Palestra analisa os desafios da universidade do futuro

O ministrante foi Luiz Bevilacqua, professor emérito da Coppe-UFRJ e ex-reitor da UFABC

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Eliete Viana
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mesa da palestra
(Da esq. p/dir) O professor do Departamento de Filosofia, Renato Janine Ribeiro; o vice-diretor da FFLCH, Paulo Martins; a diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda; e o palestrante Luiz Bevilacqua - Foto: Reprodução/Youtube da FFLCH


Com o título A universidade no século XXI: Decifra-me ou te devoro, o professor visitante do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP Luiz Bevilacqua ministrou uma palestra sobre a universidade do futuro, na manhã do dia 19 de setembro, no Salão Nobre do prédio da Administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

“A Faculdade tem tradição de debater as questões do mundo”, ressaltou a diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda, no início do evento, explicando a importância de apresentar o tema da palestra na Unidade.

A ideia do convite surgiu quando Maria Arminda participou do segundo Encontro de Professores da USP, realizado no dia 22 de agosto, no qual o docente foi um dos palestrantes e falou sobre o tema abordado.

O palestrante é professor emérito do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

Entre os cargos na área de administração acadêmica que que exerceu, destacam-se os de reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC), universidade que ajudou a implantar; diretor da Coppe-UFRJ, tendo participado da criação do programa de Engenharia Civil na instituição; vice-reitor acadêmico da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Além disso, ele foi secretário-geral do Ministério da Ciência e Tecnologia; diretor-científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj); e presidente da Agência Espacial Brasileira.

Graduação isolada

O docente iniciou sua palestra dizendo que “estamos vivendo hoje uma revolução nunca antes vista pela humanidade”. Segundo ele, apesar do mundo ter vivido outras mudanças e revoluções foi em um longo tempo, não em um “tempo comprimido” e na velocidade que as coisas se processam hoje. Em sua opinião, a universidade não é só formada pelos professores e/ou estudantes, pois “todos, estudantes, professores e funcionários se aproximam para formar uma comunidade do conhecimento”.

Um problema apontado pelo palestrante, é que a graduação ainda continua “isolada”, no sentido de ter pouca interdisciplinaridade entre as áreas e os cursos, porque a maioria dos cursos não mudaram. Para demonstração, ele citou a área de Engenharia [ele é graduado em Engenharia Civil pela UFRJ], em que se formou no final da década de 50 e que até hoje continua ensinando as mesmas disciplinas.

“A vida é um processo de transformação. Os eixos clássicos que sustentam a formação superior em ciência e tecnologia estão esgotados”, destacou o professor.

Papel

Para Bevilacqua, ao se pensar na universidade do futuro é preciso perguntar “qual é o nosso papel?, como o nosso ser acaba sendo influenciado por toda esta tecnologia que está a nossa volta”, reflexão que deve ser feita pelas Ciências Humanas e Sociais também.

Sobre a questão da privatização das universidades, ele ressalta que “não existe universidade no mundo que possa desprezar o investimento público. Por isso, não é possível se fazer pesquisa de ponta em uma universidade sem investimento do governo”.

E, ao final, o professor apresentou seis desafios da nova era: a organização tradicional da universidade está esgotada, não há muito tempo para pensar e decidir, é preciso assumir riscos; temos que estar prontos para rápidas mudanças de rumo; é necessário questionar as velhas regras e lutar por novos estatutos mais flexíveis e adequados à dinâmica do nosso tempo; é necessário achar uma prancha adequada [como a gente se comunica]; e de qualquer forma temos que estar preparados para cair e levantar.

Repensar

Um dos professores da FFLCH presentes na palestra, Renato Janine Ribeiro, do Departamento de Filosofia, falou sobre a importância da avaliação e da internacionalização dentro das universidades. Para ele, que foi coordenador de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), de 2004 a 2008, é importante que as avaliações tenham qualidade, mas não se pode somente “correr atrás delas”.

Sobre a internacionalização, afirmou que isso não acontece quando um pesquisador de uma universidade brasileira somente reproduz o que foi aprendido quando estudou no exterior, mas sim quando ele utiliza o conteúdo aprendido para realizar pesquisas com temas que sejam diferenciais dentro do nosso país.

O vice-diretor da FFLCH, Paulo Martins, lembrou que, nos últimos três meses, foi debatido o projeto acadêmico da Unidade para os anos de 2019 a 2023, no qual foram feitas várias reflexões levantadas na palestra.

A professora Mona Mohamad Hawi, presidente da Comissão de Graduação da FFLCH, disse concordar que os currículos da graduação estão engessados, sendo preciso inovar.

A diretora agradeceu a presença de Bevilacqua e ressaltou que a universidade e a faculdade precisam acompanhar as mudanças e também estar à frente das inovações. “Neste momento, no qual a Faculdade está se repensando, é importante discutir e refletir sobre estas questões. A Faculdade de Filosofia tem um papel importante nisso, pois é o maior centro de Humanidades do país”, comentou Maria Arminda.

Confira a íntegra da palestra no canal do Youtube da Faculdade.