossincrasias dos Estados Unidos das décadas de 1920 e 1930, e o fez de forma a ser compreendido por seus contemporâneos. Suas obras faziam parte de uma conversa maior, e que não acontecia somente no meio literário - como ele publicava seus contos em revistas semanais de grande circulação, e como eles também serviam de laboratório para questões e técnicas, que ele mais tarde viria a explorar em seus romances, muitas de suas especulações temáticas e incorporações e criações linguísticas, formais e estéticas, foram rapidamente assimiladas pelos leitores e por outros escritores. E ainda que sua obra não seja marcada por um forte caráter vanguardista, como a de outros autores da época, é inegável que sua literatura tem uma marca experimental inovadora na produção estadunidense. Fitzgerald resgatou certa tradição literária (de autores e autoras como Joseph Conrad, Henry James, Theodore Dreiser, Willa Cather e Edith Wharton, entre outros) para representar sua geração e uma nova realidade a partir do que a tradição já havia experimentado, e ganhou estética e formalmente com a combinação da elaboração de seu próprio presente sócio-histórico e dos resultados mais bem-sucedidos de seus antecessores. Em seus terceiro e quarto romances, especialmente - O grande Gatsby e Suave é a noite (1934) - e também no último, O último magnata (1941), que ficou inacabado e foi publicado postumamente, Fitzgerald explora diferentes técnicas narrativas que incorporam experimentos cinematográficos do cinema mudo, métodos das artes plásticas e outros elementos da cultura de massa.

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Literatura? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Roberta Fabbri Viscardi: Além da prosa sintética, mas carregada de lirismo, e das descrições e narrações que exploram o olhar cinematográfico e as mais diversas experimentações artísticas, talvez a maior contribuição da obra de Fitzgerald para a literatura - e para a literatura dos Estados Unidos em especial - tenha sido a incorporação bem-sucedida de uma crítica cultural e social das estruturas do país. Tudo leva a crer que Fitzgerald foi o primeiro escritor estadunidense a construir mais explicitamente na literatura de ficção a ideia do american dream, o sonho americano, atrelando uma suposta possibilidade de ascensão social ao (também suposto) caráter norte-americano. Sua relação conflituosa com os endinheirados e poderosos - Fitzgerald tinha origem em uma família de classe média do Meio-Oeste dos Estados Unidos - serviu de material para a reflexão crítica que ele elaborou literariamente em grande parte de seus escritos de forma contundente. Essa relação entre forma literária e processo social se apresenta na literatura de Fitzgerald de maneira relativamente complexa, e repercute ainda hoje (e não apenas tematicamente) na obra de cineastas e escritores - um deles, notadamente, é Woody Allen.

Roberta Fabbri Viscardi é professora de literatura, tradutora, revisora, e coordenadora da Literária Cursos, uma iniciativa de cursos on-line de literatura. Mestre e doutora em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela FFLCH, tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura em Língua Inglesa, atuando principalmente nos temas: romance estadunidense, modernismo, literatura e sociedade, literatura e cinema, literatura e outras artes e estudos culturais. É membro da The F. Scott Fitzgerald Society desde 2013. Para quem se interessar sobre o tema, sua dissertação de mestrado e tese de doutorado estão disponíveis em A posição do narrador em “The Great Gatsby” de F. Scott Fitzgerald e Narração e processo social em “O Grande Gatsby” e “Suave É a Noite” de F. Scott Fitzgerald.