FFLCH concede título de Professor Emérito a Philippe Willemart

Evento celebrou a carreira e as contribuições de Willemart como docente e pesquisador nas áreas de crítica genética e literatura e psicanálise

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Paulo Andrade
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Na quarta-feira, dia 12 de abril, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP realizou a cerimônia de diplomação do título de Professor Emérito a Philippe Willemart, docente do Departamento de Letras Modernas. O evento celebrou a carreira e as contribuições de Willemart como docente e pesquisador nas áreas de crítica genética e literatura e psicanálise. 

Willemart foi conduzido à mesa pelas madrinhas professoras Leyla Beatriz Perrone-Moisés e Telê Ancona Lopez. Completaram a mesa os professores Paulo Martins, diretor da FFLCH; Ana Paula Torres Megiani, vice-diretora da FFLCH; Álvaro Silveira Faleiros e Claudia Consuelo Amigo Pino, ambos do Departamento de Letras Modernas; Roberto Zular, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada; e Marie Marcia Pedroso, Assistente Técnica de Direção para Assuntos Acadêmicos.

O professor Paulo Martins ressaltou sua emoção em presidir a cerimônia e a honra de homenagear os representantes daqueles que formaram gerações de estudantes da Faculdade. “A cerimônia nos engrandece e mostra aquilo que nós somos. O grupo de professores eméritos é extremamente importante e significativo para a história da Faculdade. É uma honra para a Faculdade e para a sociedade brasileira. Este título é apenas um detalhe diante da sua trajetória”.

A professora Claudia Consuelo Amigo Pino, ex-aluna e ex-orientanda de Willemart, lembrou os diversos papéis do professor em sua vida, desde supervisor de estágio, orientador, avaliador de sua livre-docência, além de outros papéis não tão profissionais como companheiro de viagens, conselheiro e outros. Vinda de outra área, outra universidade e outro país, Willemart lhe estendeu a mão, indicou leituras, ajudou em conceitos da crítica francesa.

Como pesquisadora, ressaltou como Willemart lhe deu liberdade para pensar de forma autônoma, ainda que por vezes discordasse dos caminhos que sua pesquisa tomava. Em 2002, aprovada como docente de literatura francesa, reforçou a lição do já colega Willemart ao assumir vários cargos administrativos como forma de contribuir para o desenvolvimento da área de francês dentro do Departamento.

Crítica genética

Pino relatou o contato do professor com a área de crítica genética, que estuda os processos de criação de escritores e artistas a partir da análise de documentos diversos. 

Willemart teve contato com essa área no início dos anos 1980, em Paris, durante seu pós-doutorado em literatura e psicanálise - até então sua área de estudos principal. A fascinação ao ser apresentado a um manuscrito "quase virgem" (quase nunca estudado) de Gustave Flaubert mudou sua perspectiva como pesquisador. Na ocasião, ele se dedicou à transcrição e estudo do manuscrito e, posteriormente, publicou artigos em importantes revistas estrangeiras.

Voltando ao Brasil, trabalhou na organização e desenvolvimento da área de crítica genética na FFLCH. Hoje, os frutos desse esforço são representados na Associação de Pesquisadores em Crítica Genética, que reúne pesquisadores de diversas instituições, e na Revista Manuscrítica, que começou a ser editada nos anos 1990. Para a professora, a crítica genética feita na FFLCH tem uma marca própria, diferente da que é produzida na França e em outros países.

O professor Roberto Zular, falando em nome do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada, lugar fundamental das ideias do homenageado, lembrou uma das grandes revoluções do pensamento de Willemart: considerar rasuras, anotações, roteiros, desenhos e outros documentos como parte de uma obra, mostrou que a obra publicada é parte de um processo muito mais amplo e complexo.

Willemart, segundo Zular, sempre estimulou alunos e orientandos, salientando a importância de seus trabalhos, viabilizando a participação em congressos, abrindo espaço nas aulas e transferindo a possibilidade de publicar livros em grandes editoras.   

Philippe Willemart

Philippe Léon Marie Ghislain Willemart nasceu em 1940 em Péruwelz, na Bélgica, e veio para o Brasil em 1966. Realizou graduação em Letras na FFLCH entre 1969 e 1972. Defendeu mestrado em 1974, com a dissertação Proposition pour une lecture de « La Cavale» d'Albertine Sarrazin, e doutorado em 1976, com a tese Albertine, au fil du texte. (Albertine Sarrazin), ambos trabalhos desenvolvidos na FFLCH.

Na França realizou dois pós-doutorados em momentos distintos: o primeiro entre 1981 e 1983, no Institut Des Textes Et Manuscrits Modernes; e o segundo em 2006, no Centre National de la Recherche Scientifique.

Como docente, ingressou na Faculdade em 1974, defendendo sua Livre-Docência em 1981, com o trabalho A pequena letra em teoria literária: expressão e produção da leitura psicanalítica

Atualmente é Professor Titular em Literatura Francesa na FFLCH (título obtido em 1988), além de orientar iniciação científica, dissertações e teses e outras pesquisas nas áreas de Letras e de psicanálise. Também coordena o Laboratório do Manuscrito Literário, o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Crítica Genética e o Centro de Estudos Proustianos, todos ligados à FFLCH.

Suas linhas de pesquisa são principalmente em crítica genética, literatura e psicanálise, sendo uma referência em estudos de autores como Marcel Proust, Jacques Lacan, Gustave Flaubert e Sigmund Freud. É autor de diversos livros, além de contribuir em obras de outros autores, artigos de jornais e revistas científicas. 

A organização Patrimônio belga no Brasil define Willemart como quem "introduziu a crítica genética no Brasil e favoreceu assim o interesse da crítica literária e artística para os manuscritos, os croquis, os esboços e o que antecede a obra editada ou exposta".

E o reconhece como "quem relançou a crítica literária proustiana pela publicação de suas obras sobre Em busca do tempo perdido e pela coordenação do projeto brasileiro de transcrição dos cadernos proustianos ligado ao projeto internacional coordenado por Nathalie Mauriac do Institut dos Textes e Manuscrits Modernes".

A íntegra da cerimônia pode ser assistida no canal da FFLCH no Youtube: