Autor do clássico Leviatã, o filósofo inglês inovou com a ideia de um Estado regulador da paz e provedor da civilidade entre as pessoas
Autor do clássico Leviatã, o filósofo inglês Thomas Hobbes influenciou decisivamente o pensamento político do século XVII com a ideia do Estado como regulador da paz e provedor da civilidade entre as pessoas.
A professora Silvana de Souza Ramos, do Departamento de Filosofia da FFLCH USP e pesquisadora de Ética e Filosofia Política, comentou a importância e o legado de Hobbes para o pensamento humano. Confira:
Serviço de Comunicação Social: Thomas Hobbes é conhecido pela sua obra-prima Leviatã, e quando falamos dele acabamos nos limitando a discutir a obra. Gostaria que você falasse brevemente qual sua importância para a ciência política no contexto do século XVII.
Silvana Ramos: Hobbes é um marco na filosofia e na ciência política por diversos motivos. Sua obra pode ser lida como um projeto racionalista que pretende não apenas explicar o conhecimento humano e a linguagem como também fornece um modelo para se pensar a origem do Estado.
Partindo da dicotomia entre estado de natureza e estado civil, o autor defende que antes da instituição do Estado os homens encontram-se numa condição de guerra de todos contra todos de modo que a sociabilidade pacífica e civilizada depende de convenções que permitam estabelecer um poder soberano ao qual todos respeitem.
O estado civil garante a vigência das leis civis de modo que todos têm interesse em respeitá-las para que a vida pacífica perdure, garantindo-se assim a segurança de cada um e a esperança de construir uma vida melhor.
Em nome dessa segurança, Hobbes mostra que os homens abrem mão de seu direito natural a tudo, isto é, a agir segundo julguem necessário à sua própria sobrevivência, para que tenham, no estado civil e sob um poder ao qual todos consentem, garantias jurídicas de proteção de seus direitos civis, desde que respeitem as leis.
Serviço de Comunicação Social: E que legado ele deixou para a ciência política? Há correntes de pensamento que se abriram e desenvolveram mais a partir das contribuições de Hobbes?
Silvana Ramos: Podemos dizer que Hobbes forneceu o conceito moderno de Estado, o qual articula a ideia de soberania - ao Estado subordinam-se todos os demais poderes, de modo que sua soberania é absoluta - à ideia de representação política. Essa formulação inaugura uma nova maneira de conceber o Estado.
Além disso, Hobbes transforma a tradição jusnaturalista ao conceber o Estado como fruto de convenções, tornado-o portanto obra humana, um artifício criado pelos homens com a finalidade de garantir a segurança de todos e o desenvolvimento econômico e cultural.
Antes, entendia-se que o Estado era o resultado de associações, tais como a família, e que, portanto, ele era consequência da sociabilidade natural dos homens.