FFLCH concede título de Professor Emérito a Sergio Miceli

Ele é o 64º docente a receber esta distinção pela FFLCH e o 14º do Departamento de Sociologia contemplado

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Eliete Viana
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O professor do Departamento de Sociologia Sergio Miceli recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A cerimônia de outorga aconteceu na tarde da sexta-feira, dia 4 de novembro, na Sala do Conselho Universitário da USP, no térreo do prédio da Reitoria. 

O diretor da FFLCH, Paulo Martins, deu início à cerimônia destacando a importância do título de Professor Emérito, que lembra a importância dos docentes para a universidade e a sociedade. 

Em seguida, o professor Miceli foi conduzido à sala pelos professores eméritos Davi Arrigucci Jr e Eva Alterman Blay, respectivamente, do Departamentos de Teoria Literária e Literatura Comparada e do Departamento de Sociologia.

Departamento de Sociologia 

Depois, representando os discentes, docentes e funcionários do Departamento de Sociologia, o chefe Fernando Antonio Pinheiro Filho fez os cumprimentos destacando a atuação de Miceli como professor e orientador, “aqui por quem teve a experiência privilegiada de uma interação mais contínua e intensa com ele”, comentou Pinheiro Filho, que foi orientado por Micelii na sua tese de doutorado.

“Talvez o que Sergio professor tenha de mais particular, e que via de regra causa certo desconforto em seus alunos e creio, na maior parte de seus interlocutores, é sua capacidade de fazer de sua apresentação, em aulas formais ou em qualquer formato, uma ocasião de apreensão ativa do conhecimento que supera em muito o aprendizado no sentido escolástico, para usar um termo caro a seu mestre, Bordieu”, frisou o chefe do Departamento de Sociologia.

Durante sua fala, Pinheiro Filho destacou algumas característica do docente Miceli: bastante exigente com aqueles cujo trabalho está supervisionando, “ele também apreende rapidamente as possibilidades e limites de cada um, e assim conduz a entregar nada menos do que aquilo que realmente podem”; seu modo de leitura e interpretação dos textos, “sempre visando o argumento, mas tirando dele um desempenho e um sentido outros, inesperados como uma surpresa iluminadora”; e sua linguagem muito particular – e peculiar: “a expressão “achar a embocadura do argumento”, por exemplo, é um sucesso entre os que manejam o dicionário de micelês, assim como a crítica ao “pensamento cerebrino” e o horror à “maldição da paráfrase”.

Para encerrar sua fala, Pinheiro Filho citou e comentou uma frase do escritor francês Gustave Flaubert (1821-1880). “Quero ainda dizer que, considerando a ocasião, não pude deixar de lembrar daquela frase de Flaubert que já vi você comentar mais de uma vez: “As honrarias desonram”. Acho que ela vale mesmo como regra, e, portanto, tem exceções: ela não vale quando o destinatário qualificou antes o título que vai qualifica-lo, como é o teu caso”.

Saudação

A saudação ao homenageado foi feita pela professora Maria Arminda do Nascimento Arruda, do Departamento de Sociologia, ex-diretora da FFLCH (2016-2020) e atual vice-reitora da USP. “Esta solenidade de concessão do título de professor emérito ao sociólogo Sergio Miceli é uma oportunidade na qual nos sentimos tentados a produzir uma louvação que possa esquadrinhar, de maneira eloquente, tanto os elementos mais significativos de sua trajetória pessoal, como os aspectos mais originais de sua notável produção intelectual em favor da sociologia brasileira e, de maneira particular, à sociologia da cultura. Sergio merece todas as louvações”. 

"Devo confessar, já de saída, que a escolha do meu nome para fazer esta saudação, muito me comove, uma vez que minha própria carreira se inspirou na trajetória de Sergio Miceli", afirmou Maria Arminda, que é socióloga da cultura assim como o novo professor emérito da FFLCH. 

Em sua apresentação, a professora falou sobre a vasta produção sociológica e detalhou alguns dos mais de 30 livros publicados por Miceli.

“A sua vasta produção sociológica combina apuro analítico, domínio da teoria social, construção de problemas de pesquisa incomuns ao cânone assentado, visadas interpretativas inusitadas. O caráter vivaz da sua reflexão revela-se na abertura de novos temas, distingue-se por inspirar as gerações de cientistas sociais, por exercer o papel de formador, por ser liderança acadêmica e institucional, por assinalar o rumo dos debates”, destacou.

Maria Arminda frisou ainda a relação de Miceli com a obra de Pierre Bourdieu (1930-2002). 

“Sergio Miceli nos legou um método original para o estudo das condições sociais de emergência do trabalho artístico e intelectual entre nós; como introdutor e, possivelmente, principal veiculador do pensamento de Pierre Bourdieu na nossa sociologia, e, por fim, como um organizador de grupos de pesquisa e um orientador de teses prolífico, cujos trabalhos supervisionados formaram, no decorrer dos anos, um amplo panorama sobre a constituição do campo intelectual no Brasil. Ao mesmo tempo, tudo isso se expressa sob a forma de um pesquisador ostensivamente crítico e em permanente tensão com os traços sociais do seu próprio meio”. 

Discurso de agradecimento

Em seu discurso, Miceli agradeceu às pessoas que compõem a mesa da cerimônia e contou um pouco sobre sua origem familiar – composta de imigrantes calabreses por parte materna, “originários do vilarejo Malvito na província de Cosenza, Itália, chegados ao Rio de Janeiro no entreguerras a mercê da rede de compatriotas já instalados”; e do Vale do Paraíba, da parte paterna –; da sua infância; da importância do tio Mandi (Armando) nos rumos de sua educação e cuja proximidade lhe proporcionou a conviver com intelectuais.

Miceli comentou sobre o ingresso na graduação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e no curso de direção ministrado por Barbara Heliodora, no Serviço Nacional do Teatro; das suas incursões como ator; do seu mestrado, durante o qual fora estimulado por docentes em início de carreira a discutir títulos instigantes, atiçando a sua gana por sociologia da arte e da cultura, e período em que teve contato com Florestan Fernandes (1920-1995) – o qual tornou-se professor emérito do Departamento de Sociologia depois.

Pierre Bourdieu

O docente lembrou de quando ganhou bolsa de estudos do governo francês para realizar o doutorado e escolheu como orientador Pierre Bourdieu. 

“O relacionamento com o orientador Pierre Bourdieu, antes do arranque em trajetória meteórica, merece registro pela iniciação provocativa ao ofício de sociólogo, pelo intercâmbio afetivo, pelo apoio à edição da tese em francês, pela aposta no trabalho do único doutorando não europeu. O enlace pessoal repercutia na voltagem da empreitada. No embalo, quero consignar o reconhecimento a Fernando Henrique Cardoso [professor emérito do Departamento de Ciência Política e ex-presidente da República (1995-2002)], pela acolhida do doutorado na coleção Corpo e Alma do Brasil pelo selo Difel”.

Falou da docência em algumas instituições, como na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); no projeto que coordenou A História das Ciências Sociais no Brasil, em meados de 1986, no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IDESP), que rendeu monografias, teses de inúmeros colaboradores, e os dois volumes de uma obra com o mesmo nome do projeto, que esteve à frente na sua volta para a São Paulo.

Ele citou alguns nomes do Departamento de Sociologia, em reverência a todos os integrantes do mesmo. “Presto o reconhecimento à equipe na figura da amiga e colega, Maria Arminda do Nascimento Arruda, presente em lances chaves de carreira. Próximos desde o convívio como docentes na Fundação Getúlio Vargas, Arminda intermediou junto a Eva Blay as tratativas que me trouxeram à Universidade de São Paulo. Por conta do interesse comum em sociologia da cultura, partilhado pelos colegas Fernando Pinheiro e Luiz Carlos Jackson, trabalhamos em projeto temático Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] e nos volumes em parceria com os confrades argentinos na Universidade Nacional de Quilmes, liderados por Carlos Altamirano. Tais iniciativas consolidaram a área de sociologia da cultura em nosso departamento”.

Confidenciou ainda que o envolvimento nessa pesquisa propiciou o encontro com Heloisa Pontes, “companheira na vida e no trabalho, há mais de trinta anos. Desde aí, cumpre reiterar, o trabalho intelectual passou a se engendrar por meio dessa cumplicidade. Do começo até hoje, o que me foi dado viver, fazer, escrever, é indissociável de sua pegada. Graças pelo afeto e pela inteligência a me socorrer no sofrimento e na alegria”.

Por fim, sua atuação no campo editorial foi lembrada, com ênfase para o trabalho como diretor-presidente da Editora da USP (Edusp), a primeira passagem (1994-1999) e o retorno agora a convite da atual Reitoria. 

“A todos, muitíssimo grato pela alegria que me deram”, finalizou emocionado seu discurso.

No encerramento, o diretor da FFLCH passou a palavra à Maria Arminda, que encerrou a solenidade. “Agradeço a presença de todas e todos. Quando assistimos a homenagem e a consagração que a instituição acadêmica atribui aos seus grandes. Àquelas pessoas que marcaram e marcam nossa instituição”.

Presença 

Entre alguns nomes presentes na cerimônia, pode-se destacar muitos professores do Departamento de Sociologia da FFLCH, entre eles o ex-diretor da FFLCH (2012-2016), Sérgio Adorno; os professores eméritos Reginaldo Prandi, e Sedi Hirano, além de Eva Blay, já citada acima. 

Outros professores eméritos da Faculdade (e seus respectivos departamentos entre parênteses): Diana Luz Pessoa de Barros (Linguística), Fernando Antonio Novais (História), José Jobson de Andrade Arruda (História).

Da USP, marcaram presença a pró-reitora de Inclusão e Pertencimento da USP, Ana Lucia Duarte Lanna; e o diretor do Instituto de Geociências (IGc), Caetano Juliani. E representantes de outras instituições como a diretora de pesquisa emérita do Centre National de Recherche Scientifique (CNRS) da França, Helena Hirata; e o ex-reitor da Universidade Técnica de Moçambique (2008-2014), José Luís de Oliveira Cabaço.

Clique aqui para conhecer todos os docentes que já receberam o título de Professor Emérito da FFLCH. 

A cerimônia de concessão do título de Professor Emérito a Sergio Miceli pode ser assistida pelo link abaixo.