Revista aborda questões que precedem o movimento modernista brasileiro

Num momento de efervescência mundial, sob influência europeia, nossa intelectualidade contestadora implantou uma nova visão de arte

Por
Nilda Pais
Data de Publicação
Editoria

A nova edição da Revista Literatura e Sociedade, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada, da USP, já está no ar. 
O número 36 aborda questões que avivam e precedem o movimento modernista brasileiro, e que teve como marco a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em fevereiro de 1922. O recorte temporal proposto abrange principalmente o período que vai de 1911 a 1921.  A escolha visa contemplar questões relevantes que envolveram intelectuais e artistas no conhecimento e aprendizado das estéticas de vanguarda europeia, naquele início do século 20, em sintonia com problemas referentes à vida cultural brasileira.  O interesse em debater temáticas específicas, que afetavam o campo artístico, levou-os a aprofundar conhecimentos e garantiu diálogos consistentes na atualização e revitalização das ideias, facultando mudanças no âmbito daquele processo formador. O grupo que deu vida ao futuro movimento modernista atuou no campo das artes, da literatura, da história, da cultura. Dada a diversidade de problemas que nesse começo de século chacoalhou o país e o mundo, são muitas as entradas possíveis para entendermos dinâmicas do universo artístico que afetavam o referido grupo às vésperas da Semana. Com isso em vista, o texto escolhido como Introdução foi “Paródia e ‘Mundo do riso’”, artigo retomado de uma publicação de Boris Schnaiderman, de 1980. A atualidade das discussões que promove no âmbito do diálogo teórico-crítico, remete também a procedimentos de fundo, adotados   por   nossos   modernistas.   Os   demais   artigos   foram reunidos em cinco blocos, assim distribuídos:
1.Panorama crítico
Esse primeiro andamento traz análises interpretativas do período em foco, como se lê em “Mínima Maximaliana”, texto elaborado por Raul Antelo. Nesse mesmo vetor segue o artigo “Arruaceiros!” de Maria de Lourdes Eleutério.  Na sequência, considerando o marco cronológico, temos: 2. Oswaldiando. Esse outro núcleo contempla “O pirralho e o pré-modernismo”, texto em que Claudia Rio Doce discute questões relativas à revista O Pirralho (1911-1916), fundada por Oswald de Andrade.  Acolhe também “O livro de receitas: uma autobiografia precoce”, artigo apresentado por Vera Chalmers. Em 3. Pluralidades, encontram-se: “História literária antes de 1922, o caso de Ronald de Carvalho” de Laura Rivas; “O vetor do Curió: retratismo e congenialidade em A Boba, de Anita Malfatti”, de autoria de Rafael Vogt Maia Rosa; e “Nota sobre musicologia e modernismo” de Walnice Nogueira Galvão. No andamento seguinte, lê-se: 4. Notícias da Pauliceia: “O incontornável corpo da nação: reapropriações e heterodoxias futuristas em torno da Semana de Arte Moderna” de Roberto Vecchi; “Mário de Andrade entra em cena” de Maria Augusta   Fonseca.   A   última   parte   inclui: 5. Outros rumos, traz “Modernismo, Simbolismo e Regionalismo: a antropofagia particular dos ‘novos’ no Rio Grande do Sul”, texto de Ligia Chiappini; e, “Zigue-zague ideológico” de Tiago Ferro, encerrando esse conjunto de leituras. Aqui apresentamos nosso vivo agradecimento aos ensaístas colaboradores; a Miriam e Carlos Chnaiderman, que permitiram a reprodução do  texto de seu  pai nesta  edição  de Literatura  e Sociedade;  e  a Marilia de Andrade, que também nos concedeu reproduzir, na capa deste número da revista, a estampa do número 100 de O Pirralho, semanário que Oswald fundou em 1911. Manifestamos   ainda   nosso agradecimento pelo   trabalho   de Alessandro Santos de Lima, assistente editorial nesta edição da revista. Por fim, gostaríamos de destacar que este número 36 de Literatura e Sociedade rende homenagem ao crítico e colega Antonio Arnoni Prado, refinado pesquisador e estudioso do modernismo brasileiro, a quem tanto devemos, e que lamentavelmente faleceu em novembro de 2022.
 
A revista Literatura e Sociedade, vinculada ao Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, desde de seu primeiro número, publicado em 1996, tem como foco promover, acolher e publicar a produção de ensaios, palestras, depoimentos, traduções, resenhas e entrevistas, sobre questões fundamentais do fenômeno literário. Entre o escopo, a teoria dos gêneros, a interface entre a literatura e a sociedade, a literatura comparada, as relações entre a literatura e outras artes e áreas do conhecimento, a história da literatura, grandes autores e grandes obras, os métodos e as práticas de crítica literária. As submissões de artigos de doutores do Brasil e do exterior, ligados à área de Teoria Literária e Literatura Comparada ou áreas afins, são acolhidas em fluxo contínuo. A revista é composta por quatro seções principais:1. Ensaios: seção composta por ensaios, palestras e traduções, relacionados a eventos e atividades promovidas pelo DTLLC; 2. Rodapé: publica artigos, palestras e ensaios resultantes de pesquisas de professores doutores do Brasil e do exterior, ligados às áreas de Teoria Literária, Literatura Comparada ou afins; 3. Depoimentos: traz testemunhos, entrevistas e memórias de leitores exemplares; 4. Traduções e resenhas: reúne sinopses e resenhas de obras da área publicadas no Brasil e no exterior e também traduções inéditas. A periodicidade é semestral.
 
Com informações no site da revista.